Nós, entusiastas, geralmente não passamos muito tempo pensando em minivans – há muitos, muitos outros tipos de carros mais interessantes do que elas, do ponto de vista puramente gearhead. Contudo, para o consumidor médio – nem tanto no Brasil, e mais nos EUA e na Europa, mas isto não anula o ponto –, uma minivan “esportiva” pode ser uma proposta atraente. Um carro que satisfaça as necessidades diárias de uma família, claro, mas que também possa acelerar e fazer curvas razoavelmente bem e, talvez mais importante, pareça esportiva. Esse pessoal esqueceu mesmo que existem peruas…
Enfim: o ponto é que, hoje em dia, existe uma oferta palpável de minivans com motores potentes e visual agressivo.
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Na Europa, onde as minivans são culturalmente mais populares, há opções curiosas – como o VW Golf SportsVan, que é feito sobre a plataforma MQB e pode ser comprado na versão GT, com rodas de 17 polegadas e motor 1.0 TSI de 115 cv, acoplado a uma caixa manual de seis marchas. Oa VW Touran R-Line, que tem rodas de 18 polegadas, visual decididamente esportivo, e um motor 2.0 TDI com os mesmos 115 cv, mais câmbio de dupla embreagem e sete marchas.
Em outros países ocorre algo semelhante. Talvez você se surpreenda ao saber que a Honda Odyssey norte-americana por exemplo, só é vendida com um motor V6 3.5 de 280 cv e é capaz de ir até os 100 km/h em 6,8 segundos. O modelo japonês não é tão potente, mas também não faz feio – seu motor é o K24, famoso por seu potencial de preparação, calibrado para entregar 177 cv.
Porém, mais surpreendente ainda seja a minivan Nissan Serena – que, acredite se quiser, está disponível no Japão com um pacote Nismo, inspirado pelo Nissan GT-R Nismo. Ou seja, carroceria branca, teto preto, e detalhes em vermelho nos spoilers e saias laterais.
O motor é o mesmo de outras versões, com dois litros e 144 cv, acoplado a um câmbio CVT. Mas a Nissan Serena tem um sistema de escape exclusivo e suspensão com acerto mais firme.
Neste post, porém, viemos falar de uma minivan esportiva mais antiga – e, considerando o contexto, muito mais interessante. Trata-se da Mitsubishi Chariot Resort Runner GT, que foi desenterrada recentemente pelos americanos do site The Drive. Sim, o nome é longo, mas é só um detalhe: o que importa é que ela era uma minivan esportiva de verdade, com toda a mecânica do primeiro Lancer Evolution.
Lançada em 1983 e produzida no Japão até 2003, a Mitsubishi Chariot foi uma minivan comum a maior parte do tempo ao longo de suas três gerações – talvez você até tenha visto algum exemplar rodando no Brasil, onde ela foi vendida como Mitsubishi Space Wagon.
No entanto, nos anos 1990 a indústria automotiva japonesa era conhecida por sua criatividade e ousadia. Mesmo com o fim do “milagre econômico” na virada da década, as fabricantes não tinham medo de investir em versões de nicho, talvez sabendo que jamais teriam a oportunidade de colocar aquelas ideias absurdas em prática outra vez.
Foi na segunda geração da Chariot, em 1995, que a Mit resolveu dar a ela um pouco mais de punch. Eles provavelmente estavam empolgados com o desempenho e a competência do Lancer Evolution, que deu início a uma bela onda de vitórias no Campeonato Mundial de Rali, culminando com o título do finlandês Tommi Mäkinen na temporada de 1996.
Geralmente a Mitsubishi Chariot era equipada com o motor 2.0 4G63 naturalmente aspirado, que já entregava bons 170 cv. A tração era dianteira, e o câmbio podia ser manual de cinco marchas ou automático de quatro marchas. Até aí, tudo normal.
A Mitsubishi Chariot Resort Runner GT, porém, era bem mais radical – na prática,a Mitsubishi simplesmente transferiu o powertrain do Evo para a minivan, incluindo o 2.0 turbo 4G63T, o sistema de tração integral com gerenciamento eletrônico e o diferencial do sedã esportivo.
O motor era menos potente, é verdade – em vez de 270 cv, a Chariot ficava com “apenas” 230 cv; já o torque caía de 31,5 kgfm para 29,5 kgfm. Ainda assim, com câmbio manual de cinco marchas, a “Chariot Evo” ia de zero a 100 km/h em menos de sete segundos. Era bem mais que os 4,8 segundos que o Evo III levava para chegar aos 100 km/h, mas ainda era um tempo excelente para um carro de 1.500 kg que não foi concebido como esportivo.
Ainda mais porque, apesar do powertrain extremamente desejável, a Chariot GT ainda era uma minivan com toda a praticidade de uma minivan, com até sete lugares e um enorme porta-malas (quase 2.000 litros com os bancos traseiros rebatidos).
Os bancos dianteiros eram Recaro, iguais aos do Evo III RS. Por fora, não havia muito para identificar a versão especial além de adesivos nas laterais, uma bolha transparente sobre os ocupantes dianteiros (formando uma espécie de para-brisa panorâmico), e um aplique no para-choque dianteiro que, com uma boa dose de imaginação, remetia à dianteira do Evo.
É possível que você jamais tenha ouvido falar na Mitsubishi Chariot “Evolution” até agora (caso contrário, parabéns), o que só deixa evidente o quanto ela é rara, jamais tendo sido oferecida fora do Japão – e ocasionalmente exportada de forma clandestina para outros países de mão inglesa, onde certamente havia quem tivesse um gosto exótico o bastante para desejá-la. De todo modo, a Mitsubishi não voltou a fazer uma versão esportiva da Chariot.
Coincidentemente (ou nem tanto), a mesma receita foi aplicada pela Subaru, maior rival da Mitsubishi, em outro modelo não-ortodoxo: o crossover Forester, que na verdade é um dos poucos crossovers que apetecem aos entusiastas – uma perua elevada com tração 4×4 e visual robusto.
O Subaru Forester STi foi lançado em 2004 apenas para o mercado japonês, e usava o mesmo motor boxer EJ25 turbo do Subaru WRX STi, com 2,5 litros e 265 cv – e era capaz de ir de zero a 100 km/h na casa dos seis segundos baixos.