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Multas por desrespeito a ciclistas aumentam quase 200% em SP

Com as novas ciclovias inauguradas em São Paulo nos últimos anos, os ciclistas vêm ganhando espaços mais seguros para seu trajeto diário. Prova disso que é o número de acidentes fatais envolvendo ciclistas reduziu 62% nos últimos oito anos.

Mas enquanto o número de acidentes diminui, o número de infrações aumenta: no primeiro semestre de 2014, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) aplicou 10.263 multas por desrespeito aos ciclistas e ciclovias, ou 57 infrações por dia — quase o triplo das multas aplicadas no primeiro semestre de 2013. E esse número tende a crescer com o aumento das ciclovias previsto pela prefeitura até 2015 e também graças a uma nova forma de fiscalização.

Desde 2012, as infrações referentes a ciclovias são aplicadas somente pelos fiscais da CET. Com base na adaptação de três artigos do Código de Trânsito, a CET pune os motoristas que se aproximam demais das bicicletas, que as ultrapassam de forma perigosa e sem reduzir a velocidade ou que não esperam a passagem dos ciclistas antes de realizar uma conversão.

A intenção agora, é usar os mesmos sistemas de câmeras que fiscalizam o rodízio de veículos e as invasões às faixas de ônibus para multar os motoristas que não cumprirem as leis em relação às bikes. Todas elas são classificadas como gravíssimas, e rendem sete pontos na CNH, além da multa de R$ 574,62. Considerando o número de infrações cometidas neste primeiro semestre, a prefeitura já arrecadou cerca de R$ 5,9 milhões apenas com esse tipo de infração. E o número tende a aumentar.

Aqui chegamos à questão da “indústria da multa”, que tende a não existir sem matéria-prima. A questão talvez, tenha mais a ver com a adaptação que se está fazendo no trânsito para dar lugar às bikes do que um desrespeito intencional do motorista. Isso por que ao implementar uma ciclofaixa sem segregação física do fluxo de veículos, é preciso adotar imediatamente uma redução nos limites de velocidade.

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Como vimos em um outro post nosso, sobre os limites de velocidade, as vias têm uma velocidade operacional, que é aquela que os motoristas percebem como segura diante dos elementos do trânsito. Assim você tem motoristas condicionados a dirigir por determinada velocidade em uma rua que agora tem trânsito de ciclistas — e que pode levar os motoristas ainda não habituados a ultrapassar ciclistas sem reduzir a velocidade, especialmente em corredores mais movimentados, e consequentemente à infração por colocar o ciclista em risco.

Mais além, as ciclofaixas modificam significativamente a utilização das ruas, reduzindo locais de parada e estacionamento e até mesmo de entrada e saída de veículos. Um motorista não pode parar sobre a faixa exclusiva de bikes para esperar o portão abrir, ou até mesmo aguardar um espaço para entrar na via, obstruindo a passagem dos ciclistas sem estar sujeito às multas.

Mas a situação mais perigosa, talvez, seja a preferência do ciclista em conversões. Para um motorista ou motocilista, o trânsito normalmente flui mais rápido pela esquerda. Em uma rua de mão dupla ou faixa dupla, os condutores estão condicionados a não ter um veículo mais rápido à direita — a menos que haja uma ciclofaixa ou até mesmo um ciclista andando onde a lei o obriga a andar. Nesse caso, o risco de acidente é ainda maior, pois passa a haver um elemento onde normalmente não havia.

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Isso, logicamente, não isenta maus motoristas que agem agressivamente em relação a ciclistas e ciclovias. Mas também é precipitado dizer que há um desrespeito generalizado e deliberado por parte dos motoristas e motociclistas. Especialmente por que a formação dos condutores é incompleta, e sem um aprofundamento sobre a dinâmica do trânsito e do veículo, e exigindo apenas uma pontuação mínima sobre algumas poucas regras ligadas à sinalização e um mínimo sobre a relação entre veículos. Na prática, o Estado acaba tornando-se o carrasco dos maus motoristas que ele mesmo habilitou.

A intensificação certamente irá colaborar para a segurança dos ciclistas, mas enquanto houver motoristas habilitados sem uma preparação mínima, os acidentes e, principalmente, as multas, continuarão aumentando.

 

 

[ Fotos: Último Segundo, EM.com.br ]