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Muzilla: o Ford Mustang 1970 que é um Nissan GT-R

Não, a gente não escreveu “Mozilla” errado: é Muzilla, de Mustang + Godzilla. Por “Godzilla”, entenda-se “Nissan GT-R”; já “Mustang” é “Mustang” mesmo. Só que de Mustang este carro só tem a carroceria e o painel de instrumentos. Por baixo da lata, ele é um Nissan GT-R – monobloco, motor, transmissão, suspensão e freios, tudo vindo do superesportivo japonês. Não fosse pelo buraco no capô, que permite que se observe o coletor de admissão característico do motor VR38DETT, talvez o Muzilla até se passasse por um Mustang com carroceria widebody.

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Uma bela carroceria, aliás. O visual é o do Ford Mustang 1970, ano em que aconteceu uma das mudanças mais radicais no visual do pony car: os faróis foram deslocados para mais perto da grade, ladeados por pequenas entradas de ar próximas aos para-lamas. Era uma cara radicalmente diferente – e, na humilde opinião deste que vos escreve, até que funcionava bem, apesar de deixar o ‘Stang meio estrábico. Já para Jerry Fan, o dono do Muzilla, o Mustang mais bonito de todos era justamente o fabricado em 1970.

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O próprio Fan deu à Super Street Online uma breve descrição do Muzilla: o carro dos seus sonhos, com a capacidade dinâmica do Nissan GT-R e o visual clássico do Mustang 1970. E isto por si só é incrível, pois colocar uma carroceria antiga sobre uma estrutura moderna e conseguir um resultado estético minimamente harmônico é algo complicado: normalmente as proporções não “casam” direito e o resultado costuma ser uma traseira inchada, com os arcos dos para-lamas muito baixos em relação ao restante do carro ou uma área envidraçada pequena demais. Veja, por exemplo, este Mustang de quinta geração com painéis da carroceria do Mustang de 1969.

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Não fica tudo meio desproporcional? Com o Muzilla de Fan, contudo, o resultado foi bem mais feliz. Isto porque, em vez de verticalizar as proporções do carro, ele alargou os para-lamas para que a carroceria coubesse na base do GT-R.

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Fan não comprou um Mustang especialmente para o projeto: o carro já era dele. No início, ele havia pensado em preparar a suspensão e o motor para participar de track days, e a ideia de colocar a carroceria sobre um Nissan GT-R começou como uma piada entre Fan e seus amigos. Ao pesquisar as medidas dos dois carros, porém, ele descobriu que o entre-eixos de ambos era, na verdade, bem próximo: o do GT-R tem 2.780 mm e o do Mustang, 2.743 mm. O Mustang é ligeiramente mais longo no geral, com 4.762 mm de comprimento, enquanto o GT-R mede 4.656 mm, mas as medidas mais importantes eram compatíveis.

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Então Fan comprou um GT-R, e passou dois meses estudando suas dimensões para determinar as modificações que seriam necessárias na carroceria do Ford. Assim, ele viu que precisaria fazer os para-lamas sob medida – e os fez, modelando as peças no computador antes de fabricá-las do zero, em metal. A face traseira do carro ganhou uma chapa vazada entre as lanternas, que são mais modernas – assim como os faróis. No mais, o carro conserva as portas, acabamentos cromados, a grade dianteira original e as proporções gerais do Mustang.

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Por dentro é a mesma coisa: a maioria dos componentes de acabamento é original do Mustang de 1970, como o tabelier do painel e o console central, mas os revestimentos de porta foram feitos sob medida. O cluster de instrumentos do GT-R foi adaptado no lugar dos relógios de fábrica, e alguns comandos foram colocados no lado do passageiro. Talvez o resultado estético fosse mais interessante se o volante original do Mustang tivesse sido mantido e se os instrumentos tivessem um visual vintage – existem algumas opções interessantes no aftermarket que poderiam dar uma cara mais harmônica ao painel sem perder sua funcionalidade. No entanto, Fan não queria mais problemas com a elétrica do interior, pois acomodar tudo ali já havia dado bastante trabalho. Dito isto, não podemos criticar a presença de uma gaiola de proteção, indicativo de que o projeto é serious business.

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O motor foi mantido original (afinal, são pelo menos 552 cv no V6 biturbo de 3,8 litros), assim como câmbio, suspensão e freios. As rodas, porém, são da DPE, modelo DPE RS-L25, de 18×9,5 polegadas. Todas calçadas com pneus Toyo R888 de medidas 275/40 – que são bem bifudos, grudentos e complementam perfeitamente o restante do visual do carro.

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Não é o tipo de projeto que todo mundo curte: alguns fãs do GT-R e do Mustang provavelmente não gostaram muito de descobrir a identidade do Muzilla. E, de fato, estamos falando de uma troca bastante inóspita, de um V8 com comando no bloco feito nos Estados Unidos há quase 50 anos para um V6 biturbo com comandos nos cabeçotes feito no Japão. Mas, depois que o choque passa, até dá para admirar.

Fotos: Super Street Online