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Nem Fiesta, nem WRX: o mecânico do Ken Block dirige um Pontiac Trans-Am biturbo, isso sim!

A gente tem certeza de que muitos aqui sabem quais foram todos os carros que Ken Block, o acrobata metido a piloto (ou piloto metido a acrobata) que faz muito sucesso em seus vídeos da série Gymkhana, dirigiu: Subaru Impreza WRX, Ford Fiesta RS WRC, um Ford Mustang 1965 com motor V8 de 860 cv e até um Escort Mk2 1978. Mas você já parou para se perguntar que carro o mecânico dele pilota?

Bom, talvez não, mas você provavelmente imaginaria outro WRX, outro Fiesta ou qualquer coisa parecida com os carros do “patrão”. Bem, você estaria enganado, porque o neozelandês Gregg Hamilton preferiu algo bem mais americano: um Pontiac Trans Am 1979 modificado e equipado com um V8 biturbo — que ronca bonito demais, por sinal.

Se você já não sabia, lá vai: sendo uma versão especial do Pontiac Firebird, o Pontiac Trans Am sempre dividiu plataforma e até alguns painéis da carroceria com o Chevrolet Camaro, e foi assim até o último dia de sua existência, em 2002, quando saiu de linha. Ao contrário do que o nome sugere, o Trans Am não era um especial de homologação para a Trans-Am Series, categoria na qual competiam muscle cars americanos nas décadas de 1960 e 1970. Tratava-se de um pacote esportivo, com visual diferenciado, suspensão preparada e motor mais potente.

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Em 1979, a segunda geração utilizava um V8 de 6,6 litros (400 pol³) chamado 400 T/A. Com comando de válvulas específico, taxa de compressão mais alta e sistema de escape especial, o motor entregava 220 cv. Não parece muito, mas estamos falando de um muscle car fabricado no fim dos anos 70, quando o combustível ainda estava caro por causa da crise de 1973 e as leis para emissões de poluentes estavam especialmente rígidas.

Isto não significa, porém, que o Trans Am era um carro sem graça. Pelo contrário: em 1977, o muscle car ficou famoso ao aparecer no clássico “Agarre-me se Puderes” (Smokey and the Bandit), estrelando Burt Reynolds.

O protagonista é Bo “Bandit” Darville, um caminhoneiro que usa o Trans-Am preto com detalhes dourados para para desviar a atenção da polícia enquanto seu amigo Snowman dirigia um caminhão com 400 caixas de cerveja contrabandeada por 2.900 km, do Texas à Georgia. O filme ficou tão icônico que, até hoje, Reynolds faz questão de manter sua imagem associada ao Trans Am. Ele até teve uma réplica, que foi leiloada no ano passado pela Mecum Auctions.

E foi exatamente o Trans Am de Bandit a inspiração de Gregg quando veio morar nos EUA, há alguns anos, e decidiu que queria um muscle car.

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A decisão teve muito a ver com a carreira de Gregg. Seus pais tinham um casa de amigos cujo filho era funileiro, e a amizade acabou influenciando-o a aprender a arte de recuperar carros, também. Uma coisa levou a outra, e Gregg acabou se tornando mecânico. Ainda bem jovem, foi convidado para trabalhar em uma equipe de rali da Nova Zelândia… limpando vidros.

A experiência adquirida, porém, o levou mais longe: em questão de meses, Gregg se mudou para o Japão (que, não esqueçamos, fica pertinho da Nova Zelândia, onde trabalhou para a Toyota. O passo seguinte foi a equipe da Subaru — primeiro no Japão, e depois na Prodrive do Reino Unido, responsável pelo time de fábrica da marca na Europa. Dali, não demorou muito para que Gregg se mudasse para os EUA, onde trabalhou primeiro para a Subaru. Quando Block foi trabalhar com a Ford, Gregg foi junto.

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Nos EUA, ele finalmente pôde realizar o sonho de infância de ter um carro com motor V8, câmbio manual e tração traseira. “Eu tive um Subaru por um tempo, mas a última coisa que eu queria era modificar um Subaru. Precisava ser algo diferente.” Sendo um dos moleques que assistiram Burt Reynolds na tela do cinema, Gregg logo decidiu que teria um Trans Am como aquele.

O carro foi comprado depois que Gregg viu um anúncio na Internet e, impulsivamente, foi buscar o carro sem ao menos tê-lo visto de perto. Era um Trans Am 1979 íntegro, porém precisava de um belo trato na mecânica e no visual. Foi o que o mecânico tratou de resolver logo, exatamente nesta ordem — primeiro, recondicionou toda a parte mecânica. Depois, veio a estética: trocar a dianteira do modelo 1979 pela do Trans Am 1978 (mais parecido com a do carro de Smokey and the Bandit), pintar o carro de preto (ele era marrom), alargar os para-lamas e fazer uma asa traseira maior, para ficar tudo mais proporcional.

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Recentemente, o Trans Am recebeu um motor small block Chevrolet de 5,3 litros (350 pol³) utilizado nas picapes da marca. Além de alguns componentes melhorados, como o comando de válvulas e os cabeçotes, e um sistema de injeção eletrônica, o carro recebeu dois turbocompressores operando a 0,7 bar. Gregg diz não saber números exatos porque este não é o ponto de seu projeto, mas acredita que seu Trans Am seja tão veloz quanto um Chevrolet Corvette Z06 — sim, aquele com um V8 supercharged de 658 cv que leva três segundos para acelerar até os 100 km/h.

Em termos de suspensão, o carro só recebeu um conjunto mais firme e barras estabilizadoras mais grossas. Gregg jamais pensou em fazer um carro de pista e também não planejou cada aspecto do projeto. As modificações foram feitas naturalmente, com uma coisa levando a outra — o carro era onde Gregg despejava toda a criatividade que não servia para os carros de Ken Block.

Aliás, ele diz que grande parte do prazer de um project car, talvez até mais que dirigi-lo, é fazê-lo com suas próprias mãos: procurar peças, estudar a melhor maneira de realizar determinada modificação, ver inspiração em outros carros. “É fácil jogar uma montanha de dinheiro no carro quando se tem uma montanha de dinheiro, então eu gosto de fazer as coisas sozinho. É uma das coisas que eu mais gosto.”

Sábias palavras, Gregg. Sábias palavras.

[ Fotos: Jeremy Heslup/Valkyr Productions ]