No fim de 2017, a Nissan anunciou que sua divisão esportiva, a Nismo, voltaria a fabricar componentes para seu modelo mais emblemático: o Skyline GT-R. Inicialmente o projeto, chamado Nismo Heritage Parts, cobriria apenas componentes para a geração R32 – a primeira, lançada em 1989, mas um ano depois as gerações R33 e R34 foram incluídas no programa.
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Não é fantástico? Até pouco tempo atrás, os interessados em manter seus carros originais só poderiam recorrer a ferros-velhos ou intermináveis pesquisas na Internet à procura de peças usadas. E estavam sujeitos à especulação do mercado, visto que nos últimos dez anos a demanda por componentes dos clássicos japoneses da década de 1990 aumentou exponencialmente – assim como o preço.
Nos últimos meses a variedade de componentes disponível pelo programa Nismo Heritage Parts aumentou bastante. Começou com para-choques, polias, emblemas e linhas hidráulicas, mas em pouquíssimo tempo o catálogo se expandiu para incorporar peças de outros sistemas do carro e também itens de acabamento raros que já não são fabricados, como botões do painel e comandos dos vidros elétricos.
Agora, porém, a Nismo Heritage Parts decidiu surpreender: eles incluiram 24 novas peças no catálogo, o que elevou o total de itens disponíveis a 124. E entre elas está nada menos que o motor RB26DETT – bloco e cabeçote. Lembra quando dissemos que era absurdo exigir que a Toyota colocasse o motor 2JZ no novo Supra, pois ele deixou de ser fabricado há 12 anos? Pois o RB da Nissan já não é fabricado há 15 anos.
A diferença é elementar: no caso do RB26DETT, a intenção não é colocá-lo em um novo GT-R – este carro já existe desde 2007, e ao longo de 12 anos estabeleceu uma excelente reputação para seu V6 biturbo de 3,8 litros, o VR38DETT. A ideia é facilitar ainda mais a vida de entusiastas que possuem um GT-R R32 como project car: agora eles podem adquirir, direto da fonte, um RB26 novinho, na garantia, pronto para ser instalado.
O motor RB26DETT é parte da família RB da Nissan, que compreende motores de seis cilindros em linha com deslocamento de dois (RB20) a três (RB30) litros. Mas também é o mais emblemático deles por suas modificações de desempenho. Mais ou menos da mesma forma que o 2JZ, o RB26 é um motor overengineered, concebido com potencial para muito mais potência do que os 280 cv anunciados há 30 anos. Até porque, na prática, a potência real ficava na casa dos 330 cv – como é bem sabido, o número declarado era menor por conta de um acordo de cavalheiros entre as fabricantes japonesas na época.
O RB26DETT tinha bloco de ferro fundido e cabeçote de alumínio, com quatro válvulas por cilindro e comando duplo. Ele tinha algumas características especiais em relação aos outros RB, sendo o único com corpos de borboletas individuais, dois turbocompressores Garrett T25 operando em paralelo a 0,7 bar, atuadores de válvula sólidos e válvulas preenchidas com sódio (o que ajuda a manter sua temperatura mais baixa). O bloco do RB26DETT também possuía algumas especificidades em relação aos outros RB, como as galerias de passagem de óleo e os encaixes para a junta do cabeçote – que também era exclusivo para a versão biturbo de 2,6 litros.
Ao longo dos anos, uma vasta seleção de componentes aftermarket para o RB26DETT foi desenvolvida – incluindo blocos em billet de alumínio, cabeçotes com melhor fluxo, componentes internos forjados e kits stroker (algo que a própria Nissan fez com o RB28DETT, de 2,8 litros e 500 cv, usado no Skyline GT-R R34 Nismo Z-Tune).
O preço dos componentes novos também é um atrativo: para se ter ideia, um bloco usado de RB26DETT custa, em média, US$ 3.500. O bloco novo feito pela Nismo Heritage Parts custa o equivalente ¥ 170.000, ou o equivalente a cerca de US$ 1.500, e pode ser adquirido pela Internet ou, para os clientes japoneses, em uma concessionária Nissan sob encomenda.
Além do bloco e do cabeçote do RB26DETT, entre os componentes do Skyline GT-R R32 incluídos agora no catálogo da Nismo Heritage Parts estão componentes da carroceria, como o painel traseiro (incluindo para-lama e coluna C) e o teto; para-choque traseiro; chicote elétrico; abafador traseiro e bomba de combustível. Já era possível comprar mangueiras de arrefecimento, reforços dos para-choques, flexíveis para os freios, reforços metálicos dos para-choque e botões dos vidros elétricos.
A chegada dos novos componentes abre possibilidades interessantes. Por exemplo, quem possui alguma outra versão do Skyline e R32 e quer convertê-lo em “GT-R” não vai precisar procurar uma sucata ou vasculhar sites de classificados.
Será possível pegar um GTS-T, por exemplo – versão cupê que vinha com o motor RB20DET, seis-em-linha de dois litros com um único turbo e 170 cv – e transformá-lo em um GT-R quase completo usando o RB26, os para-choques e os para-lamas traseiros. Vão faltar a grade e os para-lamas dianteiros (que no GT-R eram mais largos) mas a Nismo Heritage Parts não deve demorar para incluí-los no programa. Que fique de exemplo para outras fabricantes.