O Salão de Detroit começou ontem e a Ford entrou com os dois pés no peito ao apresentar um supercarro totalmente novo com um nome para lá de conhecido. A maior surpresa, talvez maior até que o lançamento do carro em si, foi o fato de alguns boatos terem se espalhado nos últimos meses e a Ford tê-los confirmado! Seja sincero: quem esperava um supercarro da Ford logo nos primeiros dias de 2015?
Mas não foi só isso o que a marca azul levou ao Salão: também fomos apresentados ao Mustang mais rápido de todos os tempos em uma pista e à nova picape F-150 Raptor. Vamos nessa?
É óbvio que vamos começar com a maior novidade de todas: o novíssimo Ford GT, que faz parte da investida da Ford para expandir sua nova linha Ford Performance, que terá 12 modelos até 2020.
Ele é exatamente como os boatos diziam: um supercarro com motor V6 Ecoboost atrás dos bancos e na frente do eixo traseiro, com “mais de 600 cv”. Quer detalhes? Vamos te dar detalhes.
O motor do novo supercarro da Ford é um V6 biturbo (!) de 3,5 litros cuja arquitetura é baseada nos motores dos protótipos Daytona, com os quais a Ford compete no campeonato de endurance da IMSA. Ainda não há especificações técnicas, mas a Ford declarou que ele tem “mais de 600 cv”. E o conceito mostrado no Salão tinha muito mais coisas para ver.
Para começar, ele já chegou causando: a Ford tinha um espaço vazio no centro do estande, ladeado por um Ford GT40 MkII e um Ford GT moderno — um clima de mistério, mas os mais atentos já desconfiavam de alguma coisa. Então, exatamente no momento da apresentação do novo Honda NSX (que acontecia no estande da Acura, divisão americana da Honda), ele chegou, de fininho, roncando grave (como se fosse um V8) e entortando o pescoço de muita gente. Que bela provocação, hein?
De fato, o novo NSX já é relativamente conhecido — afinal foram sete anos de conceitos e teasers —, mas o Ford GT é totalmente novo. Ninguém sequer imaginava como ele poderia ser. E que visual ele tem! Como o Ford GT da década passada, ele procura ser uma evolução futurista do modelo que correu (e venceu) em Le Mans na década de 1960, mas a inspiração é bem mais suave. O carro parece maior, tem linhas bem mais ousadas e não deixa nada a desejar em termos de visual aos hipercarros mais modernos, como a LaFerrari e o P1. Dá só uma olhada nessas formas:
Contudo, seu apelo é bem diferente: ele não tem a tecnologia híbrida nem potência perto dos 1.000 cv — o motor é um só, e funciona queimando gasolina para entregar potência às rodas traseiras, como deus mandou. Com mais de 600 cv, o V6 biturbo é alimentado por um novo sistema de injeção direta em conjunto com um sistema multiponto tradicional. Para a gente, é um belo exemplo do de downsizing feito do jeito certo, afinal este é o motor Ecoboost mais potente da história — ainda que parte de nós vá sentir falta do tradicional V8 americano naturalmente aspirado.
Complementando a potência, há o baixo peso. A Ford não economizou nos materiais leves, incluindo fibra de carbono e alumínio na carroceria, que usa de aerodinâmica ativa, como um spoiler traseiro ajustável. Segundo a fábrica, a carroceria leve, com compósitos de última geração foi essencial para conseguir o melhor em aceleração, dinâmica, frenagens, segurança e eficiência. Ela também garante que a relação peso-potência é uma das melhores do mundo.
O novo Ford GT é construído em volta de um habitáculo de fibra de carbono, com subchassis dianteiro e traseiro de alumínio e carroceria do tipo monobloco de fibra de carbono. As formas da carroceria foram inspiradas pela fuselagem dos aviões e, segundo a Ford, cada linha, curva e reentrância tem a missão de reduzir o arrasto aerodinâmico e contribuir para o downforce.
A inspiração nas aeronaves pode ser notada pelo formato da cabine, que lembra um canopi e vai se estreitando ao longo do carro. As portas abrem para cima, e a coluna “C” vazada é simplesmente pornográfica. A dianteira tem identidade visual própria, lembrando tanto o Ford GT40 quanto sua reinterpretação moderna, porém deixa claro que já se passaram mais de dez anos, enquanto a traseira nunca foi tão agressiva, com duas lanternas circulares nas extremidades e duas saídas de escape gigantescas no meio.
A suspensão usa um sistema pushrod e tem altura ajustável, enquanto as rodas de 20 polegadas (que abrigam discos de freio de carbono cerâmica) são calçadas com pneus Michelin Pilot Super Sport Cup 2 que usam um composto específico para o carro.
Ao entrar nele — depois de levantar as belas portas tesoura —, dá-se de cara com um interior bastante moderno que, ao contrário do modelo anterior, quase não traz referências ao interior do GT40 clássico. Em vez disso, há espaço suficiente para duas pessoas, um painel digital e a terceira geração do sistema multimídia Ford SYNC.
O volante traz (que a Ford diz ser semelhante ao de um carro de Fórmula 1) traz diversos botões que comandam funções do carro e, atrás dele, ficam as borboletas para mudar as sete marchas do câmbio de dupla embreagem montado atrás do motor — because racecar.
Com tudo isto, o novo Ford GT será o carro mais extremo da linha Ford Performance — sim, porque, caso você ainda duvide, ele será produzido, começando no fim de 2016.
Se você já está imaginando uma versão depenada de corrida, não se preocupe: estamos juntos nessa.
E o Ford GT, como já dissemos, não foi sozinho: trouxe consigo o novo Shelby Mustang GT350R e a nova picape Raptor, que se juntarão a modelos como o Ford GT, Fiesta e Focus ST,que estavam no salão também; e o Focus RS, que não estava…
O Shelby GT350R é uma versão ainda mais rápida do já bem veloz GT350 2015. É exatamente como em 1965 — há exatos 50 anos —, quando Carroll Shelby apresentou uma versão de competição de seu GT350 com interior espartano, suspensão reajustada, novo diferencial e um motor V8 de 360 cv no lugar do usado nas versões de rua, de 271 cv.
Marcado para chegar até o fim do ano, o novo GT350R conserva as principais (e melhores) características do GT350 de rua — este que, para se ter uma ideia, veio para brigar não apenas com muscle cars, mas com esportivos europeus modernos (leia tudo sobre ele aqui). O motor é o mesmo V8 de 5,2 litros com virabrequim plano, mas desta vez preparado para entregar “mais de 500 cv” e mais de 55 mkgf de torque em vez de “pelo menos 500 cv”; e o diferencial traseiro do tipo Torsen tem deslizamento limitado e relação 3,73:1.
Agora vamos falar do que ele tem de diferente (e melhor ainda). Primeiro: rodas de fibra de carbono — que, até então, só eram oferecidas em modelos exóticos de produção limitadíssima, como o Koenigsegg One:1, e reduzem a massa não-suspensa, amenizando os efeitos da inércia na estabilidade do carro, mesmo medindo 19 x 11 polegadas na dianteira e 19 x 11,5 na traseira. Os pneus, como no novo Ford GT, são Michelin Pilot Super Sport Cup 2 e também usam um composto exclusivo.
O Shelby GT350R também perdeu algumas coisas em nome do baixo peso. E a lista até que é grande: o carro perdeu ar-condicionado, rádio, banco traseiro, tapetes, revestimento do porta-malas, câmera de ré e o kit de reparo para pneus furados, além dos abafadores do escape — sendo que a perda destes últimos, além de reduzir peso, acabou melhorando o ronco do motor. O resultado: menos 68 kg na balança, ainda que não saibamos o peso exato do GT350.
O visual também mudou, com a adição de novos aparatos aerodinâmicos: um splitter frontal revisado e uma nova asa traseira de fibra de carbono — ambos projetados para aumentar a downforce. A saída de ar no capô, o difusor traseiro e os dutos de ar nos para-lamas e nos arcos das rodas para reduzir a turbulência permanecem os mesmos.
Para melhorar a dinâmica, a suspensão recebeu ajustes finos exclusivos e componentes modificados, como molas, barras estabilizadoras, buchas e amortecedores magnéticos recalibrados.
Depenado, leve, mais potente, certamente, ainda melhor nas curvas e… legalizado para as ruas. Sim, apesar de ter sido feito para as pistas — e mirar direto no Camaro Z/28 e seu recorde de Nürburgring Nordschleife, o GT350R será totalmente legalizado para andar nas ruas. Quem se importa em ficar sem música, mesmo?
A terceira grande novidade da Ford em Detroit foi a nova geração da picape F-150 Raptor (que não usa mais o sobrenome SVT, tendo sido incorporada à Ford Performance). Sem dúvida, a grande novidade da F-150 2015 é o fato de a picape ser toda feita de alumínio — cabine e carroceria. A estrutura, porém, permanece um chassi de aço de alta resistência.
No caso da Raptor, a carroceria de alumínio significa uma economia de peso de cerca de 220 kg (!) — de 2.720 kg para 2.500 kg. Contudo, há uma novidade ainda maior — ou menor, se levarmos em conta o deslocamento e a quantidade de cilindros. Sim, a Raptor perderá o V8 de 6,2 litros, 416 cv e 60 mkgf em favor de um V6 Ecoboost de 3,5 litros que promete ainda mais força, embora não existam informações sobre potência ou o tipo de indução forçada. O câmbio também muda — sai o automático de seis marchas, entra o automático de dez (!!) marchas.
A Ford também destaca a suspensão retrabalhada da picape, com amortecedores recalibrados e de maior curso (um aumento de cerca de 7 cm) da Fox Racing, e os pneus BFGoodrich All-Terrain KO2 calçam rodas de 17 polegadas.
No estande da Ford, que era gigantesco, ainda marcaram presença o novo Focus ST, com seu 2.0 turbo Ecoboost de 250 cv, e o irmão menor Fiesta ST, além do Shelby GT350, um Mustang GT e até um motor do Ford GT40 que venceu LeMans! As fotos você confere a seguir.