Ontem (2) aconteceu a revelação de um dos carros mais esperados do ano: o novo Honda Civic Type R que, após meses de teasers e informações a conta-gotas, mostrou seu visual definitivo e entregou o jogo: 310 hp, 40,7 mkgf de torque e o objetivo de se tornar o novo rei da tração dianteira no Nürburgring Nordschleife. Agora, a Honda soltou um vídeo para provar que ele já conseguiu – ou quase isto.
Vamos recapitular: no ano passado, a briga pelo recorde de tração dianteira no Inferno Verde foi bem agitada. Primeiro, há exatos quatro anos, o Seat Leon Cupra 280 percorreu o circuito alemão em 7:58.4 e tomou o trono do Renault Mégane RS Trophy 265 – que era de 8:07,97 – e também tornou-se o primeiro carro de tração dianteira a fazer isso em menos de oito minutos.
Pouco mais de três meses depois, o Mégane ganhou 10 cv – passando a se chamar RS Trophy 275 – e recuperou o recorde ao virar 7:54,36, tornando-se o rival a ser batido pelo Civic Type R.
A missão do Civic não era novidade — lá em 2013, a Honda “vandalizou” o ‘Ring no teaser abaixo, como se estivesse marcando território:
Bem, foi o que eles fizeram: em maio de 2014, uma versão de pré-produção do Type R foi enviada à Alemanha para ver se todo o período de desenvolvimento no Inferno Verde havia dado resultado. Agora, o vídeo da volta completa foi finalmente divulgado. O que achamos? Bem, assista primeiro:
O que temos aqui é, como você já deve ter decorado, um (very) hot hatch com motor de dois litros turbo, comando variável VTEC e câmbio manual com alavanca bem próxima ao piloto e engates curtos e precisos como todo Civic (ainda mais um tão extremo quanto este), percorrendo os mais de 20 km do Nordschleife em 7:50,63 – quase quatro segundos a menos que o Mégane RS Trophy 275. Também são sete segundos a menos que o Porsche Panamera Turbo S (7:57), quatro segundos a menos que o Nissan GT-R em 2008 (7:54) e exatamente o mesmo tempo do BMW M3 CSL E46 e do Porsche 911 Carrera S em 2009. Quer mais? Então saiba que o novo Civic Type R é só seis segundos mais lento que o Mercedes-Benz SLS AMG que, em 2010, virou 7:44.
O piloto, a julgar pelo capacete, é Christian Menzel, alemão com uma longa carreira que inclui campeonatos nacionais de kart, uma vitória nas 24 Horas de Nürburgring em 1998 ao lado de Hans-Joachim Stuck em um BMW 320d, e mais de dez anos em campeonatos monomarca com o Porsche 911. O cara conhece o Inferno Verde como poucos.
O carro, naturalmente, também faz a sua parte com maestria: nota-se que a caixa de direção tem relação muito direta e, aparentemente, é bastante comunicativa. O subesterço, ponto crítico de todo carro de tração dianteira na pista, se faz presente, mas a equipe técnica da Honda parece ter feito um excelente trabalho para minimizar seus efeitos — no vídeo você percebe a dianteira escorregar, mas de forma muito sutil.
Também dá para notar que a suspensão — que usa um sistema McPherson com uma manga de eixo adicional para reduzir o esterçamento por torque e amortecedores adaptativos — tem sua calibragem feita para acelerar na pista: a carroceria quase não rola nas curvas mesmo no limite, e a aspereza nas zebras mostra que conforto no dia-a-dia não foi a prioridade máxima, e sim a dinâmica, que ficou afiadíssima. A menos que esta seja uma suspensão especial para o tempo de volta.
Agora, não podemos deixar de fazer algumas observações pertinentes. Primeiro, o ronco: ele continua selvagem, mas o turbocompressor o deixou um tanto abafado — aquele berro rouco e agudo característico dos Honda esportivos deu lugar a uma voz mais grave, complementada pelos assovios do turbocompressor. O regime de trabalho do motor não foi divulgado mas, a julgar pela faixa vermelha do conta-giros, que vai de 7.000 a 8.000 rpm, pode-se apostar com relativa segurança que o corte acontece por volta das 7.500/7.800 rotações. Menos que a tradição, é claro, mas esta é uma característica de motores turbinados. Vamos ter que aprender a conviver com isto.
Segundo, e mais importante: este carro não é o Honda Civic Type R que vai aparecer nas concessionárias.
Como já dissemos, trata-se de uma versão de pré-produção (ainda que a Honda diga que já no estágio final de desenvolvimento), com gaiola de proteção e alguns dos equipamentos removidos (banco do passageiro, ar-condicionado e sistema de som, por exemplo).
A marca faz questão de dizer que a remoção dos equipamentos foi compensada pelo peso da gaiola de proteção, e que a instalação se deu por razões de segurança, e não para aumentar a rigidez do carro. Como bem observa o Bridge to Gantry, site especializado em tempos de volta em Nürburgring, existe a possibilidade de a Honda ter usado buchas para isolar a gaiola da cabine e, assim, anular qualquer benefício à rigidez da carroceria, mas nada foi dito pela companhia neste sentido.
Também não há informações precisas a respeito dos pneus – a Honda só fala que são pneus de rua, com medidas 235/35, “de uma grande fabricante europeia”, desenvolvidos especialmente para o Type R.
Dá para dizer, então, que o Civic Type R é o novo recordista de tração dianteira em Nürburgring? Sim e não – afinal, é de fato um Civic Type R com pneus de rua, mas interior espartano e diferente do carro que será vendido nas lojas.
De qualquer forma, a Honda já se comprometeu a levar um Type R de produção ao ‘Ring, ainda neste ano, e dar uma volta ainda mais rápida e assim, validar seu recorde de uma vez por todas. Sendo um carro tão extremo e potente, não duvidamos que eles consigam — afinal, o Civic é um carro com tradição em circuitos rápidos e desafiadores como o ‘Ring, que, em muitos aspectos, lembra as touge japonesas (estradas sinuosas nas montanhas onde o Civic e outros carros japoneses fazem a festa).
Até lá, porém, o tempo real continua sendo um mistério e ainda é cedo para afirmar com todas as letras que o Civic Type R é, de fato, o novo rei da tração dianteira em Nürburgring.