Lançado em 2008, 0 primeiro Tesla Roadster era, de certo modo, um Lotus Elise elétrico. Elon Musk pegou um dos carros mais adorados pelos entusiastas à moda antiga – e um dos mais divertidos de guiar já feitos pelo ser humano – e o transformou em um roadster elétrico de US$ 110 mil, ou US$ 40 mil a mais que um Nissan GT-R do mesmo ano. Nove anos depois, em novembro de 2017, Musk apresentou de surpresa a segunda geração do Tesla Roadster. Que, agora, não é mais um Lotus Elise com motor elétrico e vai custar US$ 200.000. Em compensação, ele promete ir de zero a 100 km/h em dois segundos.
Na verdade, o novo Tesla Roadster foi apesentado de surpresa: o evento realizado ontem (16) em Los Angeles, até onde se sabia, seria a apresentação de um caminhão. Que foi apresentado, aliás, e parece, bem… um caminhão da Tesla, e é capaz de acelerar de zero a 100 km/h em cinco segundos.
Enfim: não foi a única surpresa do dia. Os números exatos foram os seguintes: 0-96 km/h (0-60 mph) em 1,8 segundos, 0-160 km/h em 4,2 segundos, quarto-de-milha em 8,9 segundos. A velocidade máxima não foi dita, mas ficará acima dos 400 km/h segundo Musk.
Se o 0-96 km/h será cumprido em 1,8 s, é plausível deduzir que o 0-100 km/h ficará mais ou menos nos dois segundos. Só para te situar melhor: o primeiro Tesla Roadster ia de zero a 100 km/h em 3,9 segundos e tinha velocidade máxima de 201 km/h.
Enfim: se cumprir suas promessas, o novo Tesla Roadster será o carro produzido em série mais rápido do mundo em aceleração, o que não é pouca coisa. Saca só: um carro do WRC, com motor turbo de cerca de 300 cv, vai de zero a 96 km/h na casa dos três segundos. O Bugatti Chiron tem um W16 quadriturbo de 1.500 cv e leva 2,5 segundos para fazer a mesma coisa. O Dodge Challenger SRT Demon e seu delicioso V8 supercharged de 850 cv conseguem em 2,3 segundos. Os carros de Fórmula 1 atuais vão de zero a 96 km/h em algo entre 1,9 e 2,1 segundos. Os carros de Global RallyCross, que costumam ter motores turbinados de até 600 cv, chegam aos 96 km/h tão rápido quanto um F1. E Elon Musk diz que o novo roadster fará o mesmo.
Fica difícil de crer, não? Nós já vamos discutir mais a respeito. Vamos falar um pouco mais sobre o carro antes.
Desde 2014 a Tesla prometia um sucessor para o Roadster, mas o mesmo foi atrasado pelo lançamento do Model S, do Model 3 e do Model X. Musk nunca foi muito ligado aos prazos que ele mesmo estabelece, e diz que prefere atrasar o lançamento e apresentar um bom produto, do que cumprir o prazo e aparecer com algo inacabado.
Quer dizer, o novo Tesla Roadster ainda é um conceito, mas é bem provável que o modelo de produção não seja muito diferente. E Elon Musk garante que ele será capaz de cumprir todas as promessas. O visual é mais agressivo do que nos outros carros da Tesla, com faróis mais “bravos” e fundos, alguns vincos na dianteira nas laterais e lanternas altas, que se resumem a uma fina tira de LEDs em cada uma das extremidades da face traseira. Há uma asa traseira retrátil, como em praticamente todo esportivo de motor central-traseiro. O teto de vidro, marca registrada dos Tesla, inclui aqui uma seção central retrátil que faz do novo Roadster um targa, na prática.
O Roadster é um carro bonito, que lida melhor com a ausência da grade dianteira do que os outros Tesla.
Mais importante que estas minúcias, no entanto, são as especificações técnicas. O que é uma pena, porque nesta parte a Tesla foi bem econômica. Musk disse que o Roadster tem um conjunto de baterias de 200 kWh e autonomia de 620 milhas (ou cerca de 1.000 km) com uma única carga. O carro também tem três motores, um na dianteira e dois na traseira, um para cada roda.
O Tesla Roadster começará a ser entregue em 2020, segundo Musk (novamente, é provável que demore mais) e custará a partir de US$ 200 mil, o que dá cerca de R$ 660 mil em conversão direta. Quem realmente estiver interessado já pode realizar um depósito de US$ 50.000, que garante uma volta em um dos protótipos.
Agora… será mesmo que o novo Tesla Roadster será capaz de baixar o 0-100 km/h para dois segundos cravados, pelo menos? Debatendo aqui no QG do FlatOut, ficamos divididos.
Considerando que não há estimativa da potência do novo Tesla Roadster, fica um pouco mais complicado fazer suposições. Uma coisa, porém, é fato – mais do que potência, torque ou aerodinâmica, um tempo de 0-100 km/h abaixo dos dois segundos depende de uma coisa: aderência. É preciso garantir que os pneus agarrem o solo com força o bastante para não derrapar na arrancada. Isto depende de diversas os fatores. Alguns são variáveis, como a condição do piso, mas outros podem ser definidos pelo fabricante, como a pressão, o composto e as medidas dos pneus, o acerto de suspensão, quais são as rodas motrizes, e mais. Contudo, há algo primordial: carga (peso) sobre os pneus.
É por isso que, no momento da arrancada, um carro com motor e tração atrás tem mais vantagem que um carro com motor dianteiro e tração traseira. Já carros com tração integral possuem uma vantagem inerente: com quatro rodas motrizes, há a transferência de peso para a traseira (a inércia em ação), que coloca carga vertical sobre as rodas traseiras, e há o peso do motor sobre as rodas dianteiras.
O novo Tesla Roadster tem tração integral, dois motores no eixo traseiro, um motor no eixo dianteiro e o conjunto de baterias espalhado pelo assoalh. O centro de gravidade baixo garantirá uma transferência de peso menor para a traseira e haverá uma boa carga sobre as quatro rodas motrizes e, por consequência, bastante aderência. Além disso, os dois pneus traseiros movidos de forma independente ajudam a extrair o máximo de aderência em cada situação.
Dito isto, o Tesla Roadster não é nenhum dragster ou carro de rallycross. É um esportivo de rua com desempenho de supercarro, tela sensível ao toque no painel, couro sintético no interior. É um pequeno conversível de luxo com capacidade para duas crianças e dois adultos. É a fórmula do Tesla P100D aplicada a um carro menor, mais leve e com baterias mais potentes.
Claro, não vamos nos surpreender (tanto assim) caso funcione e o Tesla Roadster 2020 se torne o carro mais rápido do mundo. Até lá, porém, muita coisa ainda pode acontecer.