Já faz quase três décadas que o Brasil abriu as portas para carros estrangeiros. Até 1990, porém, quem quisesse um carro realmente exclusivo e, por vezes, um nível acima dos nacionais, teria de recorrer aos fora de série. Não por acaso, alguns destes automóveis eram inspirados em modelos importados com os quais o brasileiro só podia sonhar, mesmo que tivesse como pagar por eles.
Selecionamos alguns destes clones em uma lista cuja primeira parte publicamos aqui. A segunda parte, você confere agora!
Verona “BMW Série 3 E30” Souza Ramos
Foto: Acervo Quatro Rodas
Depois da abertura das importações, em 1990, os BMW rapidamente se posicionaram entre os mais populares nas ruas, especialmente a Série 3 E36, lançada na Europa naquele mesmo ano e importada para o Brasil em 1991. Antes disto, uma maneira de ter um “BMW” no Brasil era recorrer à Souza Ramos. A empresa, fundada em 1979 por Eduardo Souza Ramos, surgiu da concessionária Ford de mesmo nome em São Paulo, e especializou-se na fabricação de acessórios estéticos e transformações de veículos nacionais de todas as marcas.
Foto: Acervo Quatro Rodas
Sendo assim, o kit para o Volkswagen Apollo/Ford Verona introduzido em 1990 pela SR chegou meio atrasado. Mas era interessante: trocando os faróis por peças duplas circulares, mudando a grade por uma versão “genérica” do duplo-rim da BMW e instalando componentes aerodinâmicos como spoilers dianteiro e traseiro e novas saias laterais, o Verona/Apollo de fato lembrava a geração E30 do Série 3. Claro, continuava sendo um sedã de duas portas de tração dianteira…
Hofstetter
Há quem diga que parece um Lamborghini Countach, enquanto outros (nós, por exemplo) percebemos um quê de Maserati Boomerang. Oficialmente, porém, o esportivo concebido em 1973 por Mário Richard Hofstetter foi inspirado pelo conceito Alfa Romeo Carabo. Seu lançamento, porém, só aconteceu onze anos depois, em 1984, no Salão do Automóvel.
Àquela altura, o Carabo já estava defasado visualmente, mas ainda impressionava por sua ousadia. Sobre um chassi próprio, do tipo espinha dorsal, repousava uma carroceria com linhas predominantemente retas, frente em forma de cunha e enormes vidros nas janelas – as laterais quase chegavam à soleira das portas. Estas, aliás, abriam para cima, e eram uma das características mais citadas pela imprensa na época.
O motor central-traseiro era o AP de 1,8 litro do VW Gol GT, com um turbocompressor operando a 0,9 bar para que a potência chegasse aos 140 cv, levados para as rodas traseiras através da caixa manual de quatro marchas da VW. Era o bastante para chegar aos 100 km/h em 9,3 segundos, com máxima de 200 km/h. A suspensão era independente nas quatro rodas, sendo o sistema dianteiro emprestado do Chevette, com braços sobrepostos; enquanto a traseira pegava emprestada a suspensão dianteira McPherson do Passat. O interior era espaçoso para duas pessoas e bem acabado, com couro nos bancos, ar-condicionado e, mais tarde, painel digital e câmbio automático.
Foram fabricados cerca de 20 exemplares do Hofstetter até o início da década de 1990, quando a abertura das importações prejudicou muito a demanda por esportivos fora-de-série.
Aurora 122C
O Aurora foi outro fora-de-série brasileiro com pretensões de supercarro – no caso, fica evidente que a inspiração para suas formas foi a Ferrari F40. Foi apresentado pela Aurora Projetos Automobilísticos, de Valinhos/SP. Projetado por Oduvaldo Barranco, o carro tinha um chassi desenvolvido sob medida e usava o motor de dois litros do Chevrolet Monza com deslocamento ampliado para 2,2 litros. Um turbocompressor e um intercooler garantiam que a potência chegasse aos 210 cv, suficientes para que o Aurora 122C chegasse aos 100 km/h em nove segundos, com velocidade máxima de 204 km/h.
No interior, trazia computador de bordo, um jogo de malas feito para caber perfeitamente no espaço atrás dos bancos e acabamento caprichado. O capô dianteiro, quando aberto, revelava uma caixa de ferramentas. O visual lembrava o de uma Ferrari F40 meio desajeitada (e sem os faróis escamoteáveis), mas o pior pecado do Aurora 122C foi o timing: logo depois de seu lançamento, os portões do mercado brasileiro foram abertos para carros vindos de fora.
Envemo Camper
O jipe Engesa 4 era, por si só, um um 4×4 genuinamente brasileiro. Inspirado pelo Jeep CJ, o Engesa 4 era um fora-de-série criado para uso militar e civil, equipado com o motor quatro-cilindros de 2,5 litros do Opala. Lançado em 1984, serviu como base para o Envemo Camper em 1989.
O Envemo Camper era inspirado no Jeep Cherokee da época, porém usava a mecânica do Opala (de quatro ou seis cilindros) ou um motor a Diesel Perkins de 3,9 litros. Um detalhe curioso: os faróis eram do Fiat Uno e, se considerarmos que hoje em dia a Jeep e a Fiat pertencem à mesma empresa, dá para entender como uma espécie de presságio… ou não.
Brincadeiras à parte, a versão de duas portas lembrava mais um Ford Bronco do que um Cherokee. O Camper de quatro portas foi lançado apenas em 1994 – esta sim, bem parecida com o Jeep.
MP Lafer
Foto: MPLafer.net
O MP Lafer foi criado pelo empresário Percival Lafer, dono da fabricante de móveis Lafer S/A, que aventurou-se pelo segmento dos fora-de-série entre 1974 e 1990. Ao longo destes dezesseis anos, a Lafer S/A produziu a réplica do MG TF Midget feita sobre o chassi do Fusca, com motor traseiro e tudo: debaixo do capô, onde no clássico britânico ficava o motor, estava o porta-malas no MP Lafer – bem mais espaçoso que o porta-malas do besouro.
O acabamento externo é bastante caprichado, com proporções cuidadosamente trabalhadas para ficar visualmente harmônico com o chassi do Fusca e elementros cromados que transmitem autenticidade. O motor era o boxer 1600 da VW, com 60 cv para empurrar cerca de 760 kg. Era o suficiente para garantir diversão a céu aberto no MP Lafer, que não tinha um comportamento dinâmico exemplar (afinal, usava o mesmo sistema de suspensão do Besouro) mas compensava com a experiência e os olhares nas ruas.
SR Ibiza
A Ford Econoline foi uma das mais bem sucedidas linhas de vans e furgões dos EUA, sendo fabricada entre 1961 e 2015 ao longo de quatro gerações. Sua geração mais emblemática, a terceira, foi a inspiração da Souza Ramos, que era feita sobre o chassi da F-1000 com uma carroceria de fibra de vidro que tinha os faróis do Del Rey e as lanternas do Fiat Uno.
As proporções da Ibiza eram um tanto esquisitas, com teto bastante alto e entre-eixos curto em comparação à Econoline. O interior, porém, era bem acabado e muito espaçoso, com com painel de instrumentos bastante completo e motores a diesel ou álcool. Levava até doze passageiros com bastante conforto, ou oito pessoas com bagagem.