Oito mudanças e projetos. Sim. Eu tenho problema. Sou da filosofia “the bigger the better” então não poderia ser diferente na grandona (clique aqui para ler a história deste Project Car).
Porém o começo foi bem diferente. Minha primeira ideia era reformá-la tal como saiu da fábrica. E por isso o primeiro pit-stop dela foi na concessionária, em Londrina. Lá fizemos um apanhado geral do que necessitaríamos para fazer o carro voltar à sua glória original. Ela veio basicamente desmontada: o motor estava sem suportes e totalmente torto no cofre, faltavam alguns itens de admissão (como corpos de borboleta, caixas de ar), bem como correias e mangueiras – isso sem falar no trabalho de desfazer o que foi montado para o biturbo, projeto do dono anterior. E tudo isso seria salgado… Muito salgado.
Com esse choque de realidade levei a BMW pra casa, pensando em qual seria o próximo passo. E assim ela ficou por aproximadamente um ano, esperando eu encontrar uma alternativa viável para reconstruí-la.
Após algumas indicações descobri em Maringá, cidade próxima a Londrina, um preparador que já havia trabalhado em alguns carros, digamos assim, exóticos. E lá foi a grandona para Maringá para retomar a reforma.
A princípio mantivemos a primeira ideia (originalidade), e para isso meu preparador começou desmontando tudo. Só assim poderíamos ter uma noção das peças faltantes e de como estava a saúde do V12. Após algum tempo recebi do preparador uma lista do que seria necessário. A boa notícia era que o motor estava muito novo, e recebi indicações de alguns sites estrangeiros para buscar as peças.
No início sofri bastante para encontrar todos os componentes. Consegui achar quase tudo, mas ainda havia detalhes faltantes que impediam de iniciar a reforma. Num determinado momento, já meio sem esperança, voltei a conversar com ele. E veio pela primeira vez a frase-lema do projeto: “E se…”
Frase dita, ideia plantada: hora da primeira de muitas mudanças no projeto. Já que iria gastar uma nota com peças originais, por que não enfiar o pé na jaca e fazer um mini-Mclaren F1? Vamos colocar uma injeção programável e mudar tudo, começando por borboletas individuais. Boa ideia! Volta a busca na internet. Até a hora de ver o preço do módulo de injeção do projeto. Caí de costas. Vamos de original mesmo. E volta a busca incessante em todos os fornecedores conhecidos (alguns até nem tanto).
Até que um dia, pesquisando no Mercado Livre (pesquisa BMW básica – sério, isso vicia), achei uma 750i prata em São Paulo que havia recebido uma pancada lateral e estava à venda como sucata. Olhei aquilo e pensei: Bom, V12 5.4… São 0,4 litros a mais, 20 cv extras, câmbio automático de cinco marchas em vez de quatro…
Perguntei para o meu mecânico o que ele achava do swap. Como o M73 estava completo, com todas as peças que faltavam no M70, imaginamos que seria mais fácil trocar tudo que continuar comprando peça aqui, peça acolá. Minha ideia era tirar o motor da 750i pancada, colocar na 850i, bater partida e champagne para todos os lados – o carro está vivo!
Liguei para o ferro-velho e pedi orçamento. Queria a frente do carro toda, motor completo com todos os agregados (menos radiador, que não cabe), câmbio completo e eixo cardã. Acertamos os valores, contei com a ajuda de especialistas para avaliar o conjunto, e vamos em frente. Depois de alguns dias, chega na caçamba de uma S10 a festa toda. E lá vamos nós montar tudo!
Tiramos o M70 e começamos a adaptar suportes, ajustar coletores e todo o espaçamento do cofre. Nesse meio tempo ainda tivemos algumas mudanças de projeto (o que inclui a ideia insana de tentar colocar o M70 numa Compact, o que não evoluiu: o M70 foi vendido para um projeto de Impala V12), mas mantivemos a linha de adaptar o carro ao M73.
Mas nem tudo são flores na vida de Joseph Klimber…
Depois de muito estudo, descobrimos que este motor, na época o supra-sumo da marca, é basicamente o cão chupando manga em termos de complexidade. Todo o conjunto mecânico é linkado através de VINs, ou seja, precisaria do conjunto todo para funcionar. Até aí tudo bem, não? Afinal, tinha todos os módulos de motor e câmbio. Não, meu caro: o M73 também precisa do painel original para reconhecer o conjunto. Ou precisava codificar o painel com o VIN do conjunto mecânico – mas a 850i não tem painel codificável, ao menos no ano da minha. Em resumo, seria necessário o painel da 750i doadora da mecânica – que teria de ser adaptado no carro, visto que o dash dela é totalmente diferente. Mais ainda: o painel já tinha sido vendido, duas semanas antes de eu ligar à procura dele.
Comecei a pesquisar formas alternativas de fazer esta adaptação, pois não queria detonar a carcaça do painel ou deixar o interior com cara de adaptação tabajara. Depois de muitas pesquisas e ligações para os EUA e Alemanha, cheguei à conclusão de que tal swap NUNCA foi feito, ao menos com a DME (injeção) original do carro. E o impeditivo de se adaptar a injeção estava no câmbio: pela falta da sincroniza de VINs, o carro entrava em emergência, não reconhecendo a presença da transmissão. Assim, ele ligaria (cheio de limitações, impostas pelo modo de emergência) mas não sairia do lugar. Cá estava eu com uma linda samambaia de garagem.
Por outro lado, poderíamos colocar uma injeção programável e um módulo de câmbio paralelo, produzido nos EUA, feito para que o sistema dê um bypass na questão do VIN, que era justamente a pior parte. Mas com isso, estaríamos acumulando adaptações que não eram nada baratas – ficaríamos na dependência de um módulo estrangeiro funcionar plug ‘n play, sem ter como testar previamente. Ou seja, o risco de manter a samambaia de garagem era grande, com gastos ainda maiores.
Mas…
“E se… colocássemos um câmbio manual de seis marchas?”
Bem-vindo ao projeto oito!
Por Marco Centa, Project Cars #9