Dragsters Top Fuel são provavelmente os carros mais rápidos do automobilismo, com seus motores monstruosos baseados nos tradicionais V8 pushrod americanos, porém totalmente reconstruídos e capazes de render até 8.000 cv. Para conseguir essa potência sísmica, não há gasolina de alta octanagem ou Avgas que dê conta — e por isso os carros usam uma mistura quase toda composta de nitrometano, um combustível tão incrível que consegue nos dar um espetáculo mesmo quando não está sendo queimado por um motor.
O nitrometano é um composto orgânico líquido de consistência viscosa cuja fórmula é CH3NO2, e pode ser usado como solvente, meio de reação e até componente de remédios. Mas devido à sua composição química, com dois átomos de oxigênio para cada átomo de carbono, ele precisa de muito menos ar do que a gasolina para queimar totalmente — mais precisamente, enquanto é preciso de 14,7 partes de ar para queimar 1 parte de gasolina, a mesma quantidade de nitrometano precisa de apenas 1,7 partes de ar para queimar.
O resultado é uma eficiência energética bem maior — um motor queimando nitrometano consegue gerar até 2,3 vezes mais força do que um motor idêntico queimando gasolina — ou seja: se um dragster Top Fuel pode ter até 8.000 cv com nitrometano, a potência com gasolina mal chegaria aos 3.500 cv — e dificilmente os carros chegariam aos 160 km/h em 0,8 segundo.
É também graças à composição do nitrometano que ele queima de uma maneira bem peculiar (e incrivelmente hipnotizante):
As chamas laranja são provenientes da combustão propriamente dita, que não precisa de mais do que um fósforo mal aceso para acontecer. São exatamente da mesma cor do fogo que sai do escapamento dos dragster Top Fuel — muito do combustível é expelido pelo escape e, em contato com a atmosfera, queima instantaneamente. Note que o copo de plástico aguenta por muito tempo antes de começar a ser consumido: isto acontece porque o nitrometano também absorve muito calor enquanto se transforma em vapor, permitindo que a temperatura dentro do copo seja bem mais baixa do que se poderia supor.
As chamas brancas são causadas pelo hidrogênio, que é um dos produtos da queima quando a mistura ar-combustível é rica (o outro é o metanol). São elas que dão o efeito “fantasmagórico” que um dos caras do vídeo descreve.
Um dos primeiros registros da utilização do nitrometano como combustível em corridas data da década de 50 quando, depois de anos de experimentações, Vic Edelbrock construiu um motor mais resistente, capaz de aguentar a força extra do nitrometano. Em 1950, Rodger Ward venceu uma corrida de midgets usando um motor Ford 60 “Shaker” movido a nitrometano, embora ninguém na época soubesse disso — ainda que estranhassem as chamas alaranjadas em vez de azuis.
A NHRA proibiu o uso de nitrometano em competições entre 1957 a 1962 por considerá-lo uma “experiência perigosa”. Mas, convenhamos, corridas de arrancada com carros tão potentes estão entre os esportes mais perigosos (e mais legais) que existem, e talvez por saber disso a organização tenha liberado definitivamente o seu uso.
[ Foto: Airwolfhound ]