Uma das figuras mais emblemáticas da Nascar é tão simbólica para o automobilismo dos EUA quanto a própria competição: Richard Petty. O senhor alto, magro, sempre de chapéu, óculos escuros e com um sorriso impecável no rosto, foi um dos pilotos mais bem sucedidos em toda a história da Nascar. Em seus 35 anos de carreira, entre 1958 e 1992, Petty disputou 1.184 corridas, conquistou sete títulos (1964, 1967, 1971, 1972, 1974, 1975 e 1979) e estabeleceu diversos recordes – entre eles, o de maior vencedor na categoria principal da Nascar, a Grand National Series, com 200 vitórias; e de maior número de vitórias em uma única temporada, chegando em primeiro lugar 27 vezes em 1967.
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Richard Petty transformou sua imagem e seu nome em uma marca, tornou-se garoto propaganda de diversos produtos, abriu sua própria oficina – a Richard Petty Motorsports – e ainda inaugurou um museu dedicado a sua própria carreira na cidade de Level Cross, na Carolina do Norte, onde estão expostos alguns de seus carros, troféus e outros objetos históricos relacionados ao ex-piloto.
O próprio Petty andou leiloando alguns itens do museu no ano passado, incluindo o Dodge Charger vermelho e azul com o qual o piloto competiu em 1974. Agora, porém, é a vez de seu carro mais icônico: o Plymouth Superbird azul de nº 43 com o qual a Chrysler convenceu o piloto a retornar para o time – e com o qual o próprio Petty conquistou seu título de 1970 na Grand National. Como se não bastasse, o Plymouth Road Runner que Petty usou no ano seguinte também será vendido, no mesmo leilão. Será uma venda histórica, por várias razões.
Primeiro, pelo carro em si. O Plymouth Superbird, ao lado do Dodge Charger Daytona, é um dos Winged Warriors (“Guerreiros Alados”, em tradução literal) – carros que, com seus bicos aerodinâmicos e suas enormes asas traseiras de quase 60 cm de altura, eram tão velozes nos ovais que acabaram banidos pela organização da Nascar. Ambos eram feitos sobre a plataforma B-Body da Nascar, e ambos usavam o motor V8 Hemi 426 preparado para entregar cerca de 600 cv. Monstros, de fato.
Richard Petty começou sua carreira profissional na Chrysler, e manteve-se fiel à fabricante até mesmo em 1965, quando a Chrysler boicotou a Nascar, em protesto a uma mudança o regulamento que baniu o motor Hemi. No entanto, em 1969, a Dodge apresentou o Charger Daytona, o primeiro dos Winged Warriors – e Petty ficou louco para colocar as mãos nele.
No entanto, a Chrysler insistiu para que ele continuasse com o Plymouth Road Runner, que era feito sobre a mesma plataforma, mas não trazia a mesma carroceria aerodinâmica. Petty acreditava que o Road Runner jamais seria tão competitivo quanto o Charger Daytona e, insatisfeito, deixou a equipe no meio da temporada de 1969, mudando-se para a Ford – que havia acabado de apresentar o icônico Torino Talladega.
A Chrysler não queria perdê-lo e, por isso, tratou de criar uma versão Plymouth do Charger Daytona – foi assim que nasceu o Superbird. Quando o carro ficou pronto, Petty foi chamado para dar uma olhada… e foi conquistado na hora. Ele voltou para a Chrysler e, com o Plymouth Superbird, conquistou o título de 1970.
De acordo com a Mecum Auction, que é a responsável pelo leilão, o Superbird é o mesmo carro que a Chrysler usou para convencer Petty a voltar para a equipe. A informação já foi confirmada pelo próprio Petty, e o carro foi restaurado na oficina da Richard Petty Racing da forma mais fiel possível à original – incluindo o motor Hemi, o câmbio manual de quatro marchas, o diferencial Dana e a pintura azul com o nº 436 nas laterais.
Com as restrições aos Winged Warriors entrando em vigor para a temporada de 1971, o Superbird deixou de ser vantajoso: a Nascar estipulava que tanto ele quanto o Charger Daytona deveriam usar motores de, no máximo, 305 pol³ (cinco litros), o que eliminava a possibilidade de equipá-los com o motor Hemi. Assim, na temporada seguinte, Petty voltou a correr com um Plymouth Roadrunner normal – um exemplar da nova geração, que usava uma carroceria completamente diferente, mas ainda era um B-Body.
Embora não tenha o mesmo visual emblemático do Superbird, o carro Plymouth Road Runner também é um carro marcante: com ele, Petty venceu 21 provas das 46 que disputou em 1971, abocanhando seu terceiro título na Nascar Grand National.
Não é preciso observar por muito tempo para notar que ambos os carros têm a mesma base e as mesmas modificações para as pistas, incluindo o subchassi tubular na dianteira, o interior aliviado. E os dois carros também usam o mesmo sistema de suspensão, com barras de torção na dianteira e molas semi-elípticas na traseira.
O Road Runner também foi restaurado pela oficina de Petty e, assim como o Superbird, parece ter saído de uma máquina do tempo, direto de 1971. Vale observar que ele foi o último carro patrocinado pela Plymouth que o piloto conduziu na Nascar – depois disto, ele foi convidado à Casa Branca pelo próprio Richard Nixon, presidente dos EUA na época, para receber uma homenagem por sua conquista.
No ano seguinte, 1972, Richard Petty abriu sua própria equipe, a Petty Enterprises, e competiu por mais duas décadas com carros de diferentes fabricantes.
Nenhum dos carros tem valor estimado pela Mecum Auctions mas, se o histórico do mercado para ícones da Nascar for algum indicativo, estamos falando de algo entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhões por cada um deles. O leilão começa hoje, 2 de agosto.