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Car Culture Zero a 300

O maestro Herbert Von Karajan e o único Porsche 911 RS Turbo de fábrica do planeta

Talvez você conheça o maestro Herbert von Karajan por seu trabalho na música, pois ele foi um dos maiores regentes de todos os tempos; ou talvez você saiba que ele foi um membro do Partido Nazista (ainda que, segundo a maioria dos historiadores, ele só tenha se juntado ao partido para poder avançar em sua carreira musical). O que você talvez não saiba: Von Karajan era fã de Porsches. Tão fã que a companhia construiu um 911 RS Turbo especialmente para ele.

Von Karajan era austríaco, nascido em 1908, e morreu em 1989, aos 81 anos de idade. Ele foi uma das maiores figuras da música clássica europeia, e o mais bem sucedido representante do gênero do início da década de 1950 até seus últimos anos de vida, com 200 milhões de discos vendidos – duas vezes mais que Luciano Pavarotti, o segundo colocado. Ele foi o regente da Orquestra Filarmônica de Berlim por 35 anos ininterruptos, entre 1954 e o ano em que morreu.

Mas a música clássica era só uma de suas paixões. A outra eram os Porsche.

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Herbert von Karajan ao volante de seu Porsche 917K de rua

Foi uma paixão tardia, visto que, quando o primeiro de todos os Porsche de rua foi lançado –  o 356, em 1948 –, Von Karajan já estava entrando na meia idade. Se ele fosse o tipo de cara mais apegado aos modelos do pré-Guerra, como era de costume a seus contemporâneos, compreenderíamos totalmente. Mas este não era o caso.

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O maestro Von Karajan sempre teve bom gosto para carros. Em 1934, aos 26 anos, ele comprou seu primeiro carro e, em 1938, seu primeiro esportivo – um BMW 328, com o qual já participava de ralis de regularidade e subidas de montanha. Ele não parou mais: nas décadas seguintes, teve uma Mercedes-Benz 300SL Gullwing, um Mini Cooper, uma Ferrar 275 GTB, um Lancia Stratos Stradale e até mesmo um Ford GT40 Mk3, versão feita exclusivamente para as ruas a fim de homologar o carro de corrida.

Sua maior paixão sobre rodas, porém, eram mesmo os Porsche. Além de pilotar alguns carros de corrida da marca, como o Porsche 718 RSK e o 908/2 Spyder Flunder, em 1959 e 1969; e até mesmo um Porsche 917K registrado para rodar nas ruas ele era estimado pela companhia de Stuttgart a ponto de conseguir um 911 verdadeiramente exclusivo.

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Como você sabe, o Porsche 911 Turbo de primeira geração, também conhecido como 930, era um dos esportivos mais selvagens que se podia comprar quando foi lançado, em 1975. O flat-six turbinado de três litros e 264 cv era capaz de levar o carro até os 100 km/h em 6,1 segundos com máxima de 246 km/h, e ainda deixava a traseira bastante pesada. Em um carro sem qualquer tipo de assistência ao motorista, com entre-eixos curto, sem freios ABS e com um lag monstruoso no turbo, o resutado era um carro bastante difícil de controlar.

Dito isto, o approach do 930 ainda era o de um carro de rua, com interior bem equipado e conforto para os ocupantes. Quem queria um Porsche com peso aliviado para acelerar na pista compraria um 911 Carrera RS, que tinha até mesmo os vidros mais finos para economizar alguns quilos na balança.

Acontece que Van Karajan queria os dois, e conseguiu. O maestro procurou a Porsche assim que o 911 Turbo foi anunciado e garantiu para si um dos primeiros exemplares. E ele era um cara importante e, por isto, o carro teria a carroceria mais leve do Porsche 911 Carrera RS. E ainda seria decorado com as cores da Martini Racing.

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Foi exatamente o que ele conseguiu. Não se sabe muito a respeito do relacionamento de Von Karajan com o carro, mas sabe-se era um de seus favoritos: ele até deu um jeito de colocá-lo na capa de um de seus álbuns, Famous Overtures, gravado com a Filarmônica de Berlim.

Também se sabe que o 911 Turbo RS foi só um dos Porsche especiais do maestro Em 1988, quando o Porsche 959 foi lançado, a fabricante ligou para Von Karajan para oferecer um test-drive.

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Naturalmente ele aceitou e, assim que a produção começou, um dos primeiros carros foi enviado até Von Karajan para que ele o testasse. Apesar de estar já estar perto dos 80 anos de idade, o regente ficou bastante impressionado e encomendou um 959 para si. O carro era vermelho com interior em tecido cinza em vez de couro, a fim de melhorar a aderência do corpo ao banco nas curvas. Coisa de entusiasta.

Von Karajan morreu pouco tempo depois, e o Porsche 959 foi vendido a um de seus amigos no meio dos colecionadores de alto nível: o príncipe da Índia Britânica Sadruddin Aga Khan, que na verdade era nascido na França e conhecido colecionador e filantropo, além de ávido colecionador de automóveis.

 

Bônus: Herbert von Karajan e Walter Röhrl

Recentemente, Walter Röhrl, o lendário piloto de testes da Porsche (e uma das maiores lendas do rali com a Audi) completou 70 anos e, para celebrar, a fabricante o convidou para contar algumas histórias sobre sua vida. Uma delas envolve o maestro Von Karajan e seu entusiasmo pela Porsche.

Herbert von Karajan, o famoso maestro, amava carros. E ele queria muito me conhecer. Ferdinand Piëch arranjou um encontro para ele, e eu fui até sua casa em Anif, perto de Salzburg. O maestro me cumprimentou perguntando, “sabe por que eu quero dirigir com você?”, e eu disse “bem, provavelmente porque você conhece o Sr. Piëch e porque você e eu temos carros iguais”.

“Não, não”, disse ele. “Escuta, eu tenho um iate, um Swan. É o melhor que se pode comprar. E meu avião é um Falcon bimotor, o melhor do tipo. Eu quero sempre o melhor. E é por isso que eu queria dirigir com você”.

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Walter Rohrl e seu Porsche 959: “temos carros iguais”

Saímos de Anif em direção a Hallein, nas montanhas Tennen. Depois de um tempo, Karajan me disse, “já ví alguns vídeos seus freando com o pé esquerdo. Como você faz isso, pode me mostrar?” E eu disse a ele, “para fazer isto, vamos ter que dirigir até o limite do que é fisicamente possível, ou seja, muito rápido”. Karajan respondeu: “não tem trânsito, então por que não dirige rápido? Quando chegarmos a uma curva à esquerda, eu aviso se tiver algum carro vindo.” E então ele realmente se inclinava sobre o painel nas curvas para a esquerda, e gritava “está limpo, está limpo!” E quando acabamos ele disse, “vou praticar um pouco mais e então te ligo de novo.”

Então eu o visitei por mais dois anos. Ele ficava muito feliz em dirigir. E me prometeu: “nenhum dos meus concertos estará lotado para você. E meu avião sempre vai estar disponível para te levar até lá.” Foi uma oferta muito tocante, mas eu nunca pude retribuir. Minha agenda estava cheia demais naquela época.