No Brasil, o Ford Maverick é um clássico (ok, e uma picape também…) que assumiu o papel de “nosso Mustang”, sendo o único esportivo V8 que a Ford vendeu aqui até 2018, quando o Mustang foi trazido oficialmente pela primeira vez — e, até hoje, prova que a Ford deu bobeira em não ter feito isso isso antes. Por alguma razão, a Ford achou que seria melhor trazer o Maverick para enfrentar o Opala e, com isso, nós ganhamos um fastback com o lendário Ford 302 “Canadense” que fez as vezes de “muscle car” nacional.
É claro que a versão GT é a mais cobiçada, mas até as versões com o motor 2.3 “Taubaté” (aqui chamamos este motor desta forma) têm seu charme. Especialmente com um turbocompressor, que faz dele um Maverick com motor de Mustang Fox Turbo — algo que inspirou também o Project Underdog 3 de Sung Kang.
Nos EUA, porém, a situação do Ford Maverick era bem diferente. Na década de 1970 o Maveco era, para os americanos, apenas o primo pobre do Mustang, um Ford Pinto com traje esportivo. Um carro compacto (para os padrões deles, claro), barato e que não tinha o mesmo apelo do parente mais famoso. Ainda mais porque, naquela época, os EUA começavam a sentir os efeitos da crise do petróleo de 1973. Nem mesmo as versões Grabber e Stallion ajudaram — e isso em uma época na qual o esportivo era o Mustang II. O carro foi rejeitado por entusiastas até pouco tempo atrás — o Foo Fighters, por exemplo, usou o Maverick no clipe de “Breakout” como o carro do nerd perdedor protagonista do vídeo.
Agora… o que pouca gente sabe ou lembra, é que o Maverick também foi produzido no México. E é de lá, que vem a versão mais intrigante e misteriosa do modelo: o Shelby Maverick.
Para entender o mistério, precisamos ir ao México do final dos anos 1960, quando foi criada a Shelby de Mexico.

“Mas peraí, FlatOut. Existiu uma divisão mexicana da Shelby?” Sim, existiu! E não se sinta mal por não conhecê-la, porque a história da Shelby American é pouco contada depois dos GT500. Imagine então os detalhes de uma aventura mexicana de Carroll Shelby. São poucos os que conhecem sua existência, e os detalhes são escassos.
A Shelby de Mexico
Em 1966, um empresário mexicano chamado Eduardo Velásquez comprou um Mustang hardtop que, reza a lenda, fora usado por Ken Miles como mula de desenvolvimento de suspensão e freios do Shelby GT350. A ideia de comprar o carro era promover as peças Cobra da Shelby American no México, uma vez que o Mustang seria produzido localmente e Velásquez pretendia ser o distribuidor da Shelby localmente.

Depois de negociar pessoalmente com Carroll Shelby durante a compra e preparação do carro, e de levá-lo para uma viagem turística pelo México, Velásquez firmou uma parceria para distribuição de componentes Cobra no México. Logo no primeiro ano, ele se tornou o maior comprador individual da Shelby American, o que convenceu Carroll Shelby a apoiá-lo na criação da Shelby de Mexico S.A. em 1967.

A Shelby de Mexico produzia versões modificadas do Mustang, vendidas exclusivamente nas concessionárias Ford no país. O próprio Velásquez contou a história a um grupo de entusiastas do Maverick há cerca de 20 anos:
Instalávamos amortecedores Koni, molas mais rígidas, rodas de alumínio, pneus de alto desempenho, coletores de escapamento, capô e tampa traseira de fibra de vidro com spoiler, lanternas traseiras do Thunderbird 65 e faixas laterais GT350. Os motores eram modificados com comando e tuchos de alta performance, coletor de admissão de alumínio com carburador Holley e filtro de ar Cobra. O interior recebia tacômetro, volante Shelby e emblemas GT350 no painel. Os carros eram produzidos em várias cores e foram um sucesso imediato no México. Em 1967 produzimos 169 carros, em 1968 foram 203 e em 1969 chegamos a 306.

Nos Shelby mexicanos, o monobloco também era reforçado com barras de amarração no cofre e as famosas “traction bars” no assoalho. Em 1969 o motor 289 deu lugar ao 302 e a modificação da carroceria incluiu o prolongamento das colunas C em fibra, dando ao carro uma silhueta de fastback, mais parecido com os Shelby americanos. Em 1972 esse modelo passou a usar também o motor 351, passando a se chamar GT351. Todos os Shelby mexicanos eram vendidos exclusivamente nas concessionárias Ford do México.

E o Maverick Shelby?
Aqui é onde a história fica confusa. Note que o relato de Velásquez acima não menciona as diferenças por ano — isso foi algo verificado pelo FlatOut. Isso, porque ele menciona que foi somente em 1971 que o Shelby mexicano ganhou o prolongamento das colunas C, mas isso já aconteceu em 1969 conforme o acervo de fotos dos Mustang Shelby mexicanos. O próprio Velásquez menciona a modificação de fibra em 1969, confundindo-o com um carro exclusivo para as pistas. Ele também não menciona o Maverick entre os carros que foram modificados.

Acontece que há uma série de fotos de um Maverick Shelby, personalizado com peças Cobra/Shelby American, e exposto no Auto Expo Mexico de 1971. Alguns registros confiáveis como o livro “Shelby American World Registry” e outros de entusiastas europeus, como o Mustang Drivers da Bélgica e o Mustang Club de España, mencionam uma produção de 300 Maverick Shelby mexicanos. Acontece que não há registro de… nenhum Maverick Shelby além daquele apresentado no Auto Expo Mexico de 1971. Tudo o que há sobre ele são as fotos que ilustram esta matéria.

Ao que tudo indica, o Maverick Shelby nunca chegou a ser produzido porque a própria Shelby American deixara de existir no ano anterior, 1970. Velásquez menciona isso em seu relato:
“No final de 1971, minha parceria com Carroll chegou ao fim, já que Shelby parou de fabricar carros e peças. A política das três grandes fabricantes nos EUA também mudou, abandonando oficialmente as corridas. Demos uma guinada para os automóveis de luxo. O mais bem-sucedido foi a conversão do Ford Galaxie 1972 em Continental Mark II, com janelas ópera, protuberância de estepe no porta-malas e grade especial. Foi tão popular que até os americanos copiaram.”
Me parece claro que a Shelby de Mexico até tentou produzir 300 Maverick Shelby usando estoque remanescente, mas sem o apoio da Shelby American e sem a propaganda das pistas, o projeto deve ter sido cancelado para concentrar o esforço de produção no Galaxie 1972. E assim o mundo ficou sem o Shelby Maverick.

Os Mustang da Shelby de Mexico, contudo, ainda estão por aí — vendidos, nos EUA, inclusive, depois que o primeiro deles foi importado em 1986. Sobre os carros, Velásquez terminou seu relato mencionando suas qualidades:
“De todos os carros, meu favorito é o Shelby de México GT350 de 1969. Tenho três: um com motor Cobra 289, outro com o experimental 377 e um terceiro com 302 preparado. São mais leves que os Mustangs padrão e, por isso, têm comportamento excepcional. Até hoje, meu generoso amigo Carroll Shelby ainda me empresta carros quando vou a Los Angeles. Sempre o mais rápido Shelby disponível, com seu conselho: ‘dirija o carro, divirta-se, e não deixe o carro dirigir você.’

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