Nunca foi tão fácil documentar seu project car para o mundo todo ver como é hoje em dia – uma rápida busca pelo Instagram, por exemplo, permite que se encontre dezenas de contas dedicadas exclusivamente à evolução de um project car feito por alguém em alguma parte do mundo. Talvez você até esteja acompanhando alguns projetos neste momento (se ainda não, poderia começar com o nosso Renault Sandero RS :)).
Isto não acontecia no começo dos anos 2000. Já havia a internet, mas ela nem de longe era onipresente como hoje, e a principal fonte de informação sobre carros que havia online eram os fóruns, que se proliferaram rapidamente e se tornaram comunidades muito importantes na cultura automotiva da década passada – lugares onde entusiastas trocavam informações e dicas, vendiam em compravam peças e, claro, exibiam seus carros, fossem eles daily drivers ou projetos. Um projeto famoso podia aparecer em vários fóruns e seu dono podia se tornar uma espécie de celebridade virtual.
Foi o que aconteceu com Vincent Foucart, piloto francês de rali e rallycross cujas fotos e vídeos circulam pela Internet há anos. Seu projeto, um Peugeot 205 – do qual já não resta muita coisa de Peugeot 205, é verdade – é conhecido em fóruns há mais de dez anos, e já teve alguns motores diferentes: um V12 BMW; um W16 feito sob medida usando motores de moto e, atualmente, é movido por um Wankel de dois litros com três rotores e 440 cv. Digamos que a única constante na vida deste carro é a mudança.
Um dos registros mais antigos de Foucart ao volante de um Peugeot 205 preparado é o vídeo abaixo, publicado em dezembro de 2009. O carro é um 205 T16 customizado com as cores oficiais da Peugeot no automobislismo. Mas não há muitas informações a respeito.
Aparentemente naquela época Foucart também já corria com o Peugeot 205 vermelho havia algum tempo – há um tópico de 2009 no fórum Retro Rides que mostra algumas aparentemente bem antigas do carro. Que, pelo que conseguimos garimpar, na verdade é um buggy fabricado pela francesa Fouquet, com estrutura tubular e motor central traseiro, feito especificamente para corridas off-road. O buggy então recebeu os painéis de carroceria do 205 (provavelmente réplicas de fibra), ainda que em alguns momentos apareça com o front clip do Peugeot 306, adaptado com uma grosseria que nos parece proposital.
Nos vídeos mais antigos o carro é movido por um V12 BMW acoplado a uma caixa sequencial de seis marchas. Mas também há um vídeo do carro movido por um motor W16 de 2,0 litros feito a partir de quatro motores quatro-cilindros de Honda CBR 600, cada um deles com curso mais curto para girar mais (incrível se consderarmos originalmente a CBR600 gira acima das 13.000 rpm), o que reduziu o deslocamento para 500 cm³. Há pelo menos dois vídeos curtos do carro nesta configuração, e o ronco é simplesmente absurdo.
O motor Wankel já está no carro há alguns anos – desde 2015, ao menos. Apesar de usar o projeto da Mazda, o motor foi feito sob medida para o carro por uma oficina neozelandesa, a Pulse Performance Race Engineering, especificamente para competições.
Com deslocamento de dois litros e sem qualquer tipo de indução forçada, um Wankel de três rotores novo da PPRE custa hoje em dia 54.000 dólares neozelandeses, o que dá cerca de R$ 141.000. O câmbio continua sendo sequencial de seis marchas, e leva a força do motor para as quatro rodas.
O carro tem estrutura tubular de aço inox e apenas a carroceria de um 205, mas Foucart adaptou o painel de instrumentos do 205 para tornar o projeto mais “convincente” do ponto de vista estético. No entanto, bastam alguns instantes observando o carro em ação para entender o apelo da adoção de um chassi próprio para competições na terra – o curso generoso da suspensão de buggy, que tem amortecedores duplos do tipo pushrod na traseira, cai bem ao carro de rali.
Quando o motor ainda era um W16
Vincent Foucart participa ativamente do circuito de rali e rallycross da Europa, e nos últimos anos tem sido acompanhado pela jovem navegadora Melodie Fourcade, que tem apenas 23 anos de idade e aparece junto do piloto em alguns vídeos. Os dois podem ser vistos no onboard abaixo, que também nos dá a oportunidade de ouvir de dentro do carro o ronco do motor Wankel a mais de 9.000 rpm.
Em 2017, o carro também participou do Goodwood Festival of Speed, dando uma volta de exibição bastante rápida no mini-estágio de rali montado na propriedade do Duque de Richmond
E, se você já viu o post que fizemos ontem sobre a edição 2018, sabe que ele está em Goodwood novamente – desta vez, com uma demonstração de poderio sobre o asfalto.
Considerando que estamos falando de um project car que ficou famoso há mais de dez anos, gostamos de vê-lo marcando presença no maior evento dedicado ao automobilismo e aos carros de corrida do ano. Mas gostamos mais ainda de ouvi-lo, seja com V12, W16 ou motor Wankel.