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Técnica

Como o “modo Baja” transforma a Ford F-150 Raptor em uma picape de rally raid – ou quase isto

Há uma diferença sutil entre o rali e o rally raid que é frequentemente omitida, ainda que não seja tão sutil assim: ralis são disputados em estágios em florestas, cidades ou mesmo estradas e são divididos em estágios, enquanto o rally raid (também chamado “rally cross-country” costumam ser realizados em percursos maiores, geralmente passando em desertos, e são provas de resistência que podem durar dias e têm um limite de tempo – cruze a linha de chegada depois deste limite e você é desclassificado, simples assim.

Competições como o Rali Dakar e o Baja 1000 são rally raids, e são disputados por veículos equipados para suportar condições hostis, acelerando por horas e horas a fio em terrenos acidentados, perigosos e pouco aderentes.

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A nova geração da F-150 Raptor (que não é mais uma SVT) não é uma picape de competição, mas isto não quer dizer que ela não possa encarar pelo menos a parte divertida do rally raid: acelerar até o limite no deserto, enfrentando areia, obstáculos, mais areia e mais obstáculos. Tudo graças ao Baja Mode, ou “Modo Baja” em português. Ele não transforma a Raptor em uma picape de competição, claro, mas dá para sentir o gostinho.

A F-150 Raptor ainda não começou a ser vendida, pois parece que a Ford quer ter certeza de que fez a escolha certa ao trocar o motor V8 supercharged por um V6 biturbo e adotar doses cavalares de alumínio na construção da picape. Deve ser por isso que eles estão fazendo questão de, antes do lançamento oficial, mostrar que ela continua sendo uma picape bacana.

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Parte da estratégia foi colocar uma Raptor quase totalmente original (com suspensão preparada, gaiola de proteção, pela célula de combustível e outros equipamentos de segurança) para disputar o Baja 1000 2016, que aconteceu entre os dias 16 e 20 de novembro.

Depois de 1.375 km no deserto mexicano de Baja California, a Raptor 2017 cruzou a linha de chegada faltando apenas 52 segundos para o fim da prova. Foi uma bela manobra de publicidade, ainda que o tiro quase tenha saído pela culatra – por mais difícil que o Baja 1000 seja (é uma das corridas mais difíceis do planeta, na verdade), não seria uma boa ideia colocar um Modo Baja em uma picape que incapaz concluir a prova que foi a inspiração na hora de batizá-la.

 

Mas afinal, o que é o “Modo Baja”?

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Na verdade, existem alguns modos de direção diferentes que você pode escolher ao volante da nova Raptor:

Normal: o modo padrão da Raptor, com tração traseira ou nas quatro rodas à escolha do motorista, assistências eletrônicas ativadas, respostas mais neutras do acelerador e um equilíbrio entre a economia de combustível e a aceleração.

Sport: neste modo, a aceleração fica mais responsiva, a transmissão automática de dez velocidades segura as marchas por mais tempo (a fim de aproveitar a força do motor em rotações mais rápidas) e a direção fica mais pesada. O sistema de controle de tração funciona normalmente.

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Weather: o modo para neve torna a atuação do acelerador mais suave e progressiva, a fim de evitar que você pise fundo e se enterre ainda mais fundo no gelo com a Raptor. A transmissão troca de marchas mais cedo para manter as rotações mais baixas, e o controle de tração fica mais invasivo. Além disso, o sistema de tração integral procura distribuir mais força para as rodas onde ela é necessária, variando de acordo com a situação.

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Mud/Sand: para enfrentar situações de baixa aderência, onde é preciso pisar fundo para seguir em frente, a Raptor fica em um modo intermediário entre Normal e Sport – as marchas são trocadas mais tarde, para aproveitar melhor a força do motor, mas o câmbio também sabe a hora de manter as rotações mais baixas para conservar o torque. Além disso, a direção fica mais macia e com a maior quantidade possível de assistência, reduzindo o esforço necessário para esterçar lutando contra a resistência do solo (na lama ou na areia, é mais difícil virar as rodas).

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Rock Crawler: para escalar paredões de rochas, a transmissão ativa a marcha reduzida e desliga o controle de tração, além de deixar o volante mais macio para, novamente, reduzir o esforço necessário para virar as rodas ao mínimo possível.

Nós vamos nos concentrar no modo Baja, pois este é a grande novidade. Para tornar travessias no deserto mais emocionantes e, ao mesmo tempo, acessíveis, a Raptor passa a aproveitar ao máximo toda a capacidade do motor, do câmbio e das assistências eletrônicas.

As marchas só são trocadas no limite do limite do limite (até onde a durabilidade do câmbio não é comprometida), a fim de extrair cada gota dos 460 cv e 70,5 mkgf de torque do motor emprestado do Ford GT; os sistemas de controle de tração e estabilidade continuam presentes, porém bem menos invasivos (permitindo que você brinque com a traseira e escorregue, mas não fique totalmente vulnerável a uma perda repentina de tração), e a tração 4×4 é ativada automaticamente, porém pode ser desligada a qualquer momento.

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O acelerador é calibrado para entregar a força de forma mais linear, permitindo melhor controle das rotações, enquanto o peso da direção fica em um meio termo – não leve demais, para não anestesiar as coisas, nem pesado demais, tornando a tarefa de virar o volante mais fácil.

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Além disso, os mais experientes podem simplesmente pressionar o botão do controle de tração por sete segundos, desligando completamente o sistema.

É como se fosse o “Modo Drift” do Ford Focus RS, mas para fãs do off road. Picapes não são nosso tipo de carro favorito, mas certamente a gente gostaria de experimentar o que o “Modo Baja” promete fazer.