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Car Culture

O (quase) recorde de velocidade do Opala de Bird Clemente

Nos anos 1970, depois que o pessoal da DKW obteve um inédito recorde brasileiro de velocidade com o Carcará, vários outros pilotos acabaram inspirados a buscar marcas cada vez maiores. Hoje, por uma série de razões que vão desde a influência internacional até a disponibilidade de locações para realizar esse tipo de teste, temos diversos recordes de velocidade — quilômetro lançado, milha lançada etc — e todos já passaram dos 350 km/h.

Depois do recorde do Carcará, a equipe Dacon tentou obter o recorde com seu Karmann-Ghia Porsche e a Equipe Jolly tentou com os Alfa Romeo GTA, e as duas fracassaram. Mesmo assim, em 1970, Bird Clemente e seu irmão Nilson encararam o desafio de acelerar mais rápido que qualquer outro piloto no Brasil.

Essa história começa logo após o fim do envolvimento das fabricantes com o automobilismo local. Foi quando as equipes Willys e Vemag foram encerradas pela Ford e pela Volkswagen, respectivamente. Nessa época, Bird Clemente, que havia sido o primeiro piloto contratado por uma fabricante para competições, se viu sem uma equipe para correr e, já perto dos 30 anos e prestes a assumir os negócios da família, decidiu se aposentar.

Seu irmão mais novo, Nilson, contudo, decidiu começar a correr de carro e o convidou para dividir a direção nas provas de longa duração. Bird topou. Em 1970 os dois compraram um Opala seis-cilindros e o prepararam para as pistas com ajuda dos amigos. O motor 3.8 ganhou um cabeçote Sissel trazido dos EUA, com válvulas maiores e comando mais agressivo. Da Sissel também vieram o distribuidor e os coletores de admissão e escape. A alimentação ficou por conta da carburação tripla Weber — três DCOE 45.

A preparação ainda incluiu um conjunto de mangas de eixo dianteiras do Opel Commodore A, a versão mais luxuosa e potente do Opel Rekord, a versão alemã do Opala. Na época, os Opala tinham um problema crônico de fadiga do material das mangas de eixo quando usados em pista. Chico Landi, que havia preparado o Opala de Toninho da Mata, havia descoberto esse “upgrade” que logo foi copiado pelos irmãos Clemente. Com este carro os irmãos disputaram — e venceram — as 24 Horas de Interlagos daquele ano. Foi a primeira grande vitória do Opala nas pistas.

Mais tarde, em uma iniciativa para ganhar espaço na mídia e, claro, atrair patrocinadores, os irmãos Clemente decidiram estabelecer um novo recorde brasileiro de velocidade. Eles procuraram o editor de testes da revista Quatro Rodas, Expedito Marazzi, e explicaram o plano.

Marazzi alertou Bird e Nilson sobre as outras tentativas anteriores da Dacon e da Jolly, mas os irmãos encararam o desafio e o jornalista-piloto topou dar o suporte técnico em troca da exclusividade na cobertura. Ele sugeriu que o teste fosse realizado na rodovia Castello Branco, a SP-280, no mesmo trecho onde a revista Quatro Rodas fazia suas medições, na época.

O Opala recebeu um novo câmbio Borg Warner de Corvette, comprado de Camilo Christófaro, com relações longas na terceira e na quarta marchas. Em um teste preliminar, sem equipamento e apenas para verificar a possiblidade de se atingir velocidade suficientemente alta, Bird Clemente atingiu 225 km/h e começou a procurar patrocinadores.

Os irmãos conseguiram apoio da Shell, das rodas Mangels, dos pneus Pirelli e do concessionário Chevrolet Luiz Grassi. Por isso, o carro teve de ser abastecido com a gasolina azul vendida nos postos, teve de calçar as rodas de aço originais e os pneus Cinturato — nada especial para o teste. O equipamento de medição foi fornecido pela Quatro Rodas, o mesmo conjunto da Omega, com sensores de fotocélula, usado no recorde do Carcará.

Na primeira passagem, Bird atingiu 232,510 km/h. Bastava uma passagem oposta de, pelo menos, 193,490 km/h para obter o novo recorde brasileiro de velocidade. Infelizmente, uma pane no sistema de cronometragem impediu a realização da medição no sentido oposto e, por isso, o recorde não pôde ser homologado. Mesmo assim, a marca gerou grande repercussão e ajudou os irmãos Clemente a atingirem seu objetivo de atrair patrocinadores para bancar suas carreiras.

Dois anos depois, em 1973, os dois irmãos venceram as 25 Horas de Interlagos, os 500 Km de Interlagos e as Mil Milhas Brasileiras, mas desta vez com o Ford Maverick — também as primeiras vitórias relevantes do Maverick no Brasil.

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