Ninguém quer descobrir na prática o que acontece quando você fica sem óleo no motor do carro. E, temos certeza, você certamente toma o cuidado de verificar a situação do lubrificante regularmente, realizando as trocas no tempo necessário e escolhendo o óleo adequado para seu motor. É assim, não é?
Mas nada impede que a gente descubra através do maravilhoso (e às vezes assustador) mundo da internet. Os caras do Car Throttle descolaram um Mercedes-Benz C180 1994 por nada mais que £200 (cerca de R$ 790 em conversão direta), retiraram todo o óleo do cárter e levaram o carro para a pista a fim de ver quanto tempo o motor duraria em funcionamento. Ou melhor: quanto tempo levaria para que alguma coisa saísse voando pelos ares.
A resposta: mais ou menos dezessete minutos.
Agora, o que aconteceu nestes mais ou menos dezessete minutos para que o motor começasse a falhar cada vez mais antes de, literalmente, explodir? É o que a gente vai destrinchar neste post.
Primeiro, vamos falar um pouco sobre o carro. Trata-se de um Mercedes-Benz C180 da geração W202 – o sucessor do Mercedes 190E, e o primeiro a ser chamado de Classe C. Estes carros têm fama de indestrutíveis em qualquer lugar do mundo – e, de fato, apesar de ter sido comprado por £200 e ter mais de 200 mil milhas no hodômetro (o que dá mais de 320 mil km!), o quatro-cilindros de 1,8 litro com cabeçote de 16 válvulas e 122 cv funcionava razoavelmente bem. Eles até conseguiram fazer drift com o carro!
Depois de mostrar que era possível derrapar de lado com o Mercedes, os caras decidiram acabar com o carro. Não foi um fim muito digno para um tanque de guerra alemão como este, por mais que ele estivesse bastante cansado. Mas tudo pelo bem da ciência, não é?
Pois bem: a experiência consistiu em drenar todo o óleo do cárter (cerca de 4,5 litros), que foi descrito pelo Car Throttle como “preto e com uma aparência muito ruim”, deixando claro que o óleo era velho e que já havia passado da hora de trocá-lo.
Já explicamos detalhadamente a função e as propriedades do óleo lubrificante em uma série especial de posts. Vale recapitular:
– Atuar como um fluído resfriador, removendo calor produzido pela fricção e outras fontes
– Manter-se estável de forma a garantir um comportamento regular durante o período de uso
– Proteger as superfícies contra elementos agressivos formados pelo funcionamento do motor
– Dispersar e limpar resíduos formados durante o funcionamento (limalhas, sujeira, carbonização)
Isto quer dizer que, na prática, proteger os componentes internos de um motor do desgaste causado pelo atrito é só parte da função do óleo. Tão importante quanto é sua ação resfriadora, absorvendo o calor gerado por este atrito e o dissipando enquanto circula pelo sistema de lubrificação.
Sem óleo, mais do que se desgastar, as peças do motor esquentam demais e se dilatam para além de suas especificações recomendadas. A partir daí, começa a espiral da morte: o motor passa a apresentar funcionamento áspero e barulhento. A partir dos 3:30 do vídeo – depois de quase 14 minutos com o motor funcionando sem óleo, isto fica bem perceptível, e o motor dá até algumas travadas. É uma pena que a música alta encubra boa parte dos sons do motor que, caso pudessem ser ouvidos com mais clareza, nos ajudariam a acompanhar a evolução dos danos. Até porque, no caso deste carro, os tuchos das válvulas são hidráulicos. Sem o óleo do motor, uma folga entre os tuchos e os ressaltos do comando é criada, resultando em barulho e mais atrito.
Minutos depois, o esperado acontece: uma explosão no motor do carro, uma nuvem de fumaça e algumas peças de metal saindo do motor. Instantes depois, a peça é exibida na tela: um pino de pistão, o que significa que foi um dos conjuntos de biela e pistão que não resistiu à dilatação excessiva.
Dezessete minutos até parece um tempo razoável, não é? Chegamos até a pensar que o motor era um daqueles que usam camisas de Alusil (uma liga alumínio e silício, que gera menos calor e fricção, usada em alguns motores da Mercedes), mas não é o caso. Ocorre que, na verdade, o Car Throttle ainda foi “gentil” com o carro em certos aspectos. Por exemplo: ao dizer que o carro está rodando com “zero óleo”, os caras na verdade querem dizer que todo o óleo do cárter foi drenado.
Ainda existe, contudo, uma película de lubrificante sobre alguns componentes chave, como as camisas de cilindro (que até possuem um padrão de ranhuras em “X”, justamente para ajudar a reter um pouco de óleo) e bronzinas. Esta película ajuda a retardar o processo de desgaste por calor e fricção. E, caso o carro tenha chegado rodando ao autódromo, o que significa que o motor já estava bem lubrificado quando o óleo foi removido do cárter. Se esta remoção tivesse sido realizada com o carro parado em uma garagem, certamente a película de óleo sobre os componentes seria bem fina e o teste duraria menos.