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O que mudou (e o que não mudou) no Porsche 911 em mais de 50 anos

Neste mês de maio de 2017 a Porsche atingiu uma marca extremamente simbólica: foi produzido o milionésimo 911; um belo exemplar pintado na cor verde Irish Green – mesmo tom do primeiro Porsche 911, que saiu da fábrica em 1963. O carro, logicamente, não será vendido: em vez disso ele fará uma pequena turnê ao redor do mundo, passando pelas rodovias dos EUA e da Ásia, pelas estradinhas sinuosas e alpinas da Europa, e pelo Nürburgring Nordschleife antes de voltar para casa e ser guardado no museu da Porsche.

A Porsche também decidiu aproveitar a ocasião para celebrar a história do 911, que ao longo de seus 54 anos de existência, pode ter evoluído demais, mas jamais perdeu a essência original. A fabricante destacou este aspecto de seu esportivo com um vídeo simples, mas bem interessante:

Uma das características do 911 é sua silhueta que, apesar de todas as mudanças estéticas em seia gerações, permanece basicamente a mesma. Colocando as sete gerações em sequência, a Porsche conseguiu deixar isto bem claro: a traseira vai ficando mais alta, o comprimento aumenta um pouco, as proporções ficam ligeiramente mais infladas e os para-choques, cada vez mais integrados à carroceria. No entanto, o capô baixo, o para-brisa pouco inclinado e o teto que cai suavemente até o fim do carro estão lá. Repare como a linha que vai da base do para-brisa até o para-choque traseiro é praticamente igual de 1963 até 1998, quando o Porsche 911 993 sai de linha.

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Repare também como o entre-eixos do Porsche 911 permaneceu o mesmo da primeira geração (o 911 clássico, também conhecido como Typ 901) até o fim da quarta geração (993). São 2,27 m de 1963 a 1998 (901, 964 e 993); 2,35 m de 1999 a 2011 (996 e 997) e 2,45 me a partir de 2012 (991). Só o fato de conservar as dimensões básicas por 35 anos já torna o 911 um belo exemplo de constância, e mostra que a Porsche só faz alterações drásticas no projeto quando acha realmente necessário — um exemplo são os modelos mais radicais, como o Carrera RS 2.7 e os modelos GT.

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Há, porém, diversos outros aspectos que devem ser mencionados, pois permanecem os mesmos (ou praticamente os mesmos) há muito tempo, e podem ajudar a explicar como o 911 conserva a essência original mesmo depois de tantas evoluções técnicas.

O primeiro motor do Porsche 911 trazia seis cilindros opostos e arrefecimento a ar. Com deslocamento de dois litros e carburação dupla, o flat-six entregava pelo menos 130 cv, que era suficiente para levar o carro de 1.000 kg até os 210 km/h. À parte de evoluções técnicas importantes, como a adoção do sistema de injeção mecânica no início da década de 1971, e da injeção eletrônica Bosch K-Jetronic no segundo semestre de 1973; o projeto permaneceu o mesmo até a década de 1990, incluindo o virabrequim de sete mancais e o cárter seco.

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Em cima, um motor M64 dos anos 1970. Embaixo, o M96 do Porsche 911 Carrera 997

O motor do 911 só foi mudar de verdade em 1998, com a adoção do arrefecimento líquido – já não dava mais para confiar no ar para resfriar o motor naquele nível de potência, tampouco atender as exigências das leis de emissões modernas. Para se ter uma ideia, o Porsche 911 Carrera 996 tinha um boxer de seis cilindros naturalmente aspirado de 3,4 litros e 300 cv, representando um belo salto ante os 276 cv do motor a ar do Carrera 993, de 3,6 litros.

A localização do motor jamais mudou, e esta é uma das últimas tradições do 911. Ele sempre foi (e ainda é) instalado atrás do eixo traseiro. No entanto, o aumento mais recente no entre-eixos do 911 visou deslocar o eixo traseiro para mais perto do motor, melhorando sutilmente sua distribuição de peso para otimizar seu comportamento dinâmico.

Falando em comportamento dinâmico, a suspensão do 911 também foi bastante regular neste cinquenta e poucos anos: de 1964 a 1988 a suspensão dianteira usou barras de torção como elemento elástico.

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As molas helicoidais sobre os amortecedores só foram adotadas em 1989. Nos cutaways abaixo, a diferença fica bem evidente:

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Na imagem superior, note as barras de torção atrás das rodas. A imagem inferior traz um 993, que continuou usando o sistema McPherson introduzido no 964

Assim como o entre-eixos, as bitolas tambem foram aumentando com os anos: no Porsche 911 901, eram 1,33 m de bitola na dianteira e 1,31 m na traseira. No atual 911 Carrera, são 1,53 m na frente e 1,52 m atrás – algo que, além de harmonizar com as dimensões maiores do carro, é essencial para reduzir a transferência lateral de peso em curvas (vale lembrar que, em modelos especiais como os RS, Turbo, GT2 e GT3, as bitolas e entre-eixos variavam sensivelmente em relação aos modelos mais convencionais). Aliás, o 911 nem cresceu tanto assim, considerando a idade do modelo: de 4,29 metros de comprimento, 1,70 m de largura e 1,30 de altura no 901 para 4,49 m de comprimento, 1,80 m de largura e, pasme, os mesmos 1,30 de altura no 991.

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A Porsche sempre foi bem sucedida ao incluir novos recursos ao 911 e provar que, mesmo que rompessem parte da tradição, tais mudanças eram benéficas. Foi assim com a introdução do turbocompressor em 1975, da tração integral em 1988 (com a introdução do Carrera 4) e do arrefecimento líquido em 1998. Hoje em dia, os 911 mais radicais continuam introduzindo inovações técnicas, como o esterçamento do eixo traseiro no atual 911 GT3 RS. É possível que a próxima geração, prevista para o fim de 2018 como modelo 2019, aposte até mesmo na tecnologia. E nossa aposta é que não deixará de ser, em essência, um 911.