A Volvo é, provavelmente, a fabricante de automóveis mais tradicional da Suécia, e seus carros estão entre os mais seguros já fabricados no mundo. Contudo, há outra faceta da Volvo que muito atrai os entusiastas: o desempenho de suas peruas turbinadas, que atingiram seu ápice em 1994, com o lançamento da Volvo 850 T5-R.
A verdade é que desde a década de 1980 a Volvo tentava vender a imagem esportiva de suas peruas com motor turbo — quadradonas e sisudas, mas com fôlego extra garantido pelo motor 2.0 com turbo e intercooler, capaz de render 160 cv e levar o carro a mais de 200 km/h. Apostando no bom humor, o carro era anunciado como uma alternativa a superesportivos como o Lamborghini Countach, a Ferrari Testarossa, o Porsche 944 e o Lotus Esprit.
É óbvio que o Volvo 740 Turbo não corria tanto assim, mas a propaganda era tão bem sacada que acabava convencendo (bom, convenceu a gente!). Mas foi só na década seguinte as peruas suecas (sem trocadilho, sinto muito) que ficaram conhecidas como turbobricks ganharam o desempenho esportivo condizente com o apelido.
Quando o Volvo 850 foi lançado, em 1991, era um típico Volvo da época, com formas quadradas, visual sóbrio e alguns detalhes que garantiam uma modernidade discreta: os vidros eram mais rentes à carroceria, os faróis eram mais estreitos e as lanternas traseiras avançavam sobre as colunas e ladeavam o vigia.
Tanto o sedã quanto a perua ainda pareciam tijolos sobre rodas. Mas isso não é um defeito quando se trata de um Volvo clássico, na verdade é até esperado, mas ia na contramão do design automotivo da década que começava — os anos 90 foram marcados por carros com linhas arredondadas e “orgânicas”.
Sendo assim, os suecos apostavam na tradicional segurança, na robustez do conjunto mecânico e, a partir de 1994, no desempenho esportivo para atrair compradores para o 850.
Há vinte anos era apresentado o Volvo 850 T5-R, dotado de um motor de cinco cilindros e 2,3 litros que, sobrealimentado por um turbocompressor, entregava 228 cv a 5.200 rpm e saudáveis 30,6 mkgf de torque logo a 2.000 rpm — suficiente para chegar aos 100 km/h em 6,4 segundos com máxima de 234 km/h com câmbio manual de cinco marchas (com a transmissão automática de quatro marchas, os números eram 7,5 segundos e 245 km/h, respectivamente).
E era na versão perua que a Volvo apostava sua imagem, colocando uma versão de competição para correr no Campeonato Britânico de Turismo (BTCC), voltando às pistas depois de um jejum de quase uma década. Você pode ler mais sobre esta história aqui!
O motor era um projeto inédito, desenvolvido depois que a Volvo encerrou sua parceria com a Renault — e começou outra com a Mitsubishi, que forneceu os turbocompressores usados pelos suecos (e, mais tarde, plataformas inteiras). Também pode ser encontrado em versões de quatro e seis cilindros em linha, e até recentemente tinha espaço no cofre de modelos como o V60 e o S60, que nada mais são que os atuais representantes da linhagem o 850 T5-R.
Mas, voltando ao passado, não demorou para que a Volvo decidisse colocar um pouco mais de pimenta no T5-R — com a ajuda da Porsche, porém sem alarde. A fabricante alemã fez alguns ajustes no motor, que passou a entregar 243 cv a 5.400 rpm, enquanto o torque permaneceu inalterado. A velocidade máxima subiu para 250 km/h.
A Porsche também ajudou a projetar o interior do carro (teria sido dos alemães a ideia de usar Alcantara nos bancos, por exemplo), que também trazia uma das grandes inovações do 850 T5-R por ser o primeiro carro a oferecer quatro airbags de fábrica — dois frontais e dois laterais.
O impacto positivo nas vendas foi rápido, e em 1996 — apenas dois anos depois, veja bem — a Volvo decidiu que era hora de atualizar o T5-R e fazer um carro ainda mais potente. Agora chamada 850 R, a perua (e o sedã, mas este post é sobre a perua, conforme-se) teve o módulo de controle do motor recalibrado para entregar 250 cv a 5.400 rpm e 35,7 mkgf de torque a 2.400 rpm — mas só para o modelo manual, que também tinha diferencial de deslizamento limitado, que melhorou muito sua estabilidade, e chegava aos 100 km/h em 6,5 segundos com velocidade máxima de 255 km/h. O modelo com câmbio automático continuava com o motor de 243 cv.
O que todos tinham em comum era o visual, que tinha um apelo mais esportivo graças aos novos para-choques e saias laterais, além das rodas de 17 polegadas pintadas de grafite. Só que não era nada gritante ou exagerado — era só uma sugestão de que aquele carro andava mais do que se imaginava.
Aliás, esta discrição virou tradição na linhagem. Nesta semana, para celebrar os 20 anos da 850 T5-R, a Volvo juntou um exemplar amarelo impecável a um V60 Polestar que, com seu seis-em-linha de três litros turbinado, dispõe de 351 cv para acelerar até os 100 km/h em menos de cinco segundos — mais potente do que nunca, mas quem não sabe do que se trata um Polestar, não desconfia. Gostamos assim!