James Garner, que morreu em 2014, aos 86 anos de idade, é mais conhecido por ser o astro de “Grand Prix”. O filme de 1966, dirigido por John Frankenheimer, até hoje é considerado um dos que representam de forma mais realista o circo da Fórmula 1.
Contracenando com pilotos profissionais do calibre de Jack Brabham, Dan Gurney e Graham Hill, James Garner foi o protagonista Pete Aron – e dedicou-se de forma integral ao papel. Ele levou a sério as aulas de pilotagem e demonstrou muito talento durante as gravações, dispensando dublês em boa parte das cenas, e recebendo elogios daqueles que ganhavam a vida acelerando carros de corrida.
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Mas o envolvimento de James Garner com o automobilismo não se limitou a pilotar monopostos no cinema. Depois do filme, em 1967, ele se tornou sócio de uma equipe chamada American International Racing (AIR), que disputou provas de longa duração na Europa e nos EUA até 1969 – incluindo as 24 Horas de Le Mans, as 24 Horas de Daytona e as 12 Horas de Sebring. E, na virada dos anos 70, Garner competiu em provas de off-road com um dos carros de rali mais curiosos já feitos. Ou melhor, dois.
James Garner começou a disputar provas de resistência off-road já em 1968. Não foi exatamente uma opção dele: a questão é que, sendo um astro de Hollywood, Garner precisava ter um seguro de vida – como uma garantia de que, caso algo lhe acontecesse e ele não pudesse concluir as gravações, a produtora receberia uma compensação em dinheiro. Por razões óbvias, as seguradoras não gostavam muito da ideia de emitir uma apólice de seguro a um ator que pilotava carros de corrida em provas da SCCA e da FIA. Como não podia abrir mão do seguro, James Garner decidiu participar de categorias “menos perigosas”.
A primeira prova off-road que ele disputou foi a Stardust 7-11, corrida criada pela National Off Road Association (NORRA) em um percurso fora-de-estada de 711 milhas (1.144 km) para carros e motos. Garner conduziu um buggy Myers Manx com motor Porsche e gostou da brincadeira, inscrevendo-se para a Baja 1000 Mexico daquele ano – um dos rally raids mais importantes do planeta – com um Ford Bronco. Sua participação foi registrada no documentário The Racing Scene, lançado em 1970.
Não há muitas informações precisas a respeito, mas acredita-se que foi a partir de 1969 que James Garner começou a disputar regularmente edições da Baja 500 e da Baja 1000 com um carro inesperado – não era um buggy, nem uma picape, e muito menos um jipe. Era o Oldsmobile Cutlass.
O primeiro Olds usado por Garner em 1969 era patrocinado pela Goodyear, e por isto ficou conhecido como “Goodyear Grabber”. James Garner procurou o projetista Vic Hickey, especializado em veículos 4×4 para provas fora-de-estrada, para construir um chassi com tração nas quatro rodas sob medida para a carroceria de um Oldsmobile 442. O carro era movido por um V8 General Motors 350 (5,7 litros) todo feito de alumínio que não durou muito tempo, sendo logo substituído por um motor de 410 pol³ (6,7 litros) montado pelo hot rodder Dale Smith, capaz de entregar 500 cv.
O Oldsmobile foi usado por Garner por quatro anos, entre 1969 e 1972, em pelo menos cinco competições – incluindo a Baja 1000 Mexico. James Garner era conhecido por ser um cara bastante acessível, comportando-se como “só mais um dos pilotos” quando estava competindo. Apesar disto, ele era um cara bem conhecido e ajudou a aumentar consideravelmente a popularidade das corridas off-road no período.
Garner trocou de carro em 1973. A diferença é que o novo carro, batizado Banshee, não era exatamente um Oldsmobile, embora seja até hoje chamado assim. Novamente o chassi do carro foi construído por Vic Hickey, mas a carroceria era uma criação de fibra de vidro feita por George Barris – o famoso construtor de carros para a TV e o cinema, incluindo o primeiro Batmóvel – inspirada pelo Cutlass 442. A dianteira era muito parecida, mas o entre-eixos era bem mais curto, e as caixas de roda eram verdadeiros arrombos na carroceria, que era feita sob medida. Não havia portas: era preciso entrar pela janela. E só uma pessoa cabia lá dentro…
… porque o motor ficava absurdamente recuado, praticamente dentro do habitáculo, ocupando o lugar que geralmente é reservado para o navegador nos carros de rali. Era um V8 Oldsmobile 455, também montado por Dale Smith, acoplado a uma transmissão TH400 de três marchas. A peça vermelha em cima do “calombo” é um filtro de ar.
O motivo? Segundo George Barris, o principal benefício era o equilíbrio na distribuição de massas: posicionado próximo ao centro do carro e ao lado do piloto, o motor ajudaria a manter o carro estável ao decolar em uma rampa, por exemplo.
James Garner competiu com o Banshee por pouco tempo: o entre-eixos era curto demais e, por isto, o Olds era quase incontrolável – conta-se que Garner capotou pelo menos cinco vezes com ele apenas na primeira sessão de treinos. Por sorte, a estrutura tubular trazia uma gaiola de proteção integrada, e a carroceria de fibra de vidro era fácil de ser reparada: era só levar o carro de volta a George Barris.
Ainda nos anos 1970, James Garner se viu forçado a abandonar as provas de off-road, também – era impossível dedicar-se ao automobilismo como queria e, ao mesmo tempo, seguir atuando no mesmo ritmo.
Os dois carros sobreviveram. Ambos foram vendidos no fim dos anos 1970. O primeiro, o Goodyear Grabber, passou 34 anos desaparecido e só emergiu em 2008, quando um entusiasta americano chamado Ron Johnson topou com um Olds off-road anunciado no site de classificados Hemmings. Ele só se deu conta de que aquele era o carro de Garner depois que o veículo chegou em sua oficina – e, imediatamente, deu início a um processo de restauração.
Já o Banshee foi comprado por um homem chamado Ray Swift, que era piloto de rali e disputou provas com o Olds por décadas. Hoje o Banshee está sob os cuidados de seu filho e também foi totalmente restaurado há alguns anos, com direito à troca do motor original por um V8 LS3 moderno, com injeção eletrônica. O carro participa de eventos históricos e, recentemente, apareceu no programa de Jay Leno no Youtube.