Então chega o dia. O dia em que você pode legalmente dirigir um carro. Obviamente você e eu já pensamos sobre isso há anos, desde pequenos, desde aquele pôster da Ferrari F40 preso com durex na parede do quarto.
Aprendemos muito sobre tudo, sempre. Aprendemos que temos de fazer concessões, no emprego, na faculdade, no namoro, com a família, estamos sempre fazendo concessões para não alterar o “equilíbrio” do universo, digamos assim. Mas existe um ponto em que concessões não existem – é o ponto de desequilíbrio, o assunto que seus familiares vão balançar a cabeça ao lembrar, que seus amigos vão dizer “você é louco”. E não raramente são estes pontos que fazem nossa vida especial. No meu caso – e aposto que no seu também – este ponto é dirigir o carro que me representa. Nada de prata, nada de silêncio, nada de porta-copos e telas LCD pra todos os ocupantes. A gente quer fumaça, queremos barulho, cores vivas, o armageddon dentro do cofre do motor.
Meu nome é Marcos Camillo e aqui vou contar um pouco da minha história. O que eu quero não é um carro que só me leve do ponto A ao ponto B – eu quero isso com adrenalina, estilo e um baita sorriso na cara. Estava decidido, eu queria um antigo pra usar como daily driver. Dos nacionais, o que mais me apetecia visualmente era o Opala, até porque já tinha um histórico familiar: meu pai teve um Comodoro 1976 quatro portas, preto, cara, eu realmente adorava aquele carro.
Expectativa x realidade
Esta Caravan 79 prata foi o ponto de partida da minha história sobre quatro rodas. Fui até São Paulo (sou de Curitiba) atrás da perua e, depois de um baita rolo e muito pano pra manga, o carro veio pra casa comigo. Meu primeiro carro, meu primeiro antigo, só alegria, certo?
Errado.
Eu mais empurrei do que dirigi essa Caravan, esta é a verdade. Mas, mesmo assim, foi tudo muito interessante e envolvente. Final de semana chegava, eu ia até a garagem do prédio, uma(s) cerveja(s), um som e algum servicinho no carro, polir frisos, passar silicone no painel, limpar os contatos da bateria, sentar no banco do motorista e pensar pra onde iríamos juntos – qualquer destino era não mais do que pretexto para o caminho. Este foi o início do amor pela ferrugem, pelo cheiro que só um antigo tem.
The one
Depois de aproximadamente um ano com a Caravan apareceu ele, o santo graal do opaleiro, um Opala SS 4 79 Vermelho Marajó. O carro estava desmontado para restauro, a oficina que estava fazendo o serviço fechou, o dono do SS bateu o carro de uso e ficou numa péssima situação financeira. E eu, sem um real no bolso, só tinha uma certeza: aquele carro tinha de ser meu. Úlcera nervosa, noites perdidas, trabalho não rendia, cara, você conhece essa sensação. Mandei a proposta: a Caravan e mais uma grana (que eu ia ter de me virar em dez para conseguir!) em troca do SS pra terminar de restaurar.
Tensão. O dono segurou até o último minuto pra fechar o negócio, pois queria dar um jeito de mantê-lo – mas não teve jeito. Ele está com a Caravan até hoje e eu com o SS. Tudo isso aconteceu faz cinco anos, mas parece que foi ontem.
Finalmentes
Eu sempre entro no FlatOut esperando a próxima história de insanidade! Nós adoramos isso. O maluco que colocou um motor de Maverick V8 em um Fusca, por que, para que? Porque é possível e é isso que queremos, loucura, pessoas que nos mostrem que nossas idéias não são tão insanas assim – acho que é uma espécie de combustível pra nos manter firmes nestes projetos. Vai ser um prazer dividir a evolução do meu SS V8 383 (o clássico 350 com deslocamento aumentado) com vocês, tem muita coisa pra ser contada ainda.
Por Marcos Camillo, Project Cars #22