Antes que você pergunte “mas por que diabos eu colocaria um motor de moto em um carro?”, nós queremos saber: por que não colocar um motor de moto em um carro? Não faz sentido, à primeira vista mas, com um pouco de loucura, criatividade e atenção à relação peso/potência podem transformar esta ideia idiota em algo sensacional — ou, pelo menos, engraçado.
Selecionamos nesta lista algumas destas criações — e garantimos que você vai desejar dar uma volta em quase todas elas. Quase.
Honda N360
Na Honda, as motos vieram antes dos carros. Bem antes: em 1963 a Honda lançou o S500, um carro com motor de 531 cm³ desenvolvido com a experiência da companhia com motocicletas, que já vinha de 1955. Era um motor desenvolvido especialmente para ele, e assim foi com seus sucessores, o S600 (com motor de 600 cm³) e o S800 (com motor de… 800 cm³). O primeiro Honda a usar, de fato, um motor de moto, foi um pequeno kei car chamado N360.
Se você acha que os motores dos kei cars modernos são pequenos com seus 660 cm³ de deslocamento, saiba que em 1967 a lei japonesa exigia que os carros tivessem até 360 cm³. Era este o caso do N360, um dos primeiros kei cars práticos da Honda, que usava uma versão de cilindrada reduzida para 354 cm³ do motor da CB450 — tornando-se o primeiro carro de passeio da marca a usar, de fato, um motor de moto.
Ele foi tão importante que, em 2012, a Honda lançou um novo kei car chamado N-One, cujo visual é um homenagem retrô ao N360 clássico. Pensando bem, aparentemente no Japão qualquer coisa parece ser motivo para lançar um novo kei, não parece?
Morgan 3 Wheeler
Saindo de uma das maiores representações dos minicarros japoneses, temos aqui o que é praticamente a materialização do conceito de esportivo britânico: o Morgan Three Wheeler: ele tem visual clássico, inspiração na aviação (ele não parece um monomotor antigo?), usa madeira na estrutura, foi feito para curtir sozinho (ou, no máximo, a dois) e — a característica que o colocou nesta lista — é movido por um motor V2 de dois litros fabricado por uma empresa especializada em motores Harley Davidson preparados.
O motor entrega 82 cv e é acoplado a uma transmissão Mazda de cinco marchas. A potência é de apenas 82 cv, mas um carro de três rodas que pesa apenas 525 kg não precisa de muito mais do que isto para impressionar, precisa?
Radical SR8
Bem, talvez precise — se quiser chegar ao nível do Radical SR8. Estes protótipos feitos em série (se é que isto faz sentido) usam um motor V8 desenvolvido pela própria Radical usando dois motores de Suzuki GSX-R Hayabusa unidos pelo virabrequim. O resultado é um V8 de 2,6 litros capaz de entregar 363 cv sem qualquer tipo de indução forçada.
Agora, se você quiser algo ainda mais assassino, pode encomendar uma versão com motor de 2,8 litros e 460 cv (!!). A transmissão costuma ser sequencial, de cinco marchas, desenvolvida pela Quaife especialmente para a Radical.
O problema é que o SR8 é tão extremo que, embora tenha percorrido o Nürburgring Nordschleife em 6:48 segundos, ele mal é considerado um carro de rua — por isso o recorde atual é do Porsche 918 Spyder, com 6:57 (o que também é impressionante).
Ariel Atom V8
Só que não dá para falar de carros com motor de moto — em especial os que usam dois motores juntos, como o Radical — sem citar o Ariel Atom V8. Não faz muito tempo que todas as publicações diziam que o Atom era a mais pura expressão do prazer de dirigir. De fato, continua sendo um baita carro, só que as pessoas não ficam mais repetindo isto toda hora. Olha só:
O carro testado pelo Jeremy Clarkson neste vídeo clássico é equipado com um motor de dois litros Honda com compressor mecânico e 300 cv. Mas que tal o dobro de cilindros? O Ariel Atom V8 também usa um motor de oito cilindros em V feito com dois quatro-cilindros Suzuki unidos pelo virabrequim, mas aqui eles tiveram o deslocamento ampliado para 1,5 litro, totalizando três litros e 500 cv.
Com uma caixa sequencial Sadev de seis marchas, o V8 gira até 10.600 rpm e pode levar o carro até os 320 km/h. E provavelmente vai arrancar toda a pele do seu rosto se você pisar demais.
Gixxer Kart
Lá no início da década de 2000, um vídeo publicado na Internet mostrava um piloto de mão cheia controlando um kart equipado com o motor de quatro cilindros de uma Suzuki Hayabusa (estamos começando a notar um padrão aqui). Provavelmente foi um dos primeiros vídeos “virais” da web, e é um dos mais legais também.
A máquina em questão, chamada “Gixxer Kart” acabou inspirando outros entusiastas (ou até oficinas) a criarem sua própria interpretação de carro com motor de nome. Aos poucos, começaram a ser usados outros motores e o termo “Gixxer Kart” se tornou sinônimo para qualquer kart com motor de moto esportiva. Foi o nascimento de um ícone — sobre o qual você pode ler tudo aqui!
Smart com motor de Hayabusa
Tal como acontece com o Gixxer Kart, não existe “o” Smart com motor de Hayabusa, mas “um” Smart com motor de Hayabusa. É quase uma receita pronta: aproveitar o conveniente layout de motor e tração na traseira para tornar o Smart o carro divertido que ele poderia ser. Como? Trocando o econômico motor de três cilindros, que pode ter entre 0,6 e um litro e não é exatamente empolgante, pelo girador, barulhento e potente motor da GSX-R.
Talvez um dos projetos mais famosos seja o “Smartuki”, de uma oficina britânica. Usando um Smart de primeira geração, eles retiraram o motor, colocaram o quatro-cilindros preparado para render 180 cv a 13.000 rpm (!) em seu próprio subchassi, além de um diferencial traseiro Cosworth e de um sistema de suspensão traseira independente. O conjunto é capaz de chegar aos 100 km/h em 4,2 segundos, com quarto-de-milha em 12,4 segundos e velocidade máxima de 212 km/h.
Mas, é claro, este é só um deles — existem milhares de outros espalhados pelo mundo.
Iso Isetta
Você já deve conhecer o pequeno carro com porta na frente que pode se chamar Romi-Isetta (versão nacional produzida sob licença), BMW Isetta ou até BMW 600 em uma improvável versão “perua”:
Seu primeiro nome, contudo, foi Iso Isetta — como foi batizado quando, em 1953, a Iso começou a fabricar um simpático carrinho em formato de bolha que usava uma versão de 236 cm³ do motor monocilíndrico da motocicleta Iso Moto 200 (sim, este era seu nome).
Três anos depois o Isetta deixou de ser produzido pela empresa que o criou, mas permaneceu em linha em várias partes do mundo, sendo produzido sob licença na Alemanha pela BMW, no Brasil pela Romi e na França, pela VEJAM. “Nossa” versão usava um motor bicilíndrico DKW de dois tempos mas, desde 2008, um empresário chamado Salomão produz uma réplica de fibra de vidro com motor de quadriciclo de 300 cm³ e 30 cv.
BMW 700
Agora, o Isetta não foi o único carro com motor de moto que a BMW produziu: em 1959 a marca revelou um modelo de desenho bem mais convencional chamado 700, um sedã de três volumes bem definidos e uma simpática dianteira sem grade, lembrando um pouco a versão alemã do VW 1600 Sedan.
Tal qual o VW, o BMW 700 tinha o motor na traseira — um flat-2 de 697 cm³ que era uma versão de diâmetro e curso apliado do motor de 600 cm³ da moto R67, acoplado a uma caixa manual de quatro velocidades. Seu estilo agradou tanto que, depois de sua apresentação no Salão de Frankfurt de 1969, a BMW recebeu mais de 25 mil encomendas. O 700 foi produzido por seis anos, saindo de linha em 1965 com quase 190 mil unidades fabricadas.
E, como se não bastasse, ele também fez sucesso nas pistas, competindo com uma versão de 70 cv do motor monocilíndrico e conquistando algumas vitórias na categoria GT do Campeonato Mundial de Endurance, do qual fazem parte as 24 Horas de Le Mans.
Suzuki GSX-R/4
É, mais um carro com motor de Hayabusa. A gente não cansa, não? Resposta: não! Quem já jogou Gran Turismo 4 e os títulos seguintes vai lembrar deste conceito que foi apresentado em 2001 e apareceu no game em 2004. Trata-se de um roadster que parece ter sido fabricado com Lego e usa uma versão de 175 cv do motor de quatro cilindros da Suzuki GSX-1300R Hayabusa montada em posição central-traseira.
O visual pouco-ortodoxo é até agradável, mas fica em segundo plano quando você descobre que um motor de 1,3 litro é capaz de levar o carro até os 291 km/h e girar a 9.800 rpm, não é?
Palatov D1
Antes do Ariel Atom V8, havia o Palatov Motorsport D1 — quer dizer, ainda há: ele parece um Radical SR8, mas tem visual mais elegante e pode usar um motor semelhante ao do Atom, porém deslocando 3,4 litros e entregando até 470 cv. Existe, contudo, uma versão ainda mais interessante: o Palatov D4 é, em essência, um D1 mais barato, que pode vir equipado com o motor de moto à sua escolha — embora provavelmente escolhêssemos o V8 de qualqeur jeito…
Light Car Company Rocket
Em 1992, o piloto britânico Chris Craft procurou ninguém menos que Gordon Murray, projetista do McLaren F1, para criar um carro pequeno, com estrutura tubular, de visual retrô, leve (obviamente) e movido por um motor de moto.
Seu nome, definitivamente, é justificado: o Rocket pesa só 381 kg e é movido por um motor Yamaha de 1.070 cm³ de 171 cv, o que dá uma relação peso-potência de 2,19 kg/cv. O visual lembra um monoposto de F1 da década de 1960, e só existem 46 deles.
Golf Mk1 com motor de… Hayabusa
O mais legal do Golf de primeira geração é o fato de ele não precisar de um caminhão de potência para ser divertido, como provam o primeiro GTI e os 112 cv de seu motor 1.6. Mas esqueça tudo isto e aprecie a visão de um Golf Mk1 com o motor de uma Suzuki Hayabusa, turbinado e preparado para render mais de 350 cv.
Tudo o que se sabe sobre ele é seu nome: Jackrabitt — mas isto na verdade é tudo o que você precisa saber.
Carver One
A verdade é que este aqui desafia as definições de moto e carro: ele tem três rodas e um volante, como um Morgan, mas o layout é invertido (duas atrás, uma na frente) e, nas curvas, a cabine, que leva duas pessoas atrás uma da outra, inclina-se como a de uma moto. Seu motor é um quatro-cilindros de 16 válvulas e apenas 658 cm³ que, turbinado e equipado com um intercooler, entrega saudáveis 82 cv — o bastante para levá-lo de zero a 100 km/h em apenas 4,2 segundos.