Na primeira parte deste especial, vimos como começou a carreira de Adrian Newey e detalhamos sua passagem pela Williams, onde projetou os carros mais avançados da Fórmula 1. Agora, chegou a hora de ver o que ele fez depois que saiu da Williams — seu período na McLaren e a ida para a Red Bull que, com seus carros, foi a equipe nº 1 do automobilismo no início desta década.
Ainda que Adrian Newey tenha projetado os carros que ajudaram a Williams a conquistar os títulos de 1996 e 1997 na Fórmula 1, projetista e equipe estavam cada vez mais distantes — em parte por causa da decepção de 1995. Para se ter uma ideia, em 1996 a saída de Newey em agosto do ano seguinte já era dada como certa.
A temporada de 1998 viu a estreia de verdade de Newey na McLaren — no ano anterior ele havia feito apenas alguns ajustes no fim da temporada. A equipe não vencia um campeonato de Fórmula 1 desde 1991 — ano em que Senna faturou seu terceiro e último título ao volante do MP4/6. Dali em diante, a Williams de Newey dominou, e a temporada de 1995 provou que não se devia brincar com Michael Schumacher que, em seu terceiro ano pela Ferrari, tinha tudo para levar o título…
… se não fosse por Mika Häkkinen e o MP4/13. O carro tinha a melhor aerodinâmica do grid e um dos melhores motores, o Mercedes FO 110G, um V10 de três litros e 780 cv. Na primeira corrida do ano, o GP da Austrália, Mika Hakkinen e David Coulthard terminaram a corrida com quase uma volta de vantagem sobre os adversários. O finlandês venceu oito das dezesseis corridas da temporada, mas ao longo dos meses foi possível ver que Schumi e sua Ferrari F300 eram páreo duro — ele venceu seis corridas, enquanto as duas que restaram viram vitórias de Coulthard e Eddie Irvine, o segundo piloto da Ferrari. Ou seja, quase todas as corridas naquele ano tiveram Häkkinen, Coulthard e Schumacher na ponta.
No fim das contas, Mika Häkkinen foi o campeão e a McLaren ficou com o título de construtores. Schumacher foi o vice e Coulthard ficou com o terceiro lugar. Adrian Newey sempre soube o que estava fazendo, e continuou assim para o ano seguinte.
Para o MP4/14, as mudanças preparadas por Newey trouxeram uma aerodinâmica mais sofisticada, com defletores à frente das rodas traseiras e um novo bico, enquanto o motor V10 era mais leve, mais baixo e mais potente, com 795 cv a 16.500 rpm. Mikka Häkkinen levou o título novamente — com apenas dois pontos de vantagem sobre o vice, Eddie Irvine. O finlandês venceu cinco corridas e abandonou quatro — sendo assim, a Ferrari de Irvine foi mais consistente e garantiu à Scuderia o título de construtores. Schumacher foi forçado a se retirar do campeonato antes da hora depois de um acidente na oitava corrida, em Silverstone, onde quebrou a perna. Ele voltaria no fim do ano, e conseguiu chegar em segundo nos GPs da Malásia e do Japão.
Os dois títulos de Mika Häkkinen e o campeonato de construtores de 1998 brecaram a ascenção da Ferrari, mas não a impediram: a Scuderia vermelha seria imbatível entre os anos 2000 e 2004, enquanto as McLaren de Adrian Newey alternavam entre momentos de grande competitividade — como no MP4/15, que venceu quatro corridas — e fracasso total — caso do MP4/21, que não venceu nenhuma corrida com Kimi Räikkönen ou Juan Pablo Montoya ao volante, em 2006. Mais tarde, o próprio Newey admitiu que seus projetos haviam tomado a direção errada havia muito tempo.
Aquele foi o último ano de Newey na McLaren. Na verdade, desde 2004 especulava-se que o projetista deixaria a equipe a qualquer momento devido aos fracos resultados, e em abril de 2005, ele confirmou que seu contrato acabaria no fim daquele ano. Ele também disse que, quando deixasse a McLaren, partiria para um ano sabático ou se aposentaria da Fórmula 1 de vez.
Se isso tivesse acontecido, certamente a história da Fórmula 1 até hoje seria bem diferente.
No dia 19 de julho de 2005 ele anunciou que não abandonaria a Fórmula 1 e ficaria com a McLaren por mais um ano. Contudo, em novembro, a Red Bull Racing declarou que Newey seria seu novo projetista para 2006. Newey, porém, não participou do desenvolvimento do carro daquele ano, e sua estreia ficaria para a temporada seguinte.
Apesar das altas expectativas, o primeiro Red Bull projetado por Newey não foi exatamente um sucesso. O RB3, de 2007, foi o primeiro Red Bull a usar um motor Renault, depois que o contrato com a Ferrari, que forneceu os primeiros motores, foi transferido para a equipe “irmã” da Red Bull, a Scuderia Toro Rosso (ambas as equipes nasceram quando a Red Bull Technology comprou a Jaguar e a Minardi, que se tornaram Red Bull Racing e Scuderia Toro Rosso, respectivamente). O carro da STR se chamava STR2 e, com exceção do motor Ferrari, era idêntico ao RB3.
Este compartilhamento de chassis foi mal recebido por equipes rivais — Williams e Spyker, especificamente —, mas a organização da Fórmula 1 garantiu que a operação conjunta era legal.
A Scuderia Toro Rosso funciona até hoje como um celeiro para pilotos jovens que, se demonstrarem talento e resultados, são contratados pela Red Bull Racing. E foi justamente na Toro Rosso que, mais uma vez, iniciou-se uma parceria de sucesso entre Adrian Newey e a Red Bull.
O ano era 2008 e o carro era o RB4/STR3, que novamente usou um motor Renault para a Red Bull e um motor Ferrari para a Toro Rosso. Se com a RBR os resultados foram pobres — apenas um terceiro lugar no GP de Monaco —, a Toro Rosso venceu a primeira corrida pela equipe em Monza, na Itália, com o novo carro — a primeira vitória de um projeto assinado por Adrian Newey desde 2005. O piloto era um jovem alemão chamado Sebastian Vettel.
Foi o bastante para que a Red Bull entrasse em 2009 com fôlego renovado e Vettel na equipe ao lado de Mark Webber, substituindo David Coulthard. E o RB5 de Adrian Newey levou o piloto alemão a quatro vitórias — um presságio para o desempenho esmagador do RB6 no ano seguinte.
Movido por um V8 aspirado de 2,4 litros fornecido pela Renault, o RB6 venceu nove das 19 corridas da temporada de 2010 e constantemente ditava o ritmo dos outros carros nos treinos de classificação. Adrian Newey já chegou a dizer que este era o carro com mais downforce na história da Fórmula 1. Com ele, Vettel garantiu seu primeiro título na Fórmula 1 e o primeiro da Red Bull no mundial de construtores. A combinação Red Bull + Renault + Vettel + Adrian Newey se mostraria imbatível nos próximos três anos.
Este é o RB7, de 2011. Com ele, a equipe venceu 12 corridas — 11 com Vettel ao volante. Foi naquele ano que o sistema KERS, que armazena e reaproveita a energia das frenagens para gerar um boost de potência ao toque de um botão no volante, fez sua estreia nos carros da Red Bull. No ano seguinte, o RB8 venceu sete — e assim Vettel e a Red Bull conseguiram mais dois títulos no mundial de pilotos e construtores.
O auge veio no ano passado, com o RB9. Este carro venceu nada menos que TREZE corridas nas mãos de Sebastian Vettel, que se tornou o piloto que mais venceu corridas em sequências (nove vitórias) e, mais importante, sagrou-se tetracampeão, dividindo com Alain Prost o título de quarto maior campeão da história do esporte.
Tudo parecia perfeito… até o início da temporada de 2014, quando ficou claro que a Mercedes AMG seria a nova força dominante. Das oito corridas que foram disputadas até agora, a equipe de Nico Rosberg e Lewis Hamilton venceu sete. Adrian Newey, por sua vez, anda frustrado com a Fórmula 1 desde o fim do ano passado, apesar do desempenho matador de sua equipe. O motivo? O regulamento cada vez mais restritivo da Fórmula 1.
Isto nos traz de volta ao início desta retrospectiva: por causa de sua aparente frustração, começaram a surgir boatos de que Newey deixaria a Fórmula 1 no fim da temporada deste ano. Contudo, na semana passada — talvez influenciado pela única vitória do RB10 neste ano — o projetista renovou seu contrato com a equipe “por múltiplos anos” — com uma ressalva: ele passará a trabalhar em novos projetos com a Red Bull Technology e prestará consultoria no design dos futuros carros.
Será o o início do fim da carreira de Adrian Newey como mago da aerodinâmica? Não temos esta resposta, mas o próprio Newey se define como um dos últimos “dinossauros da Fórmula 1” ainda na ativa. É esperar o tempo — e o desfecho desta temporada — responder.