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Os ventos e esportes que dão seus nomes a carros da Volkswagen

Depois de conhecermos os cavalos da Ford, os touros da Lamborghini, as estradas da Lancia, os números da Ferrari e Peugeot, as classes da Mercedes e as séries da BMW, chegou a hora de conhecer os ventos e esportes da Volkswagen. Se é que a Volkswagen um dia decidiu que usaria estes temas para batizar seus carros.

De sua criação nos anos 1940 até o início dos anos 1970, a Volkswagen não se preocupou em escolher nomes para seus modelos. O Fusca era simplesmente Typ 1 ou Volkswagen. A Kombi era o Typ 2 ou Volkswagen Bus. Depois vieram os Typ 3 e Typ 4, os Karmann-Ghia (que simplesmente designava a construtora da carroceria e o designer do carro) e, no Brasil, os SP.

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Quando a marca começou a produzir sua nova linha de modelos com motores de arrefecimento líquido, chegou a hora de escolher nomes com mais apelo que o número do projeto. O primeiro deles foi o Passat, batizado com o nome alemão para os ventos alísios. São os ventos que sopram dos trópicos para o equador e ocorrem permanentemente nas regiões sub-tropicais. Eles são formados pela ascensão de massas de ar de zonas de alta pressão nos trópicos que convergem para zonas de baixa pressão no equador. Estes ventos foram fundamentais no período das grandes navegações, pois ajudavam as embarcações a contornar a costa africana e também a retornar da América para a Europa, e por esse motivo são conhecidos em inglês como “Trade Winds” que, traduzindo do inglês antigo, significa algo como “trilha do vento”.

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A temática continuou na segunda geração do Passat, que ganhou uma versão de três volumes e, para diferenciá-la da versão hatcback, foi batizada como Santana (sim, o Santana que conhecemos aqui no Brasil em 1984).

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Embora o nome pareça ter origem religiosa (Santa Ana foi a mãe da Santa Maria e avó de Jesus Cristo, segundo a história) ele também tem origem em um vento. Os ventos Santa Ana se originam no deserto de Mojave, na América do Norte, e sopram em direção ao Oceano Pacífico, resultando no clima seco e quente do litoral do sul da Califórnia e da Baja California (México). Por sua natureza quente e seca, eles também são responsáveis por espalhar os frequentes incêndios florestais tão comuns na região, e por isso também são conhecidos como “Devil Winds”, ou “Ventos Demoníacos”.

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Antes do Santana, porém, a Volkswagen usou o nome de um vento para designar o cupê esportivo derivado do Golf, o Scirocco. Chamado de siroco (ou xaroco) em português, ele é um vento que se origina de uma massa de ar tropical quente e seca do Norte da África e da península arábica que é levada para o norte por massas de baixa pressão mais frias e únicas vindas do leste pelo mar Mediterrâneo. O choque de temperatura e umidade acelera as massas de ar, e assim originam o siroco, que pode chegar a 100 km/h.

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Movimento do siroco

Os efeitos mais conhecidos do siroco são as tempestades de areia na península arábica e no Saara e, na subida para o norte, também afeta a maré da Laguna Veneta, causando a famosa Acqua Alta de Veneza.

Depois do Scirocco, mais um derivado do Golf ganhou o nome de um vento. Ou melhor: três nomes. Estou falando do sedã do Golf, conhecido como Jetta, Bora ou Vento.

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Nas duas primeira gerações ele foi batizado de Jetta, que supostamente é derivado da chamada corrente de jato (ou jet stream, em inglês e alemão). Elas são correntes de ar que se localizam na transição entre a troposfera (onde a temperatura da atmosfera diminui devido à altitude) e a estratosfera (onde a temperatura aumenta junto com a altitude), e são provocadas pela combinação desses fatores com a rotação da Terra. As correntes de jato são as correntes de ar mais fortes do planeta, causando as temperaturas baixíssimas da Antártida (que podem chegar a 80ºC negativos) e seu clima seco.

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Na terceira geração do sedã do Golf, a Volkswagen decidiu adotar um outro nome inspirado no mesmo tema: Vento, que é a palavra que designa o ar em movimento em italiano — e português, como todos nós sabemos muito bem. Depois, a quarta geração voltou a adotar o nome Jetta em alguns países (como o México), mas em outros, como o Brasil, o modelo ganhou o nome Bora, que também é o nome de um vento catabático que sopra sobre o mar Adriático em direção à Bósnia e Herzegovina, Croácia, Montenegro, Itália, Bulgária, Grécia, Eslovênia, Polônia, Rússia e Turquia.

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Ele é formado quando uma área polar de alta pressão permanece sobre as montanhas cobertas de neve dos Alpes Dináricos na Europa, e depois encontra uma área de baixa pressão sobre as águas mornas do mar Adriático. Ele é tão gelado que mesmo após ser aquecido em sua descida, ainda chega frio e soprado a 150 km/h às regiões mais baixas, tornando o mar revolto e causando nevascas durante o inverno.

 

 

Vento ou esporte?

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Há ainda outros dois modelos que, supostamente, foram batizados com inspiração eólica: o Golf e o Polo. Segundo os defensores desta origem dos dois nomes, Golf vem de “Golfstrom”, que é o nome alemão para a Corrente do Golfo; e Polo vem de “Polar Wind”, que é um dos nomes do fluxo de plasma nos polos da Terra. Se você procurar na internet é essa explicação que você encontrará para cada um deles.

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Mas tem um problema elementar nesta teoria: a Corrente do Golfo não é um vento, e sim uma corrente marítima. Ela se forma no Golfo do México (daí seu nome) com alguma influência dos ventos alísios (Passat), porém é mantida pela diferença de temperatura das águas e é tão profunda que não chega a ser influenciada pela atmosfera depois de sua formação.

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O mesmo vale para o Polo. Apesar do nome “Polar Wind” (“wind” é vento em inglês), não se trata de um vento, e sim de um fluxo de plasma causado pela interação do vento solar (que também não é um vento, e sim uma emissão contínua de prótons, elétrons e neutrons) com a atmosfera da Terra.

A hipótese de que os dois não sejam inspirados realmente por uma temática “eólica” ganhou força no início desta década, quando Eberhard Kittler, porta-voz da Volkswagen Classics, pesquisou nos documentos históricos da marca e não encontrou evidências de que a marca optou deliberadamente por usar apenas nomes de ventos em seus modelos refrigerados por água nos anos 1970 e 1980. Ele chegou a consultar executivos envolvidos com os lançamentos na época, e nenhum deles sabia dizer se havia alguma definição temática sobre os nomes.

Em entrevista ao site The Truth About Cars, o nome Polo, por exemplo, pode ter surgido até mesmo como homenagem a Marco Polo, o mercador veneziano que navegou pelo mundo no século 13, servindo como uma referência ao caráter global da Volkswagen.

Por outro lado, nosso palpite é que Golf e Polo tenham surgido de uma nova temática esportiva que ninguém na Volkswagen lembra como aconteceu e que também não foi registrada em documentos oficiais. Talvez o Golf realmente tenha surgido como referência à Corrente do Golfo, porém ao receber sua versão esportiva, a Volkswagen pode ter decidido olhar para o outro significado da palavra, o que explica o pomo do câmbio imitando uma bola de golfe e o tecido xadrez nos bancos (como as calças tradicionais dos jogadores de golfe).

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No mesmo tema a versão utilitária do Golf, o Caddy, ganhou esse nome como referência ao assistente que carrega os tacos de golfe de um jogador, o caddy (ou “caddie”); o Polo foi batizado com o nome do nobre esporte jogado com tacos e montado em cavalos; o Derby, sedã do Polo, com o nome de um tipo de corrida de cavalos (dérbi ou derby), e o Gol, que é o tento máximo no jogo de futebol.

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A Volkswagen pode realmente não ter registros do uso oficial destas temáticas, mas a relação entre os modelos é tão óbvia que é difícil imaginar que em algum momento dos anos 1970 um dos chefões da marca tenha conversado com outro em um corredor, em um almoço ou após da festa de encerramento de fim de ano da empresa, e definido informalmente que eles usariam estes temas. Ou que os nomes fossem filhos de um homem só, que aprovou os nomes por uma questão de lógica que só ele percebeu. Ou ainda que essa coincidência de temas sejam o maior easter egg da história. Vá saber.

 

Bonus track: povo no litoral

No Brasil a Volkswagen adotou dois nomes relacionados ao litoral brasileiro: Parati e Saveiro. O primeiro é o nome da famosa cidade litorânea fluminense, que no período colonial foi sede do maior porto de exportação de ouro do país. O carro apenas trocou o y de Paraty pela letra “i’.

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Já a picape da Parati (ou do Gol, se preferir), tem seu nome inspirado nos saveiros, que são barcos artesanais feitos de madeira e com aproveitamento máximo da hidrodinâmica. Os saveiros são barcos mais populares no Brasil e em Portugal, e são construções simples, supostamente desenvolvidas pela Escola de Sagres no início do século 15.