Você gosta de música eletrônica? Eu também não gostava. Mas aí, conheci o retrowave, e tudo mudou. Não estou dizendo que você vai se apaixonar, mas espero que sim, porque o negócio é bacana mesmo. Você deve ter percebido que, nos últimos tempos, a cultura oitentista voltou com tudo.
É só lembrar que a Nintendo fez sucesso com o NES Classic Edition (e como aproveitou para anunciar, há alguns dias, o Super Nintendo Classic Edition), e que a TecToy fez o mesmo com o Mega Drive; que séries de TV e filmes estão embarcando nesta onda – como Stranger Things, que lembra muito o clássico “Conta Comigo” em versão de terror, e Drive, o filme de 2011 com Ryan Gosling, e que a moda daquela época vem influenciando roupas e acessórios atuais.
O retrowave, synthwave ou out run electro surgiu em meados dos anos 2000 e é a música que embala esse revival dos anos 80. Os nomes do gênero derivam da sua atmosfera retrô e do uso de sintetizadores (analógicos, de preferência). São músicas que surgiram na Internet, feitas por artistas dispostos a dar uma roupagem atual à estética e à sonoridade oitentista, influenciados por toda a cultura pop da época. A música abusa de sintetizadores, graves bem destacados na mixagem (com baixo e bateria assumindo toda sua artificialidade) e andamento não muito rápido, variando entre 90 e 120 bpm. Isto fica bem claro com a trilha sonora de Stranger Things, composta pela banda S U R V I V E, por exemplo.
Na maioria das vezes, canções de retro/synthwave não têm vocais. Mas há algumas exceções, como a bela “Nightcall”, do DJ francês Kavinsky. Quem canta é Luisa Lovefoxxx, ex-vocalista da banda brasileira Cansei de Ser Sexy.
“Mas que diabos isto tem a ver com carros, FlatOut?”
Você não percebeu ainda? O fato de ter sido usado proeminentemente em Drive é uma dica. Boa parte dos artistas de retrowave adota os carros oitentistas como parte de sua estética geral, seja na arte dos álbuns, nas fotos de divulgação ou nos videoclipes.
Além disso, o nome outrun electro é uma referência ao clássico Out Run da Sega, arcade que te permitia escolher a trilhas sonora que tocaria antes da corrida. Não foi à toa que as músicas do jogo se tornaram cult e foram relançadas recentemente no Spotify.
Isto ficou ainda mais evidente após 2010, quando uma onda retrowave tomou conta da Internet. Games retrô, como Horizon Chase e Drift Stage, gravadoras dedicadas exclusivamente a lançamentos digitais do gênero, compilações no Youtube e produções de nicho como o incrível Kung Fury trataram de espalhar a estética retrofuturista pelo mundo.
Então, ficou impossível navegar por algumas horas e não topar com algum gif com neon, uma Ferrari Testarossa, Lamborghini Countach ou DeLorean DMC-12, uma estrada em wire frame e um enorme sol laranja, rosa e roxo no horizonte, como uma paisagem de uma versão cibernética de Miami Vice. Isto é retrowave.
Existe uma bela cena de artistas que seguem esta linha. Lazerhawk, pseudônimo do americano Garrett Hays, é um dos mais conhecidos. Seus álbuns Redline e Dreamrider, por exemplo, são totalmente inspirados pelos supercarros da década de 1980. Ele também é fundador do coletivo de artistas retrô Rosso Corsa, que não tem este nome por acaso: é inspirado pelo tom de vermelho da Ferrari.
“Redline” é mais frenético, enquanto “Dreamrider” é mais atmosférico
O retrowave tem um carinho especial pelos esportivos dos anos 80 porque eles eram parte importantíssima da cultura pop na época. Miami Vice não seria a mesma coisa sem a Testarossa branca; Tom Selleck seria só mais um policial bigodudo na TV se não fosse pela 308 GTS em Magnum P.I., e o que seria de “De Volta para o Futuro” sem o DeLorean ou de “A Super Máquina” sem… a Super Máquina?
É por isso que estou dizendo: se você curte carros oitentistas, gosta de revisitar os games clássicos da sua infância, mas não curte música eletrônica, talvez o retrowave te conquiste. Além disso, descobrir música nova (mesmo que seja música nova com cara de música velha) é sempre bom, não?