Você não precisa ser puritano aqui: admita que você já deu uma brincada com o carro em uma rua deserta em um dia de chuva. Fica tranquilo, não vamos contar para ninguém! De qualquer forma, por mais que seja bacana passar alguns minutos ao volante sobre asfalto molhado, nem tudo é diversão: nas grandes metrópoles, é muito comum que a fina camada de água sobre o pavimento se transforme em um verdadeiro rio, alagando centros urbanos e causando um grande prejuízo, seja às pessoas ou aos cofres públicos (o que, em última instância, acaba sendo a mesma coisa).
Mas e se o asfalto fosse capaz de absorver a água e enviá-la de volta aos reservatórios subterrâneos? Pois é exatamente esta a ideia da companhia britânica Tarmac, que desenvolveu um composto de concreto asfáltico permeável capaz de absorver até 4.000 litros de água em um minuto. Sua capacidade média de absorção é de 600 litros por m² a cada 60 segundos.
A Tarmac foi fundada em 1903 pelo britânico Edgar Purnell Hooley, que em 1903 desenvolveu um revestimento para estradas feito com piche (em inglês, tar) e madacame (em inglês, chamado macadam), que ele batizou e patenteou como tarmac. Nos países que falam inglês, tarmac é usado como sinônimo para qualquer tipo de revestimento rígido, como asfalto e concreto — é como chamar lã de aço de “bombril” ou sabão em pó de “omo”. Em bom português você pode chamar de asfalto mesmo.
O fato é que, há mais de meio século, a Tarmac desenvolveu um revestimento de concreto asfáltico permeável. Só agora, no entanto, o composto foi reformulado para suportar o peso do tráfego. Sua adoção seria um processo lento, mas poderia mudar o asfalto como o conhecemos. Para você entender melhor do que estamos falando, dá uma olhada no vídeo abaixo:
O funcionamento da mistura, chamada Topmix Permeable, não é difícil de entender: os pedregulhos misturados ao concreto asfáltico são maiores e ficam mais espaçados entre si, permitindo que a água escoe pelos vãos. Resumidamente é um asfalto mais “grosso”. Olhando mais de perto, dá para perceber como a superfície é porosa:
O resultado é a capacidade de absorção do pavimento, que também pode funcionar como um reservatório. Isto porque, abaixo do revestimento superior, há uma camada mais densa — a camada de atenuação, que absorve a água de forma mais lenta e serve para escoar o volume até um reservatório subterrâneo. Ou seja: a água não é “perdida”, e sim encaminhada até a tubulação da cidade e utilizada normalmente — depois de filtrada e purificada, obviamente. Isso também evita a erosão subterrânea, que poderia causar “dolinas” (os chamados sinkholes) que quebram o asfalto por baixo.
Visão em corte do Topmix Permeable e da camada de atenuação
De acordo com a Tarmac, não seria necessário substituir toda a pavimentação de uma cidade pelo Topmix Permeable — uma solução possível seria aplicar o revestimento em apenas algumas áreas estratégicas, de modo que a água acumulada sobre o asfalto comum escorresse até o revestimento permeável.
Além de atenuar enchentes e alagamentos nas ruas, o asfalto poroso também acabaria com poças d’agua em rodovias e estacionamentos, por exemplo, tornando estes locais mais seguros para veículos e pedestres. E mais: superfícies revestidas com o asfalto permeável não ficam tão quentes em dias de calor, pois a água armazenada evapora e resfria a superfície.
Só existe um problema: a utilização do asfalto permeável seria inviável em localidades muito frias no inverno. A água armazenada no sistema congelaria e, como aprendemos nas aulas de física, se expandiria, danificando o pavimento permanentemente.