Para haver um recorde de verdade, é preciso concorrência – que o diga a movimentada tabela de voltas mais rápidas em Nürburgring, com dezenas de categorias diferentes, cada uma em sua disputa pela soberania no Inferno Verde. Nürburgring é uma verdadeira Meca para os entusiastas, isto é fato – como também é fato que, com seus 20 km de asfalto, diferentes condições de piso, dezenas e dezenas de curvas e muita variação topográfica, um bom tempo no ‘Ring é uma ótima forma de medir a excelência de um projeto. Mesmo que não seja um esportivo puro-sangue. Até mesmo SUVs têm sua própria disputa de recordes em Nürburgring – e, atualmente, o Audi RSQ8 é o detentor do tempo mais rápido: 7min42s253, aferidos no fim de 2019.
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Agora, vamos voltar para o Brasil. Mais precisamente para São Paulo, no Autódromo José Carlos Pace – nosso adorado Interlagos. Por mais que não seja o destino dos sonhos de todos os fãs de carros do Planeta, Interlagos é algo nosso – um circuito cheio de história, que fez parte da gênese do automobilismo brasileiro, que já recebeu dezenas de edições da Fórmula 1, e que precisa ser valorizado, ainda mais nestes tempos de mudança na indústria automobilística e no próprio automobilismo.
E é por isso que achamos interessante a última ação da Jaguar no Brasil – eles levaram um F-Pace SVR, a versão mais potente e veloz de seu SUV, para uma volta rápida em Interlagos com o piloto Sérgio Jimenez, da Jaguar Brasil Racing, que recentemente foi o campeão da temporada 2018/2019 da Jaguar I-Pace Trophy, categoria monomarca feita para o utilitário elétrico da fabricante.
É um cara que conhece Interlagos e tem experiência com SUVs velozes. Confira o onboard abaixo – no qual dá para ouvir muito bem o delicioso rosnado do V8 supercharged de cinco litros, 550 cv e 69,3 kgfm de torque.
Com o Jaguar F-Pace nas mãos, Sérgio conseguiu virar 1min54s576 nos 4,3 km de Interlagos – e, de quebra, chegou aos 244 km/h na reta dos boxes. Para se ter ideia, um carro da Stock Car geralmente chega aos 250 km/h no fim da reta. Se você não está familiarizado com os tempos do circuito, fique sabendo: é uma bela marca. E uma boa forma de constatar isto é comparar este tempo com o ranking da Fullpower Lap, já tradicional disputa de tempos em Interlagos promovida pelos nossos colegas da revista.
Começando com a concorrência “dentro de casa”, de certa forma: no ranking de 2019, o Jaguar F-Type R, que tem exatamente o mesmo motor, mas pesa menos (1.665 kg, contra 2.070 kg do F-Pace SVR), virou 1min50s320 – pouco mais de quatro segundos mais rápido que o SUV, suficiente para ficar na quarta posição.
Para efeito de comparação, no topo do ranking de 2019 está o Porsche 911 Carrera S, com seu flat-six biturbo de três litros, 420 cv e câmbio PDK de dupla embreagem e sete marchas – ele virou 1min46s140. O segundo colocado foi o Audi R8 V10, com 610 cv e tração nas quatro rodas, que virou 1min47s641.
Na lista de 2019 da Fullpower Lap, o F-Pace SVR ficaria entre o 11º colocado, o Porsche 718 Boxster, que tem um flat-four biturbo de dois turbos e 300 cv e virou 1min54s210; e o 12º colocado, o BMW M2 – que tem 410 cv em seu seis-em-linha, também biturbo, e virou 1min57s692.
É claro que aqui estamos lidando com mundos totalmente diferentes – o F-Pace SVR é um SUV de duas toneladas que aposta na força bruta para ser veloz, e não um esportivo compacto, de entre-eixos curto, que nasceu para divertir ao volante e se sair bem na pista. Isto é um atestado à qualidade do trabalho que a Jaguar fez com o SVR, incluindo o acerto da suspensão, a adoção de discos de freio de 395 mm na dianteira e 396 mm na traseira, e as modificações aerodinâmicas que garantem um coeficiente aerodinâmico (Cx) de 0,37, baixo para um SUV de seu porte.
Agora, voltando à questão inicial… ainda não dá para dizer que o tempo do F-Pace SVR é um recorde, de fato, simplesmente porque não há tempos aferidos por outros SUVs para comparar. Mas seria interessante – o “algo bom” a que nos referimos no título deste post — se a iniciativa da Jaguar fosse seguida por outros fabricantes. Não temos Nürburgring, mas temos Interlagos, e seria divertido ver as as fabricantes que atuam aqui usando o autódromo em São Paulo como uma forma de medir forças, ganhar publicidade e nos entreter com onboards. Não precisam ser só SUVs!