Não faz muito tempo que falamos sobre a Emory Motorsports aqui no FlatOut – eles mostraram recentemente o Emory RSR, seu Porsche 356 inspirado pelo mítico 935, e equipado com um flat-four turbinado de 400 cv. Um kleine monster, sem dúvida, e uma interpretação bastante radical do primeiro Porsche de rua.
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A mais recente criação da Emory, porém, é a antítese do 356 RS em diversos aspectos. Trata-se do Emory 911K, uma ode à velha escola, com estilo limpo, motor flat-six naturalmente aspirado e foco na redução de peso como forma de garantir desempenho matador. Não por acaso, ele foi inspirado em um dos Porsche mais leves que existiram.
Nos referimos ao Porsche 908-010 K, protótipo que competiu entre 1968 e 1971 e que usava um motor flat-8 de três litros e 350 cv – naturalmente aspirado, com comando simples no cabeçote e redline próxima das 9.000 rpm. Ele também era muito leve, com parcos 650 kg, e foi usado por Vic Elford durante a temporada de 1968 do Mundial de Endurance. O exemplar em questão, de chassi nº 10, tinha a letra “K” depois de seu nome por causa da traseira curta, ou Kurzheck em alemão. Acredita-se que apenas cinco carros com traseira curta foram feitos.
Um comentário à parte: repare como o 908 fica pequeno perto do 911
De cara, nota-se a inspiração pelo esquema de pintura: o carro é totalmente branco Light Ivory, apenas com o bico pintado de amarelo Signal Yellow. Com o Porsche 908 pintado nestas cores, o britânico Vic Elford e o alemão Jochen Neerspach participaram das 24 Horas de Spa de 1968, corrida que iniciaram na quarta posição mas não conseguiram terminar, devido a um acidente. Depois disto, ele passou quase 30 anos guardado na Suíça antes de ser vendido, no fim dos anos 1990, a um colecionador nos EUA. Por fim, ele trocou de mãos algumas vezes antes de passar por uma restauração completa na década de 2000.
O Porshe 908-010 foi um dos destaques durante o Pebble Beach Concours D’Elegance de 2018. Detalhe: Rod Emory, o fundador e cérebro da Emory Motorsports, é amigo do atual dono do carro, o colecionador Cameron Healy, e a companhia é a responsável pela manutenção do carro já há alguns anos.
Além das cores, o Porsche 911K também ganhou rodas 15×7 polegadas inspiradas pelo 908-010 – feitas sob medida pela Fifteen52, elas são pretas, com cinco raios e cubo rápido, exatamente como no protótipo. Os pneus são os Pirelli CN36 do catálogo vintage Pirelli Collezione (saiba mais sobre estes pneus aqui), que fornecem um visual correto de época, mas com materiais mais modernos.
Há diversos outros detalhes no carro que evocam o protótipo sessentista – olhando com atenção, nota-se a buzina dupla brotando pelo para-choque, os faróis auxiliares ao estilo dos 911 T/R (que dão ao 911K ares de carro de rali) e as telas na dianteira e na tampa do motor.
O minimalismo domina todo o projeto, por fora e por dentro. A carroceria, por exemplo, foi mantida com o estilo narrow body tradicional – o que dá ao carro um aspecto mais purista e proporciona um sopro de ar fresco em meio a tantos 911 alargados, como os carros da Singer. O interior preserva a mesma filosofia “menos é mais” – não há nada que não precise estar ali, nada que tenha apenas função estética: dois bancos concha baixos, com revestimento em tecido Veltex vermelho, resistente a chamas; manopla de câmbio Momo em madeira balsa ao estilo dos Porsche de competição; os instrumentos clássicos dos 911 preservados; uma gaiola de proteção parcial, que também serve para prender os cintos de cinco pontos; e um volante Momo Prototipo forrado em couro. Os painéis de porta são simples, e as máquinas de vidro foram eliminadas, substituídas por um sistema por cintas de couro, modificação comum em carros de competição na época.
É interessante a ausência de alguns elementos – a capa do painel de instrumentos é desprovida de qualquer tipo de pintura ou forração, apenas na fibra nua; e mesmo a capa da coluna de direção foi suprimida, deixando expostos o mecanismo das alavancas e alguns fios. Apesar disso, o interior não parece inacabado. Dá para ver que tudo foi calculado com esmero, e executado de forma impecável.
Da mesma forma, o conjunto mecânico seguiu a filosofia do “menos é mais”. Trata-se de um flat-six naturalmente aspirado, arrefecido a ar e construído do zero, com 2,5 litros de deslocamento, dois carburadores Weber 40 IDA 3C, módulo de ignição MSD e, como toque especial, uma ventoinha horizontal aos moldes do Porsche 935 e do Porsche 917, envolta em uma airbox de fibra de vidro.
Segundo a Emory, o motor entrega 190 cv – mais do que o suficiente para empurrar o 911 de menos de 870 kg com bastante desenvoltura. O conjunto é arrematado pela suspensão com molas e amortecedores KW, ajustáveis em três níveis, e freios de competição.
Como todo modelo da Emory, o Porsche 911K foi construído artesanalmente, usando como base um Porsche 911 que foi totalmente desmontado para encontrar e resolver quaisquer problemas estruturais. E este aqui ainda é um projeto one-off, feito sob encomenda, do qual não haverá outro – a não ser, é claro, que algum outro fã do Porsche 908 tenha uma conta bancária recheada o bastante.