Conforme anunciado, a Porsche apresentou hoje seu primeiro carro elétrico, o Taycan. Para a fabricante alemã, foi uma revolução friamente calculada: eles não queriam lançar um SUV elétrico, pois isto iria contra os princípios da marca; mas também sabiam que um esportivo elétrico atenderia a um nicho restrito demais. Então, o caminho escolhido foi o de um sedã de luxo – uma espécie de Panamera ainda mais high-tech. Faz sentido: a Tesla até agora não encontrou um rival à altura de seu bem-sucedido Model S. Com o Taycan, a Porsche pretende acabar com isto.
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Ao nosso ver, a estratégia da Porsche é utilizar sua reputação e sua experiência para criar uma alternativa mais entusiasta e menos geek ao Tesla Model S. O Porsche Taycan é feito para quem quer um carro bom de guiar, com tradição – algo que se pareça menos com um gadget sobre rodas. O que de forma alguma quer dizer que ele não traz tecnologia avançada. Pelo contrário: em muitos aspectos, certamente o Porsche Taycan está na vanguarda.
Sem nos surpreender, o Porsche Taycan parece bastante com o conceito Mission E – este, revelado exatamente quatro anos atrás. Naturalmente, foram feitas algumas mudanças: a abertura no para-choque dianteiro ficou maior, e o difusor traseiro ganhou um desenho mais discreto. Além disso, as portas suicidas na traseira foram eliminadas, e o carro ganhou retrovisores externos.
O Porsche Taycan tem 4.963 mm de comprimento, 1.965 mm de largura, 1.379 mm de altura e 2.900 mm de entre-eixos, pesando pelo menos 2.300 kg. As baterias, naturalmente, correspondem a boa parte deste peso, e por isso foram posicionadas no assoalho para reduzir o centro de gravidade. No entanto, a Porsche deixou um recesso no local onde os ocupantes do banco traseiro colocam os pés, a fim de não comprometer sua acomodação.
O interior já era conhecido – e, assim como o lado de fora, tem linhas mais convencionais que no Tesla Model S. Há um quadro de instrumentos principal, na forma de uma tela curvada que emula o cluster do Porsche 911, mais uma tela vertical no console central. No painel fica a tela do sistema multimídia, e existe a possibilidade de colocar uma tela na frente do carona como opcional. Há também uma tela opcional para os ocupantes do banco traseiro, usada para controlar o ar-condicionado.
A Porsche observa que o Taycan é seu primeiro modelo a oferecer uma versão 100% livre de couro natural, usando em vez disso um material sintético chamado Race-Tex. No geral, o design interno tem a identidade clássica da Porsche, e isto deve fazer a diferença para o público entusiasta. O interior é um lugar bastante silencioso, e há um sistema que amplifica o som dos motores elétricos usando os alto-falantes. No modo normal, o som é um zumbido leve, ficando mais parecido com o ruído de uma espaçonave no modo Sport Plus. A Porsche diz que os sons foram gravados de motores elétricos de verdade, testados em bancadas.
As versões iniciais são duas: Turbo e Turbo S. Sim, a Porsche decidiu aplicar sua nomenclatura padrão ao Taycan, em vez de criar uma nova família de variações. Causa estranhamento, com certeza – e os mais puristas talvez até fiquem incomodados. O que é perfeitamente compreensível, afinal não há qualquer tipo de turbocompressor no Taycan. De fato, a palavra “turbo” pode ser entendida como um aumento no desempenho de um sistema – como os computadores dos anos 90, que tinham um botão “turbo” para dar overclock no processador e deixar a máquina mais rápida. Mas… por enquanto nos soa inadequado. Talvez nos acostumemos mais adiante.
Ambas as versões possuem tração integral, obtida pelo uso de um motor elétrico em cada eixo. No Porsche Taycan Turbo, o motor dianteiro entrega 238 cv e 30,5 kgfm, enquanto o motor traseiro rende 449 cv e 56,1 kgfm. Já no Turbo S, o motor dianteiro tem 255 cv e 44,9 kgfm de torque, enquanto o traseiro entrega 449 cv e 62,2 kgfm mde torque. A potência combinada no Taycan Turbo é de 680 cv, enquanto o Turbo S chega a 761 cv. Há, contudo, um detalhe importante: esta potência só aparece quando se aciona a função de overboost, que dura 2,5 segundos. No restante do tempo, a potência das duas versões cai para “apenas” 625 cv. O torque máximo é de 86,6 kgfm na versão Turbo, e 107 kgfm no Turbo S.
Uma das características inovadoras do Taycan está no uso de duas transmissões, com uma marcha na dianteira e duas marchas na traseira. Na traseira, a primeira marcha é utilizada pra obter o máximo desempenho na largada, enquanto a segunda marcha tem relação mais longa, usada para condução normal – ela prioriza a economia de energia.
As transmissões também servem para outro propósito: frear. De acordo com a Porsche, as transmissões são capazes de realizar até 90% das frenagens durante o uso normal do Taycan. Com isto, os freios das rodas são acionados com pouquíssima frequência. Ainda assim, a Porsche optou por discos de 415 mm na dianteira e 365 mm na traseira, com uma camada carboneto de tungstênio para reduzir a produção de resíduos, com pinças de dez e quatro pistões, respectivamente. Opcionalmente, pode-se equipar o Taycan com freios de carbono-cerâmica de 420 mm na frente e 410 mm atrás.
O carro também é equipado com um spoiler traseiro ajustável em três posições, que trabalha em conjunto com peças móveis na dianteira. Dependendo do modo de condução, o conjunto aerodinâmico prioriza o desempenho ou a economia de combustível. Nos modos Normal e Sport, a asa traseira é guardada e os flaps dianteiros se abrem. No modo Range, a dianteira se fecha para reduzir o arrasto, enquanto o spoiler traseiro fica em uma posição intermediária para reduzir a turbulência e otimizara o fluxo de ar sobre o carro. Já no modo Sport Plus o spoiler se levanta totalmente, para aumentar a downforce; enquanto a suspensão do carro o coloca um pouco mais próximo do chão e os flaps na dianteira se fecham para reduzir o arrasto.
A Porsche diz que, no modo Range, o coeficiente de arrasto do Taycan é 0,22 – o que faz dele o novo carro produzido em série mais aerodinâmico do planeta. O título antes pertencia justamente ao Tesla Model S, cujo coeficiente de arrasto é 0,23. Por outro lado, nos outros modos o coeficiente do Taycan é 0,25 – o que ainda é bem baixo.
Graças a tudo isto, e com o overboost ativado, o Porsche Taycan Turbo S leva 2,8 segundos para ir de zero a 100 km/h, enquanto o Turbo precisa de 3,2 segundos para fazer o mesmo. Isto o coloca em ligeira desvantagem diante do Model S, que em sua versão Performance é capaz de chegar aos 100 km/h em 2,4 segundos no modo Ludicrous.
A Porsche garante que o desempenho do Taycan é constante. Como demonstarção disto, recentemente um dos protótipos do sedã foi levado ao limite, realizando uma sequência indefinida de arrancadas. Por 26 medições consecutivas, o Taycan Turbo S foi de zero a 200 km/h na casa dos dez segundos, ultrapassando esta marca apenas na 27ª medição.
A Porsche diz que o Taycan Turbo tem autonomia de 450 km com uma única carga, enquanto o Turbo S tem autonomia de 412 km. Neste quesito, o Model S ainda é imbatível: a autonomia da versão Performance chega a 587 km.
Em compensação, as recargas do Porsche Taycan são muito rápidas, graças ao uso – inédito na indústria até agora – de um sistema elétrico de 800 volts, em vez dos 400 volts que são padrão entre os carros elétricos. Com isto, o Porsche Taycan pode obter 100 km a mais de autonomia com cinco minutos em uma estação de recarga de alta voltagem. Em 22 minutos e 30 segundos, consegue-se uma recarga de 80%. Também é possível carregar as baterias do Taycan em uma tomada doméstica durante a noite.
O Porsche Taycan custa US$ 150.900 na versão turbo, e US$ 185.000 na versão Turbo S – o que o coloca pelo menos US$ 20.000 acima do Tesla Model S mais caro, que sai por US$ 133.000. Apesar disto, Porsche diz que já tem 30.000 reservas para o Taycan – o que significa que, independentemente do que a gente ache, os alemães tem motivos para apostar alto em seu sucesso. Tanto que o pessoal de Stuttgart já adianta: até o fim do ano, serão reveladas versões menos potentes (e possivelmente mais baratas), enquanto a versão perua, que será chamada Taycan Cross Turismo, aparecerá até o final de 2020.