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Trânsito & Infraestrutura

Prefeitura de Paris quer limites de velocidade reduzidos para 30 km/h

Na década de 1970 o diretor Claude Lelouch amarrou sua câmera na frente de um Mercedes 450 SEL 6.9 e cruzou o centro de Paris acelerando como um maníaco e cometendo todas as infrações possíveis para gravar seu famoso curta-metragem “C’etait un Rendez-vous”. O próprio diretor afirma que chegou a mais de 230 km/h, e chegou ser detido para dar explicações às autoridades por seu momento de hooning pela capital francesa.

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Contudo, em breve você não precisará de um super-sedã alemão, nem passar de 200 km/h para ser considerado um motorista insano em Paris. Na verdade, você talvez consiga fazer isso com uma boa bicicleta, pois a nova prefeita eleita, madame Anne Hidalgo, do Partido Socialista, decidiu reduzir os limites de velocidade em toda Paris para 30 km/h.

Achou pouco? Pois saiba que em regiões onde há fluxo intenso de pedestres e ciclistas, os limites serão de absurdos 20 km/h. As exceções serão as avenidas marginais do Rio Sena, que terão limite de 50 km/h e os principais corredores de acesso à capital, onde os veículos poderão trafegar a 70 km/h.

O motivo das reduções é o mesmo de sempre: reduzir acidentes e o nível de emissões de gases do efeito estufa. Tudo muito nobre, mas simplista demais, afinal, na prática essa redução tiraria a razão de se usar um carro sem oferecer uma alternativa adequada. A razão de existência dos automóveis é justamente poder viajar em velocidades maiores do que em uma bicicleta ou a pé, e ter a liberdade de ir e vir por onde, como e quando uma pessoa bem entender.

Zone30

Como já vimos anteriormente, a maioria dos limites de velocidade de uma via são definidos de acordo com sua velocidade natural, que é a velocidade na qual 85% dos condutores percebe como ideal para as condições de rodagem. Com limites artificialmente baixos, o motorista deixa de se concentrar no trânsito e passa a se preocupar em não exceder a velocidade, o que pode causar efeitos contrários ao desejado — a falta de atenção ao dirigir é uma das principais causas de acidentes de trânsito, ao lado do alcoolismo e de velocidades inadequadas.

Além disso, a Suécia e seu programa Vision Zero já deram um bom exemplo de como reduzir acidentes. Você não precisa reduzir os limites ou priorizar uma categoria de transporte para preservar vidas quando o planejamento urbano e de transporte e mobilidade é bem executado pelo poder público e respeitado pelo povo conscientizado, condutores bem formados e trânsito fiscalizado.

Nós inventamos o carro para ir além dos limites do corpo humano e realizar coisas que não seriam possíveis se dependêssemos apenas de nossas pernas. A velocidade precisa ser controlada, claro, mas adotar níveis tão baixos, quase pedestres, é negar nossa evolução e, acima de tudo, optar pela solução mais simples, que não estimula a busca por novas ideias e nos deixa estagnados. Sem isso não conseguiremos ir muito longe. Nem mesmo de carro.