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Car Culture

Quem fez a primeira picape do Chevette?

A plataforma T da General Motors foi, sem dúvida alguma, uma das mais bem-sucedidas plataformas da história do automóvel. Ela foi a primeira tentativa da empresa, que então era a maior fabricante de automóveis do planeta, em fazer um projeto compacto para ser vendido em todas as regiões onde suas marcas atuavam. Do Japão aos EUA, do Reino Unido à Nova Zelândia, do Brasil à Coréia do Sul.

Em um caso raro na história, ela deu certo logo de cara. E em outra situação rara, o Brasil foi o primeiro a recebê-la. Caso você ainda não tenha percebido, estou falando do Chevrolet Chevette. Ele estreou no Brasil em 1973, alguns meses antes de ser lançado na Europa como Opel Kadett e de se espalhar pelo mundo com várias outras marcas e nomes.

As marcas foram sempre regionalizadas. Chevrolet no Brasil e EUA, Pontiac nos EUA e Canadá, Isuzu no Japão, Holden na Oceania, Opel na Europa e Vauhxall no Reino Unido. Os nomes quase sempre foram Chevette, Kadett, Piazza, Impulse ou Gemini — havia uma ou outra variação regional, mas sempre com uma das marcas já mencionadas. O único país onde tudo foi bem diferente foi o… Uruguai!?

Pois é. O Uruguai. O último país onde você esperaria que o Chevette tivesse uma trajetória totalmente diferente do resto do mundo. Ali no Uruguai a fabricante do Chevette era uma empresa chamada Grumett, que não era exatamente uma subsidiária da General Motors. E ela começou a fazer os carros que se tornariam o “Chevette uruguaio” antes mesmo do lançamento do Chevette.

É o que torna essa história ainda mais improvável: quem pensaria que o Uruguai faria um “Chevette” antes do Chevette? E mais: quem diria que a picape do Chevette teria sido inventada ali, e não em algum escritório chique da Alemanha?

 

A primeira picape do Chevette

Ok, eu usei uma licença poética no parágrafo anterior. O que acontece é o seguinte: o Uruguai entre os anos 1940 e 1970 era considerado “a Suíça da América Latina” devido às suas semelhanças geográficas, sociais e econômicas com o elegante país europeu. Mesmo já não sendo mais a realidade uruguaia, até hoje o pequeno vizinho do sul colhe os benefícios daquele tempo próspero. Foi quando os Grumett apareceram.

Havia na capital Montevidéu uma revenda GM chamada Esposito S.A. que, além dos carros da gigante americana, começou a fazer seus próprios modelos fora-de-série com base mecânica da Vauxhall e, para isso, lançou sua marca Grumett.

Um desses carros era uma picape baseada no Kadett, mas não naquele que veio a ser o nosso Chevette, e sim no antecessor, lançado em 1965. Os protótipos começaram a ser desenvolvidos em 1970 e eram, basicamente, um Kadett B sedã cortado e com o vigia reposicionado onde normalmente haveria um banco traseiro. Assim, todo o espaço do banco traseiro e do porta-malas se tornaram uma caçamba que, curiosamente, era fechada. O motor era o 1.2 de 47 cv lançado na Europa em 1970, produzido pela Vauxhall.

A picape finalmente foi lançada em 1972, um tanto tarde para usar como base um carro prestes a ser substituído — especialmente por um modelo que seria produzido no Brasil. A Esposito, contudo, continuou fazendo suas picapes Grumett baseadas no Vauxhall Kadett e com o motor 1.2 até 1977.

Um ano antes, em 1976, eles fizeram uma versão perua do Chevette de terceira geração, que já existia na Europa, e usaram o motor do Chevette brasileiro, que era vendido no Uruguai, acredite. A diferença da perua Grumett 250M para a Kadett Caravan era o material da carroceria: no Grumett ela era feita de fibra de vidro, porém com as portas de aço — provavelmente por usar as mesmas do Chevette brasileiro. Na Kadett Caravan a carroceria era, claro, toda de aço.

Como o Grumett 250M vendeu bem e a picape já estava defasada, era hora de atualizá-la. E aqui a história fica interessante.

 

A picape que a GM não fez

Entre o lançamento do Kadett/Chevette e a atualização da linha Grumett, a Vauxhall considerou fazer uma picape e uma van do Chevette para substituir sua antiga Bedford HA, mas acabou cancelando o projeto em favor da Astravan, que foi lançada em 1980.

Uma pequena contextualização antes de seguirmos em frente: o nome “Astra” foi usado pela primeira vez na versão britânica da quarta geração do Opel Kadett. Ou seja: o Vauxhall Kadett B foi substituído pelo Vauxhall Chevette (Kadett C, o nosso Chevette), que foi substituído pelo Vauxhall Astra (Kadett D, que não foi vendido no Brasil), depois pelo Vauxhall Astra Mk2 (Kadett E, o mesmo que chamamos de Kadett aqui) até que, no início dos anos 1990, a GM unificou o nome Astra para o sucessor do Kadett.

Ok, agora voltando à história: por alguma razão inexplicável a Esposito S.A. usou o mesmo design para fazer sua nova picape… e acabou fazendo, em 1978, a picape que a GM não fez. Ou melhor dizendo: só faria cinco anos mais tarde, quando a Chevrolet Chevy foi lançada no Brasil.

Um fato curioso é que, por usar a base da perua europeia, as Grumett continuaram usando a dianteira britânica até o lançamento da Marajó, em 1980. A partir dali as picapes começaram a ter o visual da perua brasileira. Mas foi por pouco tempo: em 1982 a Esposito encerrou a produção dos Grumett porque elas já não faziam mais sentido com a exportação da Marajó e da recém-lançada Chevy 500 para o Uruguai.

A Chevy 500, no fim das contas, foi a primeira e única picape oficial do Chevette.

Não. Plot twist.

 

A picape do Chevette que a GM fez… antes da Chevy

A Chevy 500 não foi a primeira picape oficial do Chevette (e, obviamente, também não foi a única). A primeira picape do Chevette veio de um lugar tão improvável quanto o Uruguai na época: a Coreia do Sul.

Em 1979, apenas um ano depois da picape Grumett uruguaia, a Daewoo — na época já uma subsidiária GM — lançou na Coréia do Sul a picape Saehan Max, mais tarde rebatizada como Daewoo Max. Ela era equipada com uma configuração de 1,3 litro do motor OHC do Chevette (originalmente um motor Isuzu) que, mais tarde, foi ampliado para 1.5 litro. Havia ainda a opção de motor diesel 2.0, oferecida a partir de 1980.

A Daewoo Max foi um grande sucesso de público na Coréia do Sul, sendo exportada também para a Grécia como Saehan Max 850 até 1980, e produzida localmente até 1988, quando deixou o mercado sem deixar substituta.



 

A picape do Chevette que nós vamos fazer

Bloco 2.0 closed deck, cabeçote 16V X20XEV e turbo BorgWarner K27. Tudo redimensionado: transmissão Eaton de S10, diferencial Dana reforçado, freios de Vectra na dianteira e de Kadett GSi na traseira, e suspensão de maior carga. Essa nenhuma subsidiária da GM fez. Nem mesmo de brincadeira, na hora do almoço ou depois do expediente.

Mas nós vamos fazer e ela não será nossa. Será de um de vocês. Participe agora mesmo clicando na imagem abaixo ou neste link.