Olá, galera do FlatOut! Alguns de vocês devem me conhecer do Project Car #109, o Honda CRX em restauração/preparação, mas estou aqui para falar de um carro anterior ao tranqueira. Como sempre fui amante de carros e videogames é obvio que fiquei louco, quando surgiu o game Need For Speed Underground. As inúmeras opções de “configurar” o carro e com o tuning à toda foram horas e mais horas jogando no PS2 ou no PC. Um dos carros que mais me chamava a atenção era o Honda Civic Si 2000, que eu simplesmente achava lindo e muito divertido de acelerar virtualmente (mesmo a física sendo nem um pouco real).
Nesta época eu ainda estava começando na área de TI e por isso não tinha muita grana para investir em carros, mas tinha colocado na cabeça que teria o meu Civic Si 2000. O problema é que morando em terras tupiniquins é praticamente impossível ter um desse. A Honda não importou esse carro dos EUA e se existir algum no Brasil ele deve estar muito bem escondido.
Com isso parti para o Plano B e procurei que nem um louco um Civic Coupe 1996-98 EX. Reza a lenda que a Honda importou 500 unidades deste modelo e por isso já sabia que não seria uma tarefa fácil. Como era completamente amador neste mundo Honda, acabei comprando um Sedan 1999 LX que me deu muitas alegrias por cinco anos. Mas sempre ficava aquele gostinho de não é bem esse que eu quero.
Depois do Sedan ainda tive um VTi 1995, também conhecido com EG6. Mas por causa do meu casamento, precisava de dinheiro para aliviar um pouco as contas e vendi o EG. E é exatamente neste ponto que começa a história do Nego Véio (este nome foi uma homenagem minha para o avô da minha esposa, pois ele tinha o costume de chamar a todos de nego véio).
A Realização de um Sonho
Após anos sonhando com o Honda Coupe decidi que era a hora de realizar esse sonho. Quando a situação financeira apertou e vi que precisaria vender o VTi e pegar um carro mais barato, vi a grande oportunidade. Em conversa com amigos do HondaClub, um grande amigo chamado Henrique (vulgo Sonâmbulo) me disse que conhecia uma pessoa com um Coupe 1996 EX Preto, muito bem cuidado e que talvez desse negócio. Combinei de ver o carro com o Julio (antigo dono) e depois de dar uma volta com o carro não pensei duas vezes. Em umas duas semanas o carro estava na minha garagem.
Com o carro finalmente em mãos, parti para uma faxina completa e analise geral do carro. O interior estava impecável, com exceção do volante que já estava descascando. Bancos, teto, painel, portas e etc, tudo no lugar e sem riscos ou manchas. O exterior estava muito bom, mas depois de olhar com cuidado percebi uma repintura nas duas laterais do carro e a emenda feita na coluna traseira. Não parecia nada grave e provavelmente deve ter sido feito para retirar riscos ou minimizar a diferença de tom, pois os para-choques já haviam sido repintados.
Desenhando o Projeto
Após passar a euforia era hora de planejar o projeto e ver o que iria fazer, quanto poderia gastar e em quanto tempo queria deixar ele pronto. Para nós, reles mortais assalariados, o dinheiro nunca sobra e por isso temos que ser muito pacientes para não atropelar as coisas. Por isso montei o meu projeto em fases e tinha a idéia de “terminar” o carro três anos, que para vocês será resumido em três posts.
Primeiro decidi pela potencia e como alcança-la, pois seria a base para tudo. Eu sempre gostei de carros turbo, desde a primeira vez que ouvi o espirro de uma turbina. Mas alguns anos antes de pegar o Nego eu conheci o supercharger, mais precisamente um kit charger da Jackson Racing. Fiquei completamente apaixonado pelo sim de engrenagens daquele compressor mecânico e pelo torque quase que instantâneo ao tocar no pedal da embreagem.
Por isso decidi que iria montar um kit da Jackson Racing no coupe e gerar aproximadamente 200whp (algo em torno de 240 cv no motor). Mas para atingir tal potencia com esse kit não é uma tarefa fácil. E por isso vou dedicar o ultimo post só para falar dele.
Outra coisa que decidi fazer, é alterar o visual do carro, pois os modelos 1999-2000 possuem a frente e traseira ligeiramente diferentes dos 1996-98. Como minha meta era deixar igual ao Si 2000 (EM1), precisaria trocar toda a frente, lanternas e para-choque traseiro. E este ponto, vamos falar no próximo post.
Um ponto que não comentei antes era o fato do carro ser automático. Assim como todo gearhead eu não curto carros automáticos, outro ponto importante é que estes câmbios não aguentam muito a mudança de torque/potência e com certeza iria quebrar em pouco tempo.
E é com este assunto que iremos começar a falar do Nego. Neste post irei detalhar ao máximo o swap de câmbio que fiz na garagem de casa e dos primeiros Ups visuais.
Primeiros Upgrades
A primeira coisa que fiz quando peguei o carro, foi comprar novas rodas e pneus, pois as calotas não casavam muito bem com a meta do projeto. Além do fato de que os pneus estavam completamente carecas e precisavam ser trocados com urgência.
Não sei se muitos irão gostar, mas eu sempre sonhei em ter um carro com rodas douradas e essa cor casou muito bem com o preto do carro. Outro ponto muito importante é que elas são extremamente leves e esse foi um ponto muito a favor da compra delas.
Não sou uma pessoa muito paciente e exatamente por isso costumo meter “os pés pelas mãos” e lógico que com o Nego não foi diferente. Antes mês de pegar o carro comprei pelo eBay novas lanternas e o tão sonhado aerofólio do Si.
Como tudo que se compra lá fora, demorou alguns meses para chegar, mas felizmente chegou tudo perfeito e sem maiores problemas. As lanternas do coupe 96-98 possuem a seta laranja e me passa um ar de carro velho, já as lanternas do 1999-2000 me passam a sensação de carro mais novo e casam muito bem com a traseira do carro. Não me levem a mal, mas não consigo gostar das lanternas do 1996-98. É uma sensação diferente do CRX, por exemplo que eu acho o laranja dela como algo retrô.
Como vocês devem ter percebido o carro estava um “pouquinho” alto e procurando pela internet, achei um jogo de molas H&R a venda no Brasil por R$ 800. Não era o melhor preço na época de dólar baixo, mas considerando o fato de que em menos de uma semana estaria em casa, abracei as molas e deixei o carro bem mais baixo sem perder tanto conforto.
Para quem não sabe as molas H&R possuem praticamente o mesmo spring rate das molas Eibach, mas não baixam tanto e por isso o carro dificilmente “bate” no chão e garante muito conforto para quem esta dentro do carro. Usei esse setup por alguns anos e não tenho nada a reclamar, pois para mim foi até hoje o setup mais agradável para o dia a dia.
O Swap do Câmbio
Não sei se todos sabem, mas é muito comum para os amantes de Honda a palavra Swap. Nós amante de honda, fazemos os mais variados tipos de swap, câmbio, motor, frente, interior e etc. Isso acontece muito, pois é relativamente fácil adaptar peças de um modelo em outro. Hoje existe um mercado enorme para isso. É relativamente fácil e barato (fora do Brasil é claro) comprar peças para fazer essas adaptações, pois no mercado já existe coxins próprios, chicotes prontos e os mais diversos adaptadores.
Mas uma das coisas mais fáceis que existe é converter um Honda AT para MT, pois a Honda costuma usar o máximo possível de peças iguais. Provavelmente visando uma redução no custo de fabricação das peças e de disponibilidade no estoque.
No meu caso, eu queria passar o meu Civic Ex Automático, para o câmbio manual do mesmo modelo e este swap é praticamente desmontar e remontar as peças novas. Para tal trabalho, precisei comprar inúmeras peças, que normalmente não prestamos atenção. Suportes, travinhas, mangueiras e etc.
Uma dica para quem pensa em fazer o mesmo é comprar um conjunto usado e completo. Sai muito mais barato e mais fácil de pegar essas pecinhas que podem faltar na hora da montagem. Eu optei pelo caminho mais difícil, pois queria praticamente todas as peças novas. Por isso utilizei um site chamado HondaPartsCheap.com e lá consegui o número de série (Part Number) de todas as peças. Com a relação completa em mãos comecei a busca nas concessionárias no Brasil, estados unidos e até mesmo no eBay.
Outra dica importante é sempre comparar os preços, pois nem sempre trazer de fora compensa. Eu sei que lá fora é sempre mais barato que aqui, mas o custo do frete e impostos faz com que as peças fiquem bem cara e nem sempre compensa. Praticamente todas as peças pequenas e linhas da embreagem eu comprei no Brasil.
Outra coisa que você pode fazer também é montar aos poucos. O pessoal do HondaClub ficou me zoando por um bom tempo, só por que eu tinha um carro automático com três pedais. Montar os pedais, cilindro mestre, reservatório de fluído, e linha da embreagem não vão impedir do seu carro andar e por isso, vc ode começar por elas. Já adianto que montar os pedais é a pior parte.
Uma vantagem de morar em SP é que aqui tem muita peça a venda e por isso é fácil pechinchar um preço mais justo. Eu felizmente achei um campo de um Civic EX 00 por R$ 600 e os varões saíram por R$ 150. Mas infelizmente peças como volante do motor, embreagem, flexível e etc. elevaram e muito o meu custo nesse swap. No final das contas gastei algo em torno de R$ 4.000 para deixar o carro pronto e andando. Esse foi apenas o custo de peças, pois fiz a montagem toda na garagem de casa.
Lembra que eu disse que era quase tudo plug & play? Pois é, nem tudo. Um ponto que ninguém comenta é a adaptação necessária na alavanca e é exatamente ai que você consegue descobrir se o carro era originalmente manual ou automático.
A alavanca do automático exige um furo maior na carroceria e também necessita de uma segunda passagem para o cabo que liga no câmbio. Diferente do câmbio manual que necessita apenas de um furo redondo para a alavanca.
Neste ponto do swap, você tem duas opções. Adaptar uma tampa, para que não entre água e/ou sujeira, ou cortar essa chapa de um carro manual e soldar no túnel do carro. Claro que eu optei pelo caminho mais fácil e rápido.
Com um papelão, fiz o molde da tampa e com uma chapa grossa de alumínio fiz uma tampa para os buracos.
Outro ponto que não costumam comentar é que você pode rodar com a ECU do automático no carro com câmbio manual. Você só precisa fazer algumas ligações no chicote do seletor do câmbio, para que o carro “pense” estar em ponto morto. Eu sei que muita gente irá dizer que não é o ideal e que o mapa não funciona direito etc, mas utilizei a ECU do automático por mais de três anos e não tive problema nenhum, inclusive deixei muito carro para trás.
E assim ficou o resultado final.
Parece um carro MT original de fábrica e pronto para rodar por muitos anos, já que quase todas as peças são novas.
Se alguém precisar ou tiver interesse de ver a montagem no detalhe, neste link tenho várias fotos da montagem com todas as peças e a posição de montagem de cada uma. No próximo post, continuamos com a transformação do Civic Ex 96 para um Si 2000 Fake. Até lá, galera!
Por Leandro Garcia, Project Cars #187