Fala, pessoal! Meu nome é Marcos Ráinier de Sá, sou responsável pelo Omega CD 4.1 do Project Cars #270 e venho até aqui com o primeiro post do meu Astra, o Project Cars #245.
Como já dito antes no post do Omega e no texto com minhas impressões sobre o New York Auto Show 2015, sou um gaúcho de 23 anos, estudante do último ano de Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Santa Maria e atualmente estou em intercâmbio nos Estados Unidos na State University of New York – Stony Brook. Pronto, agora finalmente livro vocês de minha apresentação (ao menos por enquanto — quem sabe meu Fusca “Mad Max” vira um Project Cars um dia desses?).
Paixão por carros
No primeiro post do Omega contei sobre os carros de meu pai, que ao longo do tempo encantavam a minha mente entusiasta, e agora vou contar um pouco sobre minhas histórias no mundo dos motores.
Não sei dizer quando começou a minha paixão por carros, talvez tenha sido no dia que saí do hospital após meu nascimento. Fui para minha casa ouvindo a sinfonia de 250 polegadas cúbicas de deslocamento distribuída em seis cilindros em linha, que encontrava a atmosfera no final de um escapamento 6×2 dimensionado, com seus dois canos — que mais parecem uma espingarda calibre 12 apontada para os olhos do motorista do carro de trás do que uma saída de escape. Jeito um tanto poético de falar do Opala SS6 250-S branco 1976 preparado que meu pai tinha na época, mas realmente vejo muita magia neste motor.
Exemplo de um “delicado” escape 6×2. Foto: Silenautto
Porém não foi com esse Opala que eu convivi mais tempo, e sim, com o Diplomata prata azulado 1982 também equipado com o motor 250-S. Eu era apaixonado por esse carro e foi com ele que aprendi a dirigir. A sensação de acelerar um seis cilindros é a melhor injeção de ânimo que já experimentei na vida, por isso quando estiver formado e com estabilidade financeira, certamente adotarei um Opala, Caravan e/ou Omega “seis canecos” para chamar de meu.
Durante toda minha infância meus brinquedos eram resumidos em carrinhos, bonecos do Dragon Ball Z, carrinhos de controle remoto, motinhos, carrinhos, bonecos dos Cavaleiros do Zodíaco e carrinhos. Como era bom criar cidades e pistas de corrida e assim passar horas simulando fugas, ralis, grandes prêmios, arrancadas e enduros! Tempo bom aquele, chegou a dar saudade.
Até hoje eu tenho coleção de miniaturas, e junto com meu irmão Murilo, temos uma coleção de respeito até. Abaixo vocês podem ver algumas fotos da nossa coleção em um dia que juntamos todos os carrinhos (que tínhamos na época, agora tem mais) para uma limpeza.
De Ford Ka até Bugatti EB110, a coleção tem de tudo. É muita paciência juntar os Hot Wheels e Maisto por tonalidade só para a foto
Mas não era só de brincar com carrinhos que eu gostava, eu queria ir mais além e tirar tudo que ficava (e ainda fica) na minha mente todos os dias: carros e mais carros. E fazia isso de várias formas, com massa de modelar, com lápis e papel, modificando meus carrinhos ou com lixo.
Na parte de modificações eu colocava nas minhas miniaturas aquilo que via nas revistas e no cinema (leia-se 60 Segundos e Velozes e Furiosos). Suspensão baixa (as vezes até regulável), mostradores, escapamentos, novas rodas, sistemas de som e até blower. Um dia coloquei para tocar uma caixa de som funcional em um pequeno Imapala SS e nos 3 minutos da música By The Way do Red Hot Chili Peppers senti um cheiro forte. Pois é, torrei a saída do meu som, e bem que meu pai avisou dizendo “não vai dar certo Marquinhos…”. Deu certo sim! Durante 3 minutos…
Na foto abaixo da pra ver algumas de minhas modificações, como uma Ford SVT F-150 Lightning com suspensão baixa, cambagem negativa, rodas pretas, som, mostradores (não é possível ver na foto) e um scoop para o compressor que veio de um monitor de computador quebrado, e um Corvette C5 que restaurei (meu irmão danificou quando era pequeno) pintando de preto fosco e rebaixando.
Com a massa de moledar eu comecei a criar vários carros. Passava um dia todo fazendo monopostos e boxes de fórmula 1 para depois usar minha imaginação e simular disputas históricas e acidentes entre Ferrari, BAR (adorava os carrinhos brancos!), Benetton, Minardi (lembram da amarela?), Jaguar. Que alegria, sério! Lembro muito bem de um dia que fiz um Opala “super detalhado” de massinha com uns 9 anos e fui correndo mostrar pro meu pai o motor “seis canecos” vermelho (era um 250-S) com cabos de vela amarelos e ouvi do meu pai algo que marcou minha vida: “Legal Marquinhos, mas o Opala é seis em linha e tu fez um V6”
Posso afirmar que me senti um fracasso em errar aquilo, como era possível eu fazer Opala V6 e não seis em linha? Eu não tinha passado meus longos nove anos de vida vendo que o motor parecia uma linguiça? Eu devia ter pensado melhor e ter colocado os “canecos” de forma certa, nunca me perdoei.
Mas em que isso mudou minha vida? Acontece que com isso comecei a juntar ainda mais moedas e empilhar revistas de carros para ler. Comprava de tudo que era tipo, de revistas de arrancada para ver os Opalões até revistas de lançamentos europeus (tenho duas portuguesas). Lia e relia tudo que tinha ali para aprender cada vez mais. Mas uma coisa não me dava paz, eu precisava ler sobre Opalas, e não apenas sobre arrancada, então com 10 anos entrei em um site automotivo (não vou falar o nome para não fazer propaganda) e usei todo o poder da internet discada para imprimir em colorido toda a história! Depois disso vieram mais revistas e livros sobre Opala ou sobre o seu Straight-six, mas isto é outra história.
Lembro-me que de tanto ler revistas comecei a ter um problema, que era saber mais sobre carros que muito adulto metido, que não me davam conversa e me deixavam babando de brabo. Com 12 anos eu sabia a faixa de preço de TODOS os carros vendidos no Brasil, como podia alguém falar que eu não sabia o que estava falando? Enfim, tive que superar isso e muitas vezes engolir e ficar quieto, como no dia em que um amigo do pai falou dos novos carros flex de várias marcas e que queria comprar um 1.0 assim, então eu me intrometi e disse que só a Volkswagen tinha 1.0 flex, ele riu e não me deu a mínima, fui reclamar para o pai depois e ele disse “eu sei que tu estava certo”. Ufa!
Voltando um pouco eu havia dito anteriormente que criava carros usando lixo, né? Sim, eu juntava caixas, tampas, e qualquer coisa que podia virar uma peça de carro para montar um, até apresentei um carro de controle remoto feito de papelão em uma feira de ciências da escola. Dá pra imaginar que não tive muito problema em escolher minha carreira, afinal com seis anos a professora perguntou a profissão que cada um gostaria de ter, e no meio de médicos, policiais e bombeiros tinha eu falando “engenheiro mecânico, para fazer carros!”. Cheguei a pensar em ser desgin automotivo, mas uma conversa com o presidente dos designers do Rio Grande do Sul abriu meus olhos e percebi que teria que desenhar muitas outras coisas além de carros, que era o que eu queria.
A última forma de tirar os carros de minha cabeça era desenhando (por isso pensei em ser designer). Na maioria das vezes eu fazia um modelo totalmente novo, criando tudo do zero, e nas outras eu fazia modelos reais, principalmente da Chevrolet. Mesmo sem nunca ter feito um curso de desenho ou usando material para isso (só usava e uso lápis normal HB) os desenhos ficavam bons. Posso até dizer que “previ” a identidade visual que a Peugeot usa hoje quando fiz um espotivo chamado 909 Flame com o mesmo estilo adotado pelos carros da marca hoje em dia, e fiz isso a uns 10 anos (quando voltar pro Brasil tentarei encontrar o desenho).
Falando em desenhos, certa vez quando eu tinha uns seis anos desenhei um Opala e pedi para minha vó escrever Chevrolet, já que eu não sabia nem ler na época, e ela me olhou e disse uma frase que me indignou na época, mas depois fez sentido: “Ai maninho, a Vó não sabe escrever isso, pede pro teu pai”.
Na época eu não entendia como uma pessoa que sabia escrever poderia não saber escrever o nome de uma marca automotiva, mas com o tempo entendi que era algo complicado mesmo, ainda mais para minha vó!
Outra coisa interessante era eu com menos de nove anos desenhando Opalas de arrancada com 1.000 cv que faziam o quarto de milha na casa dos oito segundos, algo fora dos padrões da época. Meu pai olhava e falava para mim quando os mostrava: “bem legal Marquinhos, mas isso é fora de lógica”.
Podemos dizer que as coisas mudaram não é mesmo? Basta olhar a traseira turbo de hoje com seus Opalas de 1.500cv chegando até 341 km/h no quarto de milha e andando nos 8 segundos baixos ou até na casa dos 7 (o Opala Metal conseguiu).
Brincando de criar um coupé de visual retrô
Desenho mais recente, uma homenagem ao lendário Jaguar E-Type
Creio que deu pra perceber que a minha vida sempre teve carros no meio né? E só quero que continue assim durante todo o resto, afinal os carros estão longe de ser apenas um meio de transporte, são na verdade uma terapia. Como é bom passar horas com as mãos sujas sofrendo para soltar um parafuso enferrujado do meu Fusca na lavagem do meu pai!
(Deu saudade de casa e dos carros agora).
Finalmente o Astra
Pois bem, após tomar o tempo de vocês contando um pouco (sim, isso foi um pouco) sobre minha paixão por carros, vou dar introdução ao carro que no início do mês de agosto virou o Project Cars 245.
Em um dia de 2010, estava eu e meu pai na lavagem dele quando vimos um Astra sedan amarelo que saiu de fábrica branco (estava muito encardido!) com placa de São Paulo entrar no estabelecimento. O dono era um gaúcho que morou 14 anos em São Paulo e tinha acabado de voltar para São Borja-RS (minha terra natal) e estava interessado no caminhão Mercedes-Benz LP331 alemão que meu pai era dono. O Astra no caso entraria no negócio, então fomos olhar de perto o carro.
Tratava-se de um raro (para minha região) Astra GL 2002 sedan branco Mahler completo equipado com o motor C18YE. Este motor é um SOHC (comando de válvulas simples no cabeçote) com 1.8 litros movido a etanol. Pera, um Astra 2002 só a álcool? Na época eu nunca tinha me deparado com um pessoalmente (estamos em 2015 e ainda não vi outro de perto) e isso me deixou muito surpreso. Certamente seria um carro díficil de vender no interior do Rio Grande do Sul, mas para meu pai e para mim, o carro pessoal tem que ser bom e te fazer bem, sem importar o valor de mercado e facilidade de venda.
GM C18YE, sei que as letras estão apagadas no cabeçote mas tenho algo bem legal para resolver isto.
O carro era muito bom mesmo com uma quilometragem bem avançada, que era normal por ser um carro de São Paulo usado diariamente para a busca de produtos para a empresa de sorvete que o dono tinha, e apenas precisava de um dono novo e cuidadoso (ou dois, eu e meu pai). Negócio feito, era final da tarde e o Astra havia sido lavado como nunca por nós e então eu e meu pai ficamos olhando para o carro amarelado com o mesmo pensamento: massa de polir número 2, cera 3M e estopas de algodão.
Polimos o carro (na mão mesmo, não gostamos de máquina) em tempo recorde e agora sim ele começava a ter cara de um carro da família de Sá, apesar de que a grade branca e os vidros sem película deixavam ele com uma cara de uma fusão entre uma ambulância e um aquário. Não tenho fotos do momento da compra por motivos óbvios, além de amarelado ele tinha o logo VHC na lateral (sim: um Astra 1.8 com logotipo de 1.0) e só tirei foto após o polimento e a compra de duas tampinhas que faltavam, uma da parte central da roda e outra lateral para cobrir o encaixe do macaco.
Grade de ambulância, calhas e vidros de aquário, mas por pouco tempo
Detalhe no Omega que é o PC 270 na garagem e na minha faixa de calouro
Como deu pra ver na foto, eu era calouro e em agosto iria morar em Santa Maria-RS para estudar, então é óbvio que pensei que o Astra poderia ser meu, afinal eu não tinha mais o Chevette, o pai colocou ele no meu nome, eu estava indo morar fora e estudaria em uma faculdade federal! Quer dizer que eu ganhei o Astra e pude ir de carrão para aula?
Não tão rápido jovem, o Astra ainda não vai ser seu.
Não era a hora do Astra ser meu, e claro que eu entendi isso, o meu pai até chegou a colocar ele para vender em 2013 até que um dia ele me ligou e disse: “Não vou vender mais o Astra, gosto muito dele e me sinto bem em GM, vou vender a Saveiro no lugar dele!”
A Saveiro que o pai tinha na época era uma bela “bolinha” GLi 1.8 completa, com direiro a ar condicionado, vidros, travas e espelhos elétricos, direção hidráulica, acabamento em veludo, fárois auxiliares e rodas de liga, tudo original! Ela era mais econômica que o Astra e tinha a vantagem de ser uma pick-up, facilitando o transporte de algo quando necessário, além de que meu pai já tinha um sedan (no caso o Omega) e o fato dele ter pintado a grade, as rodas e os logos da VW de preto, ter rebaixado um pouco, colocado um volante Walrod, quatro Kumho Solus, um filtro cônico e um abafador esportivo de duas saídas deixava ela realmente muito bonita e legal de dirigir.
Mas a Saveiro não tinha o conforto e o acabamento de um Chevrolet como o Astra, então foi ela que deu adeus a nossa garagem.
Um fato curioso é que nessa época a nossa garagem tinha um GM 250 seis cilindros em linha, um VW AP 1.8 e um VW Boxer a ar 1300, que são três dos motores mais cultuados do Brasil.
Eu, meu irmão Murilo, meu pai Marcos, o Astra, a tal Saveiro GLi, o Omegão, a Gisele e a Pink (meu Fusca Mad Max estava chorando SAE 20W50 essa hora)
Como o Astra acabou não sendo vendido, meu pai começou a falar cada vez mais em me dar ele, e quando meu intercâmbio para os Estados Unidos foi confirmado ele disse que o carro era meu e eu poderia levar ele pra onde for quando retornar para o Brasil.
Sendo assim, agora eu tinha liberdade de fazer minhas modificações no carro, mas isso é assunto para o próximo post, onde vou contar mais sobre o Astra, as vantagens em ter um Astra com o C18YE em relação aos movidos a gasolina ou flex, o início da ideia de utilizar ele como meu Trabalho de Conclusão de Engenharia Mecânica (contarei o todo o processo do TCC durante o primeiro semestre de 2016!) e as primeiros itens para upgrades comprados durante meu intercâmbio, até a próxima!
Por Marcos Ráiner de Sá, Project Cars #270