“Rural Willys 1963, cinza e branco, câmbio de três marchas na coluna, motor seis cilindros em linha, tração 4×2, único dono”. Foi com esse anúncio nos classificados Primeiramão de 1992 que começou minha paixão. Meu nome é Warlei, tenho 44 anos, mas sou mais conhecido como Maxx pelos amigos. Neste post contarei a história do meu Citroën AX GTi, que será restaurado por mim.
Infelizmente, nunca fui de tirar muitas fotos e só tenho algumas desta Rural já restaurada. Depois dela vieram mais cinco num prazo de cinco anos. A última delas se foi em 1996, quando sofri um grave acidente — era uma 1975 quatro-cilindros e quatro marchas com apenas 10 mil km rodados. Um ônibus atravessou uma rotatória a quase 90 km/h e pegou a Rural de parachoque a parachoque jogando eu e minha família em cima de um poste.
Rural 75 com 10 mil km. Elas rodavam com placas amarelas originais de época
Até então quando solteiro só andava nos carros do meu pai, Gol, Del Rey, Monza, Chevete Hatch, Uno 1.6 R, Alfa Romeo, Fusca, Caravan etc. Quando casei com a mulher certa, vieram as paixões: perua, peruinha, SW, station wagon, break, rabecão etc… não importava como chamavam, se tinha tampa traseira ressaltada eu comprava. Tivemos desde Belina 1971, Lada Laika 1991 SW creme até Marea Turbo 99 SW tirada zero na concessionária passando por Laguna Nevada 97, Xsara Break, Xantia Break, Caravan, Palio Weekend, Elba, Subaru SW e outras que acabei me esquecendo, além de alguns hatches, sedãs e minivans, F1000, S 10, antigos etc. Nunca tive, apesar da louca vontade, as peruas BMW, Mercedes e Volvo 850 porque sempre foram carros impossíveis de se manter rodando no Brasil.
A Rural era paixão de minha esposa que me ensinou a amar esses carros da Willys e Ford, ssim como aprendemos a gostar dos franceses da década de 90. Comprei uma Xantia Break 2001 sem saber nada do carro, pesquisei na internet e achei uns fóruns de PSA e fiz alguns amigos que tinham outros carros do grupo e fui entrando nesse mundo.
Hoje tenho um 106 1999 quatro portas 1.0 que é o xodó, um 106 2001 cereja que comprei essa semana com o bloco furado já pensando em swap. E o Benedicto Citroën AX GTi, que é o que vocês querem ver.
A história desse carro na minha vida começou em 2009, num encontro de PSA. Na época eu ainda só enxergava as naves SW com cinco metros de comprimento e seus mimos e luxos. E um amigo me mostrou os mini cars franceses como o 106, 205 e o AX, na época não dei muita importância pois eu não gostava de carros compactos. Mas um dia, ao ver um vídeo do Lancer EVO tentando pegar um AX na pista, comecei a me interessar no carrinho.
Só em 2012 abandonei as SW gigantescas e, por necessidade de mais um carro pra meus filhos usarem no dia-a-dia, resolvi pegar um Sandero zero que cabia melhor na garagem e tinha um belo porta malas. Então comecei a procurar um AX. Como não achava nenhum em boas condições e preços decentes, fui atrás de um 205 ou 106 e acabei pegando um 106 MK2 prata quatro-portas por ser mais barato, moderno e pronto para rodar na cidade. Não pensava em upgrades e não queria virar escravo de mecânico. Depois do prata, tive um 2001 preto duas-portas no qual ia instalar o 1.4 do 205. No fim, vendi o motor e depois o carro.
Até que em junho de 2015 um amigo o Hideki Satake me ofereceu seu AX que estava parado a quase um ano em uma garagem. Sua vontade era colocá-lo para rodar, mas sendo dono de um 106 1.6 aspro, com filho pequeno e muitos outros impasses, ele resolveu me vender o carro.
No box ainda empoeirado e com cara de triste, aguardando ser resgatado
A novela começou na hora de buscar o carro. Paguei um guincho e fui ao estacionamento, mas chegando lá um caminhão estava parado na frente do box do AX. Resumo: viagem perdida e R$ 250 pelo ralo. No outro dia cheguei mais cedo o caminhão já ia estacionar ali de novo, mas com minhas habilidades ninjas, uma corda e um Sandero 1.6, puxamos o carro pra fora.
Fase 1 completa…. #sqn. Cheguei em casa umas 21:00 descarreguei o carro na porta e o deixei virar a noite na rua. No segundo dia fui ver o carro e lá estava uma ponta da lanterna quebrada. Vocês não sabem a dificuldade que é achar uma lanterna traseira inteira de AX no Brasil.
Fase 2, acertar os documentos para rodar tranquilo. O carro estava 11 anos sem licenciar e pagar IPVA, mas curiosamente sem multas ou restrições. Resultado: uma facada de documentação, mas faz parte do pacote. Pelo menos não paga mais IPVA.
Na frente de casa, de banho tomado e com a lanterna intacta
Feliz e contente coloquei o carro dentro da garagem na vaga destinada a cirurgias mecânicas e comecei a analisar o carro. Desmonta a frente, levanta a dianteira, solta as rodas…. opa , tem algo estranho aqui.
O antigo dono, como meu amigo Hideki havia explicado, tinha batido o carro duas vezes no mesmo lado. Ele não tinha carta e era menor de idade — foi um presente do pai para aprender a dirigir no bairro. Pais não façam essas c4g4d4s.
Quanto mais eu desmontava, mais fraturas apareciam. Até que desci o motor, limpei a frente e… soldas mal feitas com direito a mola de caminhão, suporte de prateleira e rachaduras na parede corta fogo.
Pesquisei nos sites e fóruns do velho continente e achei várias informações sobre como o AX é problemático no quesito chapas. Tem carro todo enferrujado, com as vírgulas (como os portuga chamam), caídas no meio da rua, câmbios moídos, semi-eixos arrastando no asfalto e mais bizarrices — tudo por causa das “vírgulas” que apodrecem ou sofrem com a vibração, trincam e caem soltando a bandeja. Mas como bons sobreviventes dos anos 90 e cultuados por muitos principalmente em Portugal, os caras não desistiram e fizeram vários tipos de reforços e gambiarras.
Eu, sendo um sem noção de carteirinha, enchi minha garagem com papelão e plástico ao melhor estilo Dexter e retalhei um 106 MK1 que tem a mesma estrutura só que com mais reforços nos lugares em que no AX são frágeis.
Nome sugestivo
Sempre fotografe medidas, serão bem úteis no futuro
Dexter em ação
Como bom fuçador de desmanches, achei um AX da mesma cor e com quase tudo no lugar. Não pensei duas vezes e comprei algumas peças vitais como portas, para-lamas, vidros e alguns acabamentos e peças para deixar de reserva. Com essa compra passei de noivado para casamento, até que a morte nos separe.
Desmontei toda a mecânica, vou fazer motor, suspensão, elétrica e interior, para remontar com tudo limpinho e reformado. Chamei um amigo funileiro expert em chassis, e ele me prometeu que viria buscar o carro na segunda. Ele só esqueceu de falar qual segunda e de que ano. Foram mais de três semanas indo todo dia lá cobrar a busca do carro.
Na segunda-feira, 31 de agosto, mandei o carro para o estica e puxa, finalmente:
Minha intenção é terminá-lo antes de dezembro, vamos torcer para não aparecerem mais surpresas.
Nesse meio tempo comprei algumas peças novas e outras usadas em desmanches, com amigos etc. Estou ansioso aguardando uma encomenda de meus amigos cariocas Rafa e PH de Resende/RJ. É quase um AX completo que o Rafa tinha guardado em sua garagem — sendo outro maluco por carros, por falta de um tinha dois.
Mimos novos fáceis de achar, bandejas, coxins, pastilhas e até um radiador já foram comprados. Os piscas eu achei numa loja da internet, o cara importou 50 pares e só vendeu dois até hoje. Somos uma legião de donos de AX no Brasil, rumo aos 10 sócios.
Por enquanto meu sofrimento foi esse. No próximo post tem mais. Até lá!
Por Warlei “Maxx Rider”, Project Cars #261