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Project Cars Project Cars #270

Project Cars #270: a busca pelo Chevrolet Omega perfeito para curtir em família

Salvem, amigos do FlatOut! Antes de tudo quero agradecer a todos que votaram em meus Project Cars (Omega PC #270 e Astra PC #245), fiquei realmente muito feliz e honrado por vocês terem gostado dos carros, valeu mesmo! Meu nome é Marcos Ráinier de Sá, tenho 23 anos, sou estudante do último ano de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Maria/RS e atualmente estou em intercâmbio pelo Ciência Sem Fronteiras na State University of New York – Stony Brook. Alguns meses atrás tive a honra de escrever para o site sobre as minhas impressões durante o New York International Auto Show 2015 e agora tenho a alegria de ter dois Project Cars aceitos!

 

História por trás da paixão

Seria praticamente impossível eu contar sobre algum carro em minha vida sem antes falar sobre meu pai. Foi dele que herdei a paixão por carros (e Opalas), o primeiro nome, o motor preferido GM 4100, o gosto pela música, a banda preferida (Deep Purple, vou até escrever ao som do vinil Machine Head deles) e muitas outras coisas, entre elas uma muito interessante, que é o fato de que o primeiro carro dele foi um Chevette L 1.4 1979 bege, e o meu adivinhem qual foi? Outro Chevette L 1.4 1979 bege! E para deixar mais incrível a história, ganhei o carro com a mesma idade que ele ganhou.

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Eu e o Chevette 1979.

Pois bem, pensando em toda a importância que ele tem para minha vida, o dia dos pais chegando e eu no outro lado do mundo, decidi inscrever não só meu carro, mas também o tesouro da família, o Omegão, no Project Cars como homenagem para meu pai, e agora graças a vocês eu poderei dar a ele esse presente incrível!

 

História até o Project Cars #270

Era início dos anos 90 e meu pai, na época bem jovem, era proprietário de um dos carros mais lendários fabricados no Brasil, um Opala SS 1976 branco com motor 250-S, a versão mais forte de todos os Opalas. O carro, segundo ele e todo mundo que lembra, era brutal e andava de lado, se é que me entendem. Suspensão baixa, sem ar-condicionado ou direção hidráulica (because racecar) e com motor preparado (o antigo dono usava-o em provas de quilômetro de arrancada) que patinava em quarta marcha. Eu nasci em 1992 e durante poucos anos convivi com o Opala, e diferente do normal (e como muitos aqui) eu não tinha medo daquele monstro com escapamento dimensionado 6×2 rugindo, eu era apaixonado pelo carro.

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Eu “dirirgindo” o Opalão.

Porém, nem tudo são rosas e meu pai que na época era jovem (quando nasci ele tinha 19 anos) sofreu alguns acidentes com o carro, alguns por fatalidade e outros para salvar um amigo que entrou na frente dele enquanto dirigia de cano cheio. Por esses motivos, ele teve que se desfazer do carro, e com isso perdemos o 4100 da garagem. O curioso é que esse Opala até voltou para meu avô anos depois pois o carro era no nome dele, mas sem o motor 250-S. Eu cheguei até a juntar dinheiro para comprá-lo quando tinha nove anos, mas um senhor chegou antes de mim e trocou seu Fusca 1978 1300 pelo SS (sim, um Fusca por um SS de documento), e hoje por acaso do destino este Fusca é meu – e não o sonhado Opala.

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O tal Fusca 1978, ou Mad Max, agora sob meus cuidados.

(pausa para trocar o vinil de lado)

Pouco tempo depois de perder o SS, lembro-me de meu pai indo comigo até uma revenda na minha cidade natal, em São Borja no Rio Grande do Sul, para mostrar sua futura compra – Um Opala Diplomata duas portas 1982 prata azulado também com motor 250-S. Ao contrário do arisco SS, este Diplomata era uma banheira, macio, confortável e excelente para dirigir desde que sempre fossem lembrados seus mais de 30 kgf.m de torque sob o capô. Foi com esse carro que aprendi a dirigir e convivi minha infância, e para minha alegria, tempos depois meu pai comprou outro Opala, um Standard 2.5 1981 branco também duas portas com 70 mil km rodados por R$1.800,00! Detalhe que o carro veio com 5 pneus novos de aro 14. Com pouco esforço meu pai restaurou o carro que era impecável, e agora a casa tinha duas naves na garagem. Até que um dia para minha tristeza, meu pai decidiu que queria um carro mais novo para família, sendo assim vendeu os dois Opalas e comprou seu primeiro Omega.

Este Omega era um belo GLS 2.0 1994 azul Strauss completo, com teto solar elétrico e farol de milha, bem raro de encontrar. Foi com esse Omega que entrei na adolescência, e como meu pai sempre gostou de personalizar seus carros, o Omega ganhou molas mais curtas, rodas Binno B1060 de aro 17” com pneus 225/45 Goodyear Eagle F1 e os famosos, na época, placões largos sob medida para Omega.

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Carro de bandido né?

Sem dúvidas era um belo carro, mas faltava uma coisa. Uma não, duas: dois cilindros. Meu pai e eu somos loucos por motores seis-em-linha Chevrolet e estes fazem parte de nossas vidas, pois o primeiro carro que ele entrou quando saiu do hospital ao nascer foi uma Chevrolet C14, o meu o Opala SS 76 e meu irmão Murilo o Diplomata 82, todos seis-cilindros Chevrolet. A falta do seisão chegou ao limite e o pai chegou para mim um dia e falou “preciso comprar um seizão”, e então começamos uma luta de meses.

O GLS já havia sido vendido e nada de encontrarmos aquele Omega. Foram meses de telefonemas, visitas em lojas da cidade e buscas na internet, mas nunhum carro agradava o suficiente, até que um dia encontramos um Omega branco mahler com uma foto mal tirada e um bom preço. Na hora o pai ligou, descobriu que o carro era bom, mas era automático, então sem chances.

O tempo passou e o mesmo Omega deu as caras, desta vez com fotos melhores, e o pai outra vez entrou em contato – “Marquinhos, é o mesmo branco daquela vez, o carro é bom, mas é automático…”. E agora? Tentar ter um carro automático “de velho” (pensamento triste o nosso na época) ou continuar procurando? Para nossa alegria o pai ficou com a primeira opção, conversou com o dono e viajou mais de 600 km com uns amigos até Porto Alegre para ver o carro.

Fotos do anúncio, as tenho até hoje.

 

Finalmente, o Absoluto

Na noite do dia 22 de Outubro de 2008, estava eu assistindo ao jogo Inter x Boca Juniors na TV quando o pai me telefona de Porto Alegre perguntando sobre o teste a ser feito com o câmbio do Omega, onde devemos colocar a caixa no modo Drive, pisar no freio e ao mesmo tempo acelerar aos poucos. Se a rotação do motor ficar entre 2000 e 3000 RPM, a caixa esta sem problemas no conversor de torque. O curioso que enquanto eu explicava eu escutava ao fundo gritos de “vamo vamo Inteeeer”, e perguntei de onde o pai estava me ligando, e ele: “estou no Beira-Rio vendo o jogo contra o Boca”. Ganhamos o jogo e no final o campeonato, foi o Omega que deu sorte.

No outro dia o pai foi encontrar o carro. Na hora marcada em Porto Alegre o dono errou a rua do encontro e o pai viu o carro longe na outra avenida e disse – “o carro é zero!”, e era. Tratava-se de um Omega na versão CD 4.1 completo com câmbio automático, piloto automático e teto solar. O carro pertencia a um senhor de Sapiranga que faleceu de câncer, e seu filho que não tinha onde guardar o carro precisou vendê-lo. Era um Omega que não pegava chuva, seus pneus tinham pelinhos na banda de rodagem e haviam sido colocados no carro dois anos atrás, nem preciso dizer que o carro quase não rodou durante a doença do senhor.

O estado geral do carro era impecável, seus únicos problemas eram um arranhado no para-choque traseiro, couro da direção ainda original bem gasto, uma perda de compressão na junta do cabeçote e o escapamento furado. O teste no câmbio foi feito, o carro foi cuidadosamente observado, o teste drive aprovado e a compra finalizada. O curioso e engraçado foi que meu pai (que gosta de uma brincadeira) falou que ia comprar e deu o dinheiro dentro de potes de margarina para o antigo proprietário, algo não muito normal.

Seguem agora algumas fotos do carro na época e do interior com o volante ainda com o couro original, que mostra alguns pontos fortes do modelo: a qualidade do acabamento, espaço interno e os bancos de veludo (e que belo veludo, por sinal!).

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Com a compra, uma parte de meu pai voltou para ele, lá estava mais um GM 250, 4100, 4.1 ou apenas seis canecos em suas mãos, e começava ali uma história de paixão, alegria e alguns problemas. O carro está em suas mãos até hoje e assim vai ficar até eu roubar (brincadeira pai!).

Durante os próximos capítulos irei contar a minha reação ao ver o carro, os aspectos técnicos do Omega, toda a dificuldade em manter um carro destes em um aspecto impecável, o grande cuidado com o carro no posto de lavagem do meu pai e todas as alegrias que um dos melhores (para mim e para muitos o melhor) carros produzidos no Brasil pode trazer. Grande abraço a todos e espero que tenha gostado do presente pai, te amo.

Nota: queria parabenizar o pessoal do FlatOut! pela coragem em iniciar o site após o término do Jalopnik Brasil e por ter atingido o nível que esta hoje. Aqui muitos entusiastas automotivos tem a chance de apreciar o melhor da cultura automotiva em conteúdos feitos de apaixonados para apaixonados por carros. Para mim o FlatOut! não é só um site, é um amigo que quero visitar sempre para trocar uma ideia, aprender e apreciar sobre o mundo dos motores.

Até o próximo post!

Por Marcos Ráiner de Sá, Project Cars #270

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