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Project Cars Project Cars #274

Project Cars #274: a ressurreição do Chevette Tubarão amarelo trigo – e sua primeira viagem

Olá a todos. Na primeira parte eu contei um pouco da minha história desde a infância com os Chevettes, até a compra do meu primeiro,em 2004. Hoje vou explicar um pouco sobre a minha paixão por este carro e algumas fontes de inspiração para o meu terceiro projeto. Aliás, por que três Chevettes Tubarão? Eu ouço esta pergunta o tempo inteiro e por isso vou explicar mais detalhadamente desta vez.

Meu pai sempre foi um entusiasta ao volante. Aprendeu a dirigir nos Dodges do meu avô mas depois que descobriu o quanto era boa a combinação da tração traseira com um monobloco leve e bem projetado, não queria mais saber de outro carro por uns bons anos. Na verdade ele até comprou um Diplomata 4.1, depois uma Chevrolet C-20 (seis cilindros a gasolina) mas o Chevette Tubarão 74 se manteve firme e forte na família até o fatídico acidente em meados de 98.

Cresci ouvindo que um Chevette com motor 1.6/S bem amaciado deixava quase todos nacionais pra trás quando se tratava de auto estrada. Era leve, tração traseira, entre eixo curto, tinha rodas e pneus esportivo, muita agilidade nas curvas e ultrapassagens mas sem perder o conforto acima da média para um carro pequeno. Acreditem, é um ótimo carro pra quem viaja na frente, mas só nos bancos da frente é claro. Quem duvida do potencial de um Chevette com motor mais forte, veja o que este aqui fez no inferno verde com motor 2.0 8v do Vectra, aspirado com 180 cv.

Minha primeira experiência foi ao volante deste 74 caju, mas isso dirigindo por estradas de terra do interior e com apenas  12 anos de idade, me borrando todo de medo de fazer besteira. Quando finalmente tirei carteira de motorista em 99, minha mãe já tinha um Palio EL 1.5 98 e meu pai tinha um Chevette DL 91 preto metálico. Minha primeira real experiência como motorista habilitado foi com o Palio e com o Chevette 91 e é claro, o Corsinha 95 do CFC. Com certeza naquele ponto eu ainda era leigo, qualquer experiência com um carro diferente era exótica, como uma criança descobrindo um novo mundo.

Só que o Chevette era a álcool, e Chevette a álcool no inverno da serra é um pavor. Para completar, em 99 ele já era um carro velho e apesar de ser muito mais gostoso de guiar do que o Palio, era um carro que não atraía as garotas, tudo que um jovem de 18 anos mais deseja. Por estas e outras não me apeguei nele.

Mas em 2004 a coisa mudou. Ainda existia preconceito com carros velhos e nem um Maverick GT valia muita coisa, imagina um humilde Chevette. Mas eu não quis saber de nada, minha namorada na época era uma esnobe e não queria sair comigo de Chevette, alguns amigos faziam piadinhas infames mas eu só ficava cada vez mais apaixonado por este clássico que havia acabado de adquirir. Comprava briga com todos que falassem mal de Chevette na época, coisa que hoje felizmente desapareceu, afinal o brasileiro “gear head” atualmente está mais bem informado e já sabe diferenciar um clássico de tração traseira de um carrinho de plástico qualquer.

Mas enfim, levou anos pra eu conseguir deixar o vermelho do meu jeito. Modifiquei o motor, caixa de cambio, diferencial, fiz o interior, coloquei rodas grandes e acabei ficando com receio de usar o Chevette no dia a dia. Medo de bater, de pegar chuva, sol, de ser roubado, de desgastar os acessórios. Já tinha passado alguns anos, tinha um emprego melhor, tinha condição de comprar um outro Chevette pro dia a dia.

Aí veio o rosa pantera depois de alguns meses de procura e negociações. Resolvi dar uma ajeitada nele porque tava meio mal cuidado mas cheguei a conclusão de que aquele era um exemplar raro e merecia um tratamento VIP. Acabei transformando em um carro de coleção, exemplar de exposição e foi aí que surgiu a necessidade de um terceiro Chevette, mas este sim tinha que ser um carro sem firulas. Alinhado, bom de mecânica, interior decente e nada mais. Veio o amarelo.

A única coisa que eu podia fazer pra ninguém confundir ele com um carro de pedreiro era partir pra linha “hood-Ride” ou quem sabe, sendo mais otimista, um “old-school”. A inspiração maior veio do Opel Kadett alemão das fotos e deste vídeo. Que já assisti umas 20 vezes e ainda fico arrepiado.

A pintura estava surrada com retoques de pincel por tudo, lataria alinhada, sem muitos podres e mecânica boa. O resto não aproveitava nada. Era “quase” o que eu procurava. No inicio cheguei a me arrepender, eu olhava pra ele e me dava pânico, ficava tenso. Pneus carecas, para-choques tortos, os bancos rasgados, não tinha nem carpete no assoalho. E agora? Será que vale a pena investir neste caco velho?

Chevette_Primeira lavagem_Completa

Primeira coisa foi eliminar o barro. Depois de uma lavagem completa ele ficou 25 quilos mais leve e de lá partiu direto pro mecânico. Pedi pra ele não economizar em nada, mecânica do Chevette é simples e barata. Queria um carro bom e confiável pro dia a dia e por isso ele desmontou meio Chevette.

Foi trocado embreagem, amortecedores, posto duas balanças novas, pastilhas de freio, revisados cubos, freios traseiros, flexíveis novos, desmontado carburador para limpeza e troca de reparos, colocado quatro pneus novos, troquei todo escapamento que tava amassado, coloquei coletor dimensionado e outras coisas, tantas que nem lembro de tudo. Enfim, revisado de cabo a rabo, saiu de lá de tal forma que já não era mais o mesmo Chevette pra andar.

Primeira_Revisão

De lá seguiu direto para a estofaria. Desmontar tudo e lavar por dentro que também estava cheio de barro e sujeira. Enquanto o carro estava lá, fiquei sabendo de uns acessórios originais do Chevette GP 77 a venda em uma loja de auto peças local. Fui até lá e tinha os bancos originais, o volante, o painel completo (que não me interessava) e os forros de porta de um GP II 77 que havia sido comprado em leilão.

Novo+Interior_2

Os bancos traseiros originais estavam perfeitos e intactos, os dianteiros estavam detonados, o volante já estava prometido a outro cliente e os forros de porta estragados. Acabei ficando só com os bancos que eram diferenciados e bem e de um formato diferente dos outros dois Chevettes que eu já tinha. Paguei caro demais nestes bancos, não foi um bom negócio mas o resultado final foi melhor do que e o projeto pros bancos que eu tinha em mente e deu aquela cara de old-school que começava a definir o estilo a ser seguido.

Saiu da estofaria com bancos do GP 77 restaurados, carpete novinho em folha, forro do teto novo e os forros de porta originais do meu Chevette 75 vermelho pois os dele estavam destruídos. Hora de trocar aquele tabelier de 77 todo ferrado por um original do 75 e em bom estado, console central e o painel de instrumentos também estavam imprestáveis, trocamos para-choques, grade, lanternas traseiras etc.  Como tinha comprado bancos do GP e tinha um painel de  instrumentos do GP com conta-giros guardado, achei que iria cair bem. Não estava nos planos inicialmente, ia colocar do modelo SL 80 que eu também tinha sobrando e guardado.

Chevette_Comparativo_2

Agora ele tinha bancos e painel de instrumentos de um GP 77, tava ficando interessante e pra ficar melhor ainda, alguém anunciou um volante de GP no meu grupo de Chevettes do Face. Ele era de Passo Fundo a 280km daqui. Nem pensei duas vezes, peguei minha moto e rodei quase 600 km num sábado pra buscar o volante pessoalmente. Agora ele estava com um interior quase completo do GP II. Já estava se transformando em um projeto de customização e caracterização quando um amigo do Face me ofereceu um jogo de rodas tala 6” da marca Rodabras, as raríssimas e originais do GP 7. Além de raras, são as mais bonitas e esportivas que o Chevette já teve e que só saíram neste ano, exclusívas. Não dava pra não arrematar estas relíquias.

Chevette_Comparativo

Pronto, agora ele definitivamente já tinha quase tudo do GP, faltava a cereja do bolo, um retrovisor cônico, mas não havia nenhum original a venda naquele momento. Aproveitei pra dar um trato no visual, desmontei a dianteira para limpar e pintar  a parte interna do painel frontal, molduras e suportes dos faróis. Coloquei um par de faróis de lente lisa de 100 watts pra dar um visual mais personalizado e iluminação mais eficiente.

Até aqui o Chevette já tinha ficado mais caro do que o planejado inicialmente e com as rodas dos meus sonhos que um dia pensava em colocar no vermelho formula 75. Aquela idéia inicial de que seria apenas um Chevette pro dia a dia e sem grandes pretensões em termos de estética já estava mais pra um antigo old-school e não mais com aparência de “carro de obra”. Ele estava ficando lindo, apaixonante e já era hora de botar na estrada para um passeio inaugural de teste. Rodei com ele 300km, sozinho, em um domingo ensolarado.

Chevette_Primeira_Viagem_3

Finalmente eu conquistaria afinidade e confiança no meu mais novo Chevette velho. Deu tudo certo, só alegrias. Gostoso de guiar como tem que ser mas o que incomodava era o câmbio de quatro marchas, muito limitado. Logo providenciei com um amigo meu, tão viciado em Chevette quanto eu, mas com um enorme estoque de peças de Chevette garimpadas a titulo de hobby Felipe Tauffer uma caixa de cinco marchas de um Chevette 1987. Seria a primeira modificação mecânica do projeto. A primeira de muitas por assim dizer…

Por Guto Moraes, Project Cars #274

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