Saudações Veoiteiras de novo! Bom, pra quem está acompanhando o meu PC 292, na primeira parte o Maverick tinha sido comprado e com muito custo (!) e aventura foi levado a Piedade/SP, para funilaria e pintura. Essa segunda parte é a mais chata e longa de todas, então peço paciência. É agora que vocês vão entenderem por que eu considero esse carro o Joseph Climber dos Mavericks (e eu por aguentar tanto tempo também!) Pra quem não conhece, sugiro muito que assistam!
Agora vocês entenderão por que esse carro demorou 12 anos pra funcionar com o V8 e só está ficando pronto mesmo entre 2015/2016.
Tudo que vou contar agora, aconteceu até 2002. O carro estava na funilaria havia um ano e meio. Tinta comprada, V8 comprado. Aqui cabem parênteses, pois a história do motor merece ser contada: era de um Landau que funcionava como loja de produtos de limpeza, estacionado em frente à casa do dono, em São Bernardo do Campo/SP. Num belo dia ele resolveu que não ia mais precisar do motor, anunciou no Primeiramão (sim, no jornal de papel, naquela época ainda pouca gente tinha internet) e eu fui lá de Pampa buscar. Ligamos o motor, ele funcionava, não batia, não fumava, não falava mal de ninguém…
Fechei negócio, arranjei uma girafa, motor na caçamba da Pampa e bora pra casa. Fiquei uns dias andando com ele na caçamba, fui até pra faculdade e estacionei ela na rua com o V8 atrás, coisa impensável de se fazer hoje em dia. Mas isso foi há 15 anos, a Pampa era nova, tinha seguro. O motor não valia mais que seu peso em ferro e aço.
Até aqui está fácil…muito fácil. Como eu disse no outro post, a funilaria estava demorando demais, então comecei a comprar as peças que faltavam. Tenho até vergonha de escrever aqui, mas na época comprei o Galaxie 500 1974 do meu amigo Mineiro (o da garagem do sítio, primeiro post) pra tirar o motor V8 e colocar no Maverick. A ideia era tirar o motor do pobre Galaxie e vender a carroceria e o resto das peças para a Landauto, um tradicional negociante de peças de antigos aqui de SP. Mal sabia eu que o 292 (com 4,8 litros), embora de cilindrada menor que o 302 (em polegadas cúbicas, equivalentes a 4,949 litros, ou um motor 5.0) era fisicamente maior e portanto não serviria no Maverick.
O carro foi comprado por R$ 600, em três de R$ 200. Liguei na Landauto e me ofereceram R$ 700 nele então perder dinheiro eu não iria. Mas quem disse que eu teria coragem de desmanchar o Galaxão?? Primeira partida nele, ouvi o V8 roncar silencioso, senti a maciez da suspensão e da direção hidráulica, quase desisti do Maveco. Com isso, pude matar um pouco minha sede de andar de V8. Usei o carro uns meses em Piedade/SP mas acabei trazendo ele pra São Paulo. Ia pra faculdade nele, ia pro sítio. Mas pra mim não era a mesma coisa, o sonho era o Maverick. Nessa época, dei uma “desencanada” do Maverick. Parei de ir todos os fins de semana pra Piedade, comecei a ir só de vez em quando. Toda vez que ia pra lá, voltava triste, chateado. A tinta que comprei secou e nada do carro…
Nessas andanças de Galaxie por Piedade, conheci o Leandro, um cara da cidade que tinha um Landau quase da mesma cor do meu, a ponto de várias vezes ser confundido com ele na rua. O dele era um LTD 73 e o meu um Galaxie 500 74. Comprei muitas peças dele e acabamos ficando amigos. Começamos a ir atrás de peças juntos.
Achei até um Quadrijet Holley novo na prateleira de uma loja de reforma de carburadores em Sorocaba/SP. Comprei achando que era um 600 CFM mas pesquisando no site da Holley, descobri que era um 390 CFM (Código O8007). Acabei calculando a necessidade do meu motor em CFM e descobrindo que era suficiente. Curti a ideia por ter 2º estágio a vácuo e adotei o carbura no projeto. O Leandro achou pra mim um câmbio 4 marchas do Maverick V8 e comprei também.
Aqui acho que merece outro parênteses, pra falar do meu projeto de uso do carro. A maioria das pessoas que entra numa empreitada dessas, acaba montando um carro pra performance, com tudo de competição, comando bravo, embreagem de cerâmica, freios gigantes, suspensão trabalhada de PU…Enfim, sem criticar o projeto de ninguém, mas vejo que a grande maioria dos que fazem isso, acaba usando o carro nos fins de semana, na rua mesmo. E fica de saco cheio de marcha lenta embaralhando, carro morrendo, embreagem pesada, carro duro e barulhento. E acaba vendendo ou encostando o carro. Então, primeiro por conta da minha inspiração “old school” e Hot Rod, queria um carro que tivesse uma aparência e componentes que pudessem ter sido montados na época que o carro era novo, ou nos anos 80 e 90, época em que ele seria um Hot Rod (carro barato, já velho comprado pelos jovens para andar na frente dos carros atuais da época – no meu caso Kadett GSi, Gol GTi…).
Em segundo lugar, queria um carro usável. Nada de só poder abastecer com gasolina de avião, de não poder colocar quatro pessoas dentro, de não poder tomar chuva. Queria ter história, viver uma história (ou várias) a bordo dele. Na minha opinião, se for pra ficar só olhando, eu vou num museu. Queria ir nos eventos com ele também, rodando. Modernidades, na medida em que não alterassem a aparência do carro, sua essência. Somente o que tornasse o carro mais confiável e prático, mas sem perder suas características. Dito e entendido isso, vocês vão compreender melhor as minhas escolhas de peças.
Voltando ao andamento do projeto, nesse ponto o serviço andou um pouco e a carroceria já tinha começado a receber a pintura. Me animei e comecei a levar as peças pra oficina. Lanternas traseiras, parachoques, tanque. Então um dia o funileiro me ligou. Disse que estava se mudando da oficina e que eu precisava levar um guincho lá pra tirar o meu carro pro novo local. Não pude ir naquele fim de semana e fui no próximo. Nesse dia, começou o pesadelo. Para meu desespero, o Noel não estava se mudando, mas tinha sido despejado da oficina! O lugar estava aberto e deserto, a carroceria do meu carro estava em cima de uns tijolos, semi pintada, ao relento, amassada na caixa de ar e no teto, sob sol e chuva! No meio de umas peças de fusca e Brasília, achei minhas lanternas traseiras. Fui até a casa dele e peguei outras peças, que ele conseguiu tirar antes de ser despejado. Fui até um negociador de peças usadas, que já estava com outras peças minhas, furtadas da oficina (que ficou aberta, como eu disse).
Nesse momento quase desisti do Maverick de novo. Porém, o Leandro prometeu me ajudar a terminar ele. Me ajudou a achar outras peças que eu não tinha. Levamos o que sobrou para sua casa e lá ele montaria o carro e eu ajudaria. Levei tudo pra lá. Peças usadas. Peças novas. O que eu tinha em São Paulo, quase tudo.
Mas a vida… ah… a vida é uma caixinha de surpresas.
Como na vida desse Maverick nem tudo são flores, começou outra novela. O Leandro não só não tocou no carro, como ele continuou largado ao relento. E pra piorar, minhas peças começaram a desaparecer. A cada semana que eu ia lá, alguma coisa sumia. O cara começou a vender minhas peças. Não sei até hoje se por ser meio maluco (todo mundo que mexe com isso tem um parafuso faltando) ou por má fé mesmo, quando alguém precisava de uma peça que eu tinha, ele vendia e me prometia arrumar outra. Só que não arranjava nada nem mexia no carro. Era sempre na próxima semana. Conversando com “amigos” dele, descobri que ele era assim com todo mundo.
Então, desesperado, mais uma vez, fui lá um dia e, aproveitando que ele não estava em casa, chamei um guincho e, embaixo de chuva pesada, juntei o pouco que sobrou do carro, câmbio, eixo traseiro, tanque e outras peças, coloquei na Pampa e fui embora. Pra completar, no caminho pro sítio, passando por Ibiúna/SP, a embreagem do guincho quebrou, embaixo de uma chuva torrencial. A viagem teria que ser concluída depois. Fui embora e no dia seguinte nos encontramos e ele foi me seguindo até Mairiporã/SP. Chegando lá, arrastamos o carro até a garagem coberta (digo arrastamos por que o carro estava sem eixo traseiro, tive que colocar madeira e papelão e arrastar mesmo!!) Dessa vez decidi que o Maverick lá ficaria até eu mesmo poder montá-lo e só sairia de lá rodando.
Faltavam muitas peças. Tinha portas sem dobradiças, não tinha pedaleiras, bocal do tanque, forrações internas, mola do porta mala,.. Tudo que, a muito custo, foi comprado com meu pequeno e suado salário de estagiário, ou foi furtado, ou o Leandro vendeu. Borrachas de vidro traseiro e parabrisa que comprei novas, coxins e suportes do motor, distribuidor, tampa do tanque, motor de partida, forrações internas. Não tinha mais nada disso.
Toda vez que eu ia no sítio, olhava pro carro, tentava montar alguma coisa, mas faltavam muitas peças. Me faltava dinheiro mas principalmente coragem pra voltar a tocar o projeto. Não confiava em mais ninguém pra por a mão no carro e meu tempo era escasso. Estava acabando a faculdade, nos fins de semana acabava saindo e me dedicando a outras coisas menos complicadas. Em resumo, não mexia no Maverick. Até que, numa manhã de sol, resolvi voltar a mexer nele.
Mas e o resto da história? Bom, o resto vocês conferem, logo logo, aqui no FlatOut! Um abraço, amigos!
Por Leo di Salvio, Project Cars #292