Meu nome é Fernando Pavani, tenho 25 anos de idade, resido em Pelotas/RS e tenho minha vida regida pelos automóveis.
Se a frase acima parece um exagero, a prática mostrou-se bem diferente: aprendi a ler e escrever muito cedo, com quatro anos de idade. A paixão por carros já era tanta que meus pais assinavam algumas publicações pra mim, como a Quatro Rodas, Motor Show, Auto Esporte e a portuguesa Auto Motor.
Contava meu avô paterno que, nessa época, dois rapazes apostavam sobre um modelo estacionado, antes de tirar a prova consultando o emblema traseiro. Mas me antecipei: “Olha vô, é o novo Honda Accord!”. E não é que acertei?
Por falar no meu avô, o considero uma das raízes pra essa paixão. Foi com ele que frequentei os primeiros encontros de carros antigos, ele que me presenteava com antigas Quatro Rodas da década de 80 (que eram do meu pai) e também ao lado dele que ensaiei as primeiras voltas ao volante de um carro, uma Omega Suprema GLS 1994. Me lembro quando ele trocava de carro, que sempre me convidava pra ir efetivar a negociação e/ou transferir o título de seu plano assistencial Touring pro carro novo.
Como bom contador de histórias, era divertido ouvir sobre seu Austin A40, sobre as tentativas de compra frustradas de um Dodginho (em detrimento de um TL) e o desejo de ter uma Veraneio. Também contava sobre um projeto de um Aero Willys station-wagon, desenho que consegui resgatar.
Sem dúvidas, foi um dos grandes incentivadores da minha paixão, antes de seu falecimento precoce, em 2004, num acidente automotivo. Aproveito pra registrar aqui minha homenagem e amor a este grande homem.
A paixão foi de pai pra filho, e meu pai, outro grande entusiasta, jamais demonstrou se importar em me acompanhar nessa vida. Até hoje partilhamos ótimos e divertidos momentos viajando pros encontros e avaliando carros pelo RS afora. Minha mãe, completamente isenta, não tardou pra se acostumar com as mais diversas marcas e modelos, sendo que hoje, dentre suas amigas, é das que conversa com mais propriedade quando falam em automóveis.
E assim os automóveis se tornaram parte da minha vida.
Na adolescência, saía a caminhar pela cidade com a câmera a tiracolo, na ânsia de flagrar automóveis importados, antigos e raros. Ofereci-me pra trabalhar no Museu Carro & Cidade, voluntariamente. Assim, aos 14 anos de idade, tinha uma ocupação para as tardes.
Era um museu pequeno, com acervo de veículos terceirizado, ou seja, cada colecionador, disponibilizava um automóvel de sua coleção pra exposição, por um determinado tempo. Havia uma exposição das marcas e as concessionárias ou revendedoras cediam um modelo atual pra exibição. Dessa época não disponho de fotos, mas guardo com carinho as lembranças e amizades feitas lá.
Foi um período de grande crescimento, onde buscava qualquer oportunidade de aprendizado pra estar cada vez mais envolvido no ramo dos antigos. E assim, fui convocado a buscar um Emisul Minor em Bagé, junto com um grande colecionador. Descobri que a recente aquisição de outro colecionador, um Diplomata 1992, pertencia à série especial Collectors. Conheci o pessoal do Veteran Car Club de Rio Grande-RS, que sempre me recebeu de portas abertas e permitiu que meu envolvimento no meio fosse “in loco”, convidando para vistorias de placa preta e organização de encontros.
E também foi na época do museu que ajudei a organizar o primeiro encontro de Opalas…
A paixão por Opalas
Essa paixão é plenamente justificável: herança do meu pai. O primeiro carro dele foi um Opala 1977, trocado por outro 1981. Em 1994, ele comprou um Diplomata preto granito, quatro portas, com motor de seis cilindros a álcool.
Com a chegada da internet, eu passava horas procurando fotos e informações, salvando-as num pequeno HD de 7GB. Os classificados de domingo eram lidos na sessão dos Chevrolet, numa tentativa de trocar o carro da família- na época, um Gol CL 1992 azul índigo. E assim batemos na trave duas vezes: com um Diplomata SE 91/92 vermelho Ciprius automático e com um Comodoro SL/E 1988 cinza Nimbus, com 48 mil km originais. Talvez não fosse pra ser.
Depois disso, já na época do museu, tinha algum conhecimento mais apurado e uma paixão irracional. Assim, tomei como minha a missão de promover o encontro, fiz alguns xerox do cartaz e saí distribuindo pela cidade. O encontro que começou com seis carros no almoço, registrava mais de 30 no final da tarde.
Mas meu primeiro Opala veio só em 2008. Mudamos de endereço, e com a necessidade de um carro menor (em valor), a Blazer DLX 1996 cinza Monet deu espaço a um Kadett Lite 1994, verde Greig. E recebi a carta branca do meu pai pra encontrar um Opala que recebesse o Kadett em troca.
Depois de um mês de procura, numa compra totalmente emocional, chega a nossa garagem um Diplomata SE 1988 bege arpoador com interior marrom Bison e motor 250-S de fábrica (conta-giros de 7.000 rpm, 126 cv declarados no documento, tuchos mecânicos, etc). Apesar da configuração bastante rara, esse carro estava numa conservação bem precária face a facilidade de ofertas a preços módicos que existiam naquela época. Ainda assim, foi uma boa compra: entregamos o Kadett e recebemos um valor de volta.
A pintura estava danificada, o estofamento tinha detalhes, várias peças de acabamento faltavam, a suspensão estava rebaixada. Mas nada importava: o primeiro Opala estava na garagem, e fora salvo da manolagem.
Assim, sendo ele o único carro de uso da família, iniciamos a restauração pela suspensão.
Quando foi a vez do carro ir pra pintura, eu já tinha CNH e nenhuma pressa em vê-lo do jeito que sempre sonhei. Mesmo assim, a tarefa não foi das mais gratificantes.
O serviço foi muito bem feito pelo valor que nos dispusemos a pagar, mas o fato é que o carro nunca mais voltou a ser o mesmo. Ir fazendo uma coisa de cada vez, após uma intervenção profunda, não foi algo muito inteligente- embora fosse o que as condições permitiam. Volta e meia surgia algum defeito, o que tornou esse Diplomata um lindo dissabor. Me alegrava mais em vê-lo estacionado do que rodar com ele, tamanhos os aborrecimentos. Mesmo assim, optei por guardá-lo.
Com ele, em 2008, organizei dois encontros referentes aos 40 anos do Opala: o primeiro, com 45 carros (quando a expectativa era 20). A expectativa do segundo era de 50 carros e reunimos 80, no pátio da concessionária Chevrolet.
Em seguida, tive a brilhante ideia de comprar uma Caravan Comodoro SL/E prata Lunar com interior azul Pilot, motor 4.1/S a gasolina, pra acompanhá-lo na garagem.
Mas em 2013 os vendi. Primeiro foi o Opala, quando recebi um Omega GLS 2.2 em troca, depois a Caravan. O negócio me favoreceu na época, estava investindo na carreira profissional.
Vida profissional
Obviamente, também nesse aspecto, os carros conduziram minha vida. Meu primeiro emprego formal foi na concessionária VW, onde trabalhei por dois anos e meio desempenhando as mais diversas funções. Uma grande escola onde lidei com gente da melhor qualidade.
Ao sair de lá, trabalhei em uma conceituada revendedora multimarcas de veículos premium. Minha intenção ao trabalhar lá era absorver o maior aprendizado possível, pra em um futuro próximo, montar minha própria revendedora, junto com um sócio.
E assim o fiz, em março de 2014. Alugamos um ponto comercial e tocamos a venda de diversos carros. Foi um período onde tive muitos carros interessantes: BMW E36 323i, Omega CD V6 australiano, F1000 XL Lighting 4.9i, Ford F-75 1976, Escort XR3 1989 e vários outros que sequer me lembro. Mas sempre me alegrava em ter um carro diferente na loja, embora mais tarde eu descobrisse que misturar carros “de giro” com carros “colecionáveis” não era uma ideia inteligente.
A situação econômica do país aliada a alguns desentendimentos com o ex-sócio culminaram na minha saída da sociedade.
Foi então, que um grande amigo me incentivou a ir atrás do sonho de trabalhar com automóveis colecionáveis. Montamos brevemente um “modus operandi” e com pouca procura (e indicação de outro grande amigo) encontramos o carro que deu início a isso tudo. Mas acho que isso pode aguardar pelo próximo capítulo, né?
Até breve!
Por Fernando Pavani, Project Cars #376