Olá, pessoal. No post passado comentei que contaria algumas curiosidades da fabricação desse carro e a adaptação do motor VW AP no Escort, fato que aconteceu em 1989, após a criação da joint venture entre Ford e Volkswagen (a Autolatina), que durou entre 1987 a 1996. Então senta que lá vem história…
Tirando o teto
O Escort XR3 conversível surgiu no Brasil em 1985, no modelo MK3. Foi o segundo carro conversível feito aqui, por um grande fabricante, após um vácuo de mais de uma década do último Karmann Ghia ter saído da VW, em 1971.
A mesma Karmann Ghia ficaria a cargo de, junto a Ford, montar o XR3 conversível, num processo pra lá de trabalhoso, que no início tinha uma produção de 10 carros por dia.
O processo começava na Ford, com o envio do monobloco do carro, composto de assoalho e cofre do motor. Na Karmann, distante 10 km da Ford em São Bernardo do Campo – SP, o monobloco recebia os reforços estruturais, para lamas, tampa do porta malas e as portas.
Quatro Rodas – Abril 1985
Concluída essa fase, esse “esqueleto” retornava à Ford, onde recebia os ajustes de funilaria, o banho de fosfatização para proteção contra corrosão e a pintura. Feito isso, eram montados os chicotes elétricos, painel de instrumentos, bancos dianteiros, suspensão dianteira e traseira, motor e câmbio e as rodas e pneus. Nesse ponto, o carro voltava à Karmann para receber a capota e toda sua estrutura pantográfica (importada da Alemanha), painéis de porta, laterais traseiras, banco traseiro e revestimento do porta malas.
Conversíveis sendo montados na fábrica da Karmann Ghia
O Escort então era colocado numa câmara para teste de vedação e, uma vez aprovado, era novamente enviado à Ford, onde passava pela inspeção final antes de ser entregue à rede de concessionárias.
Quatro Rodas – Janeiro 1988
O carro tinha ao todo cerca de 350 peças diferentes e 70 kg a mais (pesava 1 tonelada), em comparação ao modelo fechado, e a manufatura seguia as especificações do projeto original da Ford e Karmann Ghia alemãs, com algumas adaptações para o Brasil.
A Autolatina e o motor AP
O Escort era um carro muito elogiado pela imprensa especializada da época (nos anos 1980), mas seu calcanhar de Aquiles era justamente o motor CHT, que os jornalistas caiam matando:
Quatro Rodas – Setembro 1986
Com a criação da Autolatina, a solução para melhorar o desempenho do carro seria instalar os motores VW AP, sigla para Alta Performance, e os trabalhos para a adaptação logo se iniciaram.
Testes de amortecedores em Junho de 1987 (notem os sensores nas torres da suspensão)
Eis que, em 1989, surge o primeiro resultado da união entre Ford e VW, o Escort com motor AP 1.8, nas versões XR3 (esse com o AP 1.8 S, o mesmo do Gol GTS) e o luxuoso Ghia. As versões L e GL continuariam com o CHT 1.6. A mudança chegou em boa hora, pois o Kadett havia acabado de ser lançado e o Escort ganhava fôlego para enfrentar a concorrência.
A tarefa de adaptar do novo motor envolveu várias alterações, como a adoção de um radiador maior, novo cárter, reposicionamento de coxins, a substituição do carburador Weber 460 pelo Brosol 2E7 (com acionamento do 2º estágio a vácuo), novos coletores de admissão e escape, mudança na calibração da suspensão e do alojamento do filtro de ar e a adoção do câmbio 020 da Volkswagen, importado da Alemanha (o mesmo usado no Golf MK3).
Revista Quatro Rodas – julho de 1989
Com tudo isso, o Escort XR3 1.8 teve um ganho significativo de performance. A velocidade máxima saltou de 160,3 km/h para 175,8 km/h e a aceleração de 0-100 km/h baixou de 12,45 seg. para 10,45 seg., como relatam os testes da época.
Raio X do XR3 1.8
Um salto de 25 anos no tempo
Vamos fazer uma comparação (bizarra??) entre dois carros separados por um quarto de século? Em comum, o nome do mesmo fabricante estampado no capô.
Tendo os dois aqui na garagem de casa, quero dividir com vocês em detalhes o que mudou na tecnologia, motorização, manufatura, dirigibilidade etc. Mas vamos fazer isso no próximo post. Até lá!
Por Germinal Vilchez, Project Cars #45