Por Rodrigo Leite, Project Cars #531
Fala, pessoal do FlatOut! Tudo bem? Me chamo Rodrigo Leite, tenho 39 anos, jornalista de formação e que, hoje, atua na indústria automotiva, na área de comunicação corporativa. Mas, durante bons anos – cerca de dez – trabalhei como jornalista automotivo em diversos jornais e revistas do país, fazendo uma daquelas profissões de sonho: avaliando e comparando os mais diversos automóveis lançados no Brasil. Pelas minhas contas imprecisas de jornalistas, foram mais de 600 carros avaliados, de chineses suspeitos em estradas esburacadas a superesportivos de cifras astronômicas em impecáveis Autobahnen.
Mas, minha história com carros começa muito antes, lá na infância, ainda muito criança. Posso dizer que quase aprendi a ler com revistas automotivas e esse gosto por carros foi o que me fez definir que seria jornalista – automotivo, frise-se -, aos parcos sete anos, e que também fez com que eu tivesse uma relação muito próxima com os automóveis.
Neste ponto, vale uma nota: meu pai, hoje com saudáveis 75 anos, tem sua grande parcela de culpa em tudo isso, por ser um apaixonado por carros, daqueles que passava a manhã ouvindo John Paul Young em volume considerável enquanto ensaboava o reluzente Del Rey 1986 branco, de placas PU-5914, ou que fazia reparos na própria garagem. Tenho lembranças muito claras destas manhãs de domingo.
Vale lembrar também que a minha introdução ao volante também foi muito precoce: aos 6 anos eu já arriscava voltas rápidas nos mini-bugues de locação de shoppings (quem viveu os anos 80/90 sabe como isso era comum), ou mesmo voltas muito lentas, em segunda marcha, no quarteirão de casa, para “secar o carro” após ajudar na lavagem, com os pés esticaaaaados e o pescoço quase não aparecendo no para-brisa.
Aos 11 anos ganhei meu sonhado mini-bugue, aos 16 ele foi substituído por um Fusca (uma forma do meu pai evitar que eu aparecesse em casa com uma mobilete, sensação da época). Esse Fusca me acompanhou até os 22 anos, quando foi substituído por um Fiat Palio, uma decisão deveras imbecil.
Nesta mesma época, por volta de 2002 a 2003, que, indiretamente, começa a minha história com o Passat. Não, eu não conhecia o seu dono daquela época. Provavelmente ela estava vivendo dias de luxo em uma garagem reluzente, prestes a abandonar seu primeiro dono, ou segundo.
Não sei. Não fui tão à fundo na história dela. Mas, o importante é que, nesta época, eu conhecia o meu grande amigo, Allan Giudice, que, anos depois, me venderia a Passat. Épocas de fóruns de internet, Velozes e Furiosos fazendo muito sucesso, carros tunados, neon, fibra de vidro… e muitos encontros de carro.
Nessa época, a internet não era de nomes, mas sim de apelidos: eu era o Galo Cego (fruto de um topete avantajado e óculos), o Allan era o Puma GTS (dada a sua paixão pelo modelo). E de uma amizade criada pelo gosto em comum por carros, virou uma amizade para a vida mesmo. Fui padrinho do casamento dele, ele foi padrinho do meu. Viu meus dois filhos crescerem. Passamos muitas histórias impublicáveis juntos. É um irmão, de vida mesmo. Como amigos que gostam de carros, é natural que fizéssemos algumas negociações entre si.
Começou lá em 2006 ou 2007, quando ele comprou um Peugeot 306 que era meu – fato que me ajudou a sair de um sufoco por causa de uma dívida de faculdade (nunca esquecerei). Depois desse, comprei dele um Xsara VTS. Quando comprei o meu apartamento, mais negócios: tinha um Polo 2010 que foi parar na garagem dele e o 306 (sim o mesmo), voltou para a minha garagem.
Um tempo depois meu amigo vendeu o Polo e comprou o Passat, sim, o PC deste post. Lembro bem quando ele foi buscar o carro no Rio de Janeiro, a empolgação de comprar o primeiro veículo turbo dele, bem como todos os primeiros cuidados que ele passou a tomar com aquela barca. Ele AMAVA esse Passat, real.
Nessa época, confesso, jamais imaginava que essa Passat iria parar na minha garagem. Estava numa fase de vacas magras, com despesas altíssimas por conta do apartamento. O 306 virou um Accord 1993, que, quando quebrou, se transformou em um Ford Verona de R$ 2.000, que depois se transformou em um Voyage 1989. Fases difíceis, de pinturas queimadas e bancos velhos. Mas, tinha meus objetivos.
Aos poucos, as coisas foram se estabilizando. O Voyage problemático deixou a garagem e entrou um eficiente Ford Ka 2011, que me acompanha até hoje – e que não me deixa na mão. Dele, já estava planejando o próximo carro e, sinceramente, estava quase caindo no conto do SUV familiar.
O momento divisor de águas aconteceu no ano passado, quando meu melhor amigo anuncia que vai morar fora do Brasil. E, dentre as coisas que ele precisaria se desfazer estavam dois carros: um Polo sedan azul e essa bela Passat Variant. Num primeiro momento, cogitei a compra do Polo. Mas, em uma conversa sincera, ele me externou o medo de vender o Passat para qualquer pessoa, pois já havia investido muito tempo, dinheiro e paixão naquele carro e não queria que ele fosse malcuidado, ou mesmo sucateado.
Dessa conversa – e de uma proposta irrecusável, confesso – fizemos um acordo: eu compraria o carro e o manteria por, no mínimo dois anos, tempo suficiente para ele se recompor e recomprar o carro de volta – a ideia dele é poder levar o carro daqui a dez anos para o país que ele mora atualmente. E de forma incidental e de maneira completamente não planejada, que a Passat Variant entra na minha vida.
Uma charmosíssima station wagon, turbo, manual. Uma garagem cheia de peças de reposição – sim, ele me mandou um estoque de peças considerável – e uma revisão antes da entrega bem extensa. Só curtir, certo? Motor sequinho, potência de sobra, revisão feita, sucesso, não? Mas, alguns pingos de óleo no chão da garagem, em um carro recém revisado, começaram a me chamar a atenção. Mas, não devem ser motivos de preocupação, certo? Certo? É o que vocês vão descobrir na próxima parte…