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Project Cars Project Cars #531

Project Cars #531: a remontagem e a regra do “não é tão simples assim”

Por Rodrigo Leite, Project Cars #531

Fala pessoal, tudo bem? No último capítulo da saga, vocês acompanharam que o rumo da preparação mudou por completo, com a adoção de pistões e bielas forjadas para o projeto, bem como o aumento de cilindrada. Foi uma guinada de valores elevados, que me exigiu uma série de ajustes, como a compra de uma nova junta de cabeçote, apta para os pistões de 83 mm, bem como uma nova visita à retífica para ajustar o bloco, além de, claro, as peças forjadas e outros pequenos componentes para “fechar o projeto”. Aparentemente, estava tudo pronto para montar a usina de força. Mais ou menos. 

Podemos dizer que a Passat foi um carro extremamente mexido em seu passado. Muitas peças foram montadas e desmontadas, muitas coisas foram feitas de forma incorreta. E o resultado primário de tudo isso, que percebemos na montagem, é que muitos componentes, em especial do acabamento do motor, estavam desgastados ou quebrados, bem como muitos parafusos eram incorretos, ou mesmo estavam completamente estragados ou faltantes. 

Por conta disso, tivemos que fazer algumas visitas à casas de parafusos, para a aquisição de novos, bem como tive que fazer um garimpo para encontrar algumas peças, como, por exemplo, a tampa inferior que cobre a correia dentada. Essa peça, no Brasil, simplesmente não existe nova e, usada, é meio que rara de encontrar. Mais uma vez, graças aos grupos de proprietários de Passat, consegui encontrar uma, que estava completamente imunda, mas intacta. 

 

Acima: Capa da Correia dentada mastigada e a peça usada, depois da limpeza detalhada

Depois de sujar o tanque de casa para tirar toda a graxa e óleo da peça – a esposa quase me expulsou de casa – levei a peça para a High Torque para a instalação. Chegando lá, descobri que alguns componentes que eu havia adquirido não estavam “casando” com o motor. 

Lembram do kit de juntas da El Ring? Comprei de um vendedor de Santa Catarina, que me solicitou o modelo do carro, o código do bloco do motor, justamente para me enviar o kit correto de juntas para o carro. Comprei as peças logo no começo do projeto e, aparentemente, eram as corretas. Só que, no momento da montagem, mais de três meses depois, descobri que o kit de juntas enviado, embora fosse para o motor 1.8 20V, não servia no meu motor, em sua grande parte, por ser para outro código de motor, o transversal, usado no A3. Por conta disso, junta de cárter, retentor de volante, junta do cavalete de óleo e do sistema de vapor do bloco eram completamente diferentes. 

 

Acima: juntas diferentes: embora tenha mandado o Código do motor para o vendedor, as peças vieram erradas…

E o pior: como se passou de três meses da compra, o vendedor simplesmente me deu de ombros. Essa é a grande desvantagem de comprar na internet, se você pretende usar as peças só depois de um tempo: a dificuldade ou a impossibilidade de troca. Poderia até acionar o e-commerce para solicitar a troca, entrar com algum tipo de reclamação, mas o tempo que eu iria gastar, bem como todos os trâmites para enviar os componentes, me fizeram mudar de ideia. Tive que adquirir novas juntas – também da El Ring – para fechar o motor. 

Outras pequenas adaptações tiveram que ser feitas, como a mudança da fixação polia do comando complementar (o que aciona a bomba de óleo, e que estava quebrado no motor original), que a retífica substituiu por uma de AP, pela dificuldade de encontrar a específica para o Passat. Tive ainda que providenciar uma solda no cárter original, que estava prestes a trincar. Uma série de pormenores, mas que atrasaram a montagem. Depois de tudo isso, enfim, o motor estava fechado! 

Acima: cárter de alumínio tinha pequenas trincas e foi soldado

A montagem meticulosa, usou e abusou de torquímetro e de outras ferramentas de precisão para medição de folgas, sempre respeitando as necessidades do carro. E, desta vez, nada de encher de silicone, como estava o motor antes. Juntas corretas em todas as conexões e, quando necessário, uma pequena quantidade de cola, apenas para garantir a vedação perfeita. O time da High Torque, capitaneado pelo ADG, mandou muito bem! 

Acima: luz, câmera, ação! Finalmente, o motor começou a ser montado, só com peças de qualidade e com um time super qualificado!

Três agradecimentos mais que especiais: O primeiro para o ADG, que aceitou o desafio de recuperar o Passat com tanto cuidado, sempre se preocupando com todos os detalhes, mesmo não sendo a área dele a de preparação. Outro agradecimento especial ao Gideone, que fez grande parte do processo de desmontagem e parte da remontagem, sendo sempre muito atencioso e cuidadoso em todas as etapas. E, por fim, agradeço também o outro Alexandre, novo integrante do time da High Torque de Vinhedo, que, dois dias depois de desembarcar de Portugal, já estava remontando o motor do Passat, com um olhar clínico e extremamente cuidadoso. O carro não poderia estar em melhores mãos.

Acima: depois de muitas dificuldades, motor no lugar!

 

Botando a mão na massa

Obviamente, estava ficando cansado de não fazer nada no carro por conta própria. Aproveitei dois dias de folga e dei um pulo na High Torque para fazer algumas coisas por conta. A primeira, foi pintar alguns componentes do motor com tinta de alta temperatura como o coletor de escapamento e as tubulações da pressurização. Também fiz uma limpeza pesada em todos os mangotes e abraçadeiras desse sistema, para deixar tudo o mais zerado possível. 

Nessa visita à High Torque, aproveitei também para mexer em alguns detalhes do interior do carro que estavam me incomodando muito. O primeiro, a tampa do porta-luvas, que estava bem danificada e com travas quebradas. A troca é relativamente simples, bastando soltar cinco parafusos para desmontar o sistema. Uma tampa nova, encomendada no AliExpress, e que chegou em incríveis 18 dias, encaixou perfeitamente. 

Acima: tampa original já tinha sido remendada

Outro detalhe que troquei, e que me incomodava bastante, foi o conjunto de botões de vidro elétrico do lado do motorista. A capa estava toda desgastada, enquanto os botões estavam emperrados e quebrados. Uma peça nova deixou o visual muito mais bonito. 

 

Botões originais desgastados x peça nova – outra cara!

Revivendo o interior: ficou bom, não?

No painel, também fiz uma outra substituição. Saiu o contrastante hallmeter prata – que não combinava em nada com a estética do painel, e entrou no lugar um condicionador e leitor de sonda wideband, também da ODG, que vai me permitir uma leitura mais precisa da queima do 1.9 20V. Junto dele, adquiri uma sonda Bosch 4.2 LSU, que vai entrar no lugar da sonda original. 

Acima: sai hallmeter, entra condicionador de sonda wideband

“Rodrigo, mas a injeção eletrônica original não lê sonda wideband”. Sim, não lê. Mas, como disse, o projeto deu uma guinada maior que eu imaginava. E, no lugar da injeção original, adquiri uma injeção programável MegaSquirt MS2, plug n play, para permitir um ajuste preciso de toda a nova configuração do 1.9 20V forjado. O sistema da minha Passat foi desenvolvido pelo Alexandre Gandra, especializado em desenvolver as placas plug n play para uso em diversos carros, em especial para os motores 1.8 20V Audi/VW. 

Acima: MegaSquirt MS2 Plug n’Play: aproveita o chicote original e permite muito mais regulagens!

O acerto final do motor, assim que dermos a partida, ficará à cargo do Juliano César, da JuRacing, também de Vinhedo (SP). O Juliano se especializou no acerto de MegaSquirt e conhece esse sistema de injeção como poucos. Vi alguns carros preparados por ele e, inclusive, andei no seu carro de dia a dia, um Gol 1.9 turbo, com cerca de 350 cv, e que usa a “Mega”, como ela é chamada no meio. Liso de funcionamento e forte, impressionantemente forte!

No próximo capítulo, vamos falar sobre a primeira partida (finalmente!), as primeiras impressões, e o começo do acerto da MegaSquirt no motor 1.9 20V Turbo. Será que vai ficar bom?