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Project Cars Project Cars #534

Project Cars #534: uma segunda chance para um BMW E36 de pista

Por Luiz Fernando Lopes Oliveira, Project Cars #534

E se nós tentássemos de novo? Aquele tempo, apesar de trazer tanta dor, foi também uma parte feliz e completa, onde tudo tinha mais sentido! Parece meio de carta de amor, mas é só minha bipolaridade tentando me trazer de volta ao mundo das pistas. Depois do PC #414, apareci sim em autódromos, mas pelo trabalho. Ensino os demais a como se virar melhor em situação de risco. Pelo prazer, apenas modificando carros que não te olham e falam: “e aí, bora correr?”

Mas isso acabou um dia, em mais uma das loucas viagens pelo mundo da internet. Enquanto recorria em minha adicção, vasculhando BMWs velhas em sites amarelos e roxos, um amigo resolve me ajudar e manda diversos anúncios daquela rede social que tem um “mercadinho” dentro. Entre sedans e peruas, eis que surge um belo varal de roupas, na forma de uma coupê.

Varalzinho estiloso!

Envidando esforços para não chamar o vendedor, fui fraco e padeci. O anúncio era bem claro, um peso de papel, sem documentos, apenas para desmanche ou uso em pista. Ainda assim, fui em frente. Aquele arsenal de perguntas foi disparado, descobrindo uma antiga dívida trabalhista, um automóvel com 85000km e o detalhe interessante: AC Schnitzer. Pelos módicos R$10.000,00 pedidos, pechinchei demonstrando o fato que o carro não ligava há cinco anos, de que havia podres na lataria, e um extenso caminho até aos tempos áureos daquele esportivo alemão.

Mas o vendedor foi irredutível. Chegamos a um meio termo, quando ele confiou no homem da lei, e aceitou metade dos pagamentos, em cheque! Se acordado está, vamos aos pormenores. Contratei um frete para vencer os 650km entre a Baixada Santista e o Norte do Paraná, e um guincho para estaleirar a jóia na oficina. Quando chegou ao destino final, um misto de euforia e desespero surgiu na face de todos. Mas, isso não é novidade, afinal, “o tenente é um maluco mesmo!”

Claro que, ao comprar, já havia informado à oficina de minhas intenções e, claro, o mecânico foi bondoso, informando que, com um pouco de carinho, em breve os 6 cilindros estariam cantando novamente. Como dito na matéria do DB5 roubado, tempo é algo MUITO relativo. Os dias viraram meses, e o trabalho simples se mostrou uma longa jornada de compra e substituição de peças. Algumas, originais, de mesma capacidade. Outras, já pensando em um futuro mais esforçado.

Ao fim de nove longos meses, e com uma extensa revisão no motor, caixa, freios e elétrica, ela voltou a roncar! Linda, barulhenta, com pintura manchada e pontos de ferrugem, fora a suspensão, que era inexistente. Mas foi o suficiente para eu voltar rindo a toa para casa, com mais um sonho pronto para começar!

 

Os planos iniciais

Claro que todo projeto de carro tem um intuito, mas às vezes mudamos de ideia com o passar do tempo. Não raramente, mais de uma vez! Como o anúncio dizia, em letras garrafais, o veículo não tinha documento, e seria vendido “no estado”. Comprei consciente de que sería um carro alegre, talvez turboalimentado, para, quem sabe, se aventurar em novas categorias do automobilismo. Mas, como dizia a propaganda da Toshiba, “nove meses, muito tempo né!?”, e os olhos se encheram de nostalgia e paixão, fazendo com que, ao tirar o carro da oficina, minha ideia era somente restaurar aquela jóia, deixando ela como um belo mecanismo de passeio aos fins de semana, com a família, mas com o famoso “uso soviético” quando do gosto.

Para tanto, um trabalho de funilaria era extremamente necessário, visto os podres na porção traseira, ao redor das lanternas, e na caixa da bateria. Pontos de verniz queimado, pelo tempo no sol, também não eram raros, assim como o tom acinzentado dos plásticos, já ressecados pelas variações climáticas. Necessária, também, era a Parte de tapeçaria, para trazer o glamour alemão para aquele habitáculo que mais parecia uma tenda árabe. Forros de teto, colunas e portas se soltaram com o tempo, ou estufaram e precisavam de carinho. O volante, um modelo sport, que parecia um ancestral do volante do PC #474, tinha seu couro rasgado, assim como a manopla do câmbio manual. O rádio não mais existia, e o OBC tinha luzes queimadas.

Mas não havia luzes espia acesas, nem tampouco o temerário problema de Air bags, que assola as senhoras desta época. Os bancos estavam muito bonitos, e o único porém era o comando elétrico de correr. Tudo estava “fácil de fazer”. Para melhorar, encontrei um tapeceiro que fazia a preço de banana o serviço, mas pediu para que eu arrancasse a interna, para facilitar seu serviço, visto meu conhecimento prévio. Mas nada pior que os pensamentos conflitantes…

 

As felizes descobertas

Ao comprar o carro, como citado, o vendedor chamou a atenção com o título BMW 325 AC Schnitzer. Tá, ele não acertou a grafia do nome, mas isso era o de menos. Pedi algumas fotos sobre o detalhe, mas recebi somente a ponteira de escape. Logo absorvi que era só mais um vendedor querendo enrolar com uma ponteira falsa, como as milhares de “akrapovic” que existem por aí.

Porém, ao chegar à oficina, e colocá-la no elevador, vimos que o abafador final era inteiro da preparadora alemã. Uma notícia boa, mas que não me libera cavalos! Decorrido certo tempo, chegando aos “finalmentes” para ligar, notamos que o coletor não era como o das outras e36/46 que já tive. Bingo! Eu tinha um escape completo ACS, do coletor à ponteira!

Isso me deixou sobremaneira feliz pois, mesmo com mais de 25 anos de uso, era um escape de grife, tirado de fábrica e que a fazia respirar melhor. Só faltava um remap, e tudo ficaria supimpa!

Terminamos os pormenores, me liberaram para a rua e, claro, eu não poderia ter uma usina daquelas à minha disposição e não tirar uma casquinha. Levo para minha zona de 0-100, e começo os testes. Cada acelerada, noto que ela tem mais vigor que a anterior, talvez pela quilometragem a menos, e resolvo esforçar mais. 6000, 6300, 6500…7000. parece muito né? Um BMW de 26 anos, girando 7000rpm e sem reclamar, mesmo estando na redzone. Mas ela tinha mais. Seguro o pé, seguro de que poderia quebrar o motor, e sou recompensado com um carro que não viera só com o escape, mas também a DME (central eletrônica) da mesma preparadora.

Com isso, o amor criado e a facilidade de restauração, tudo se encaminha para um belo bólido de fim de semana, assim como tantos outros. Certo? Nem tanto…