FlatOut!
Image default
Project Cars #998

Project cars #998: a CG Titan que virou Intruder

Enquanto digito estas palavras, fico pensando na compra que acabei de fazer: um carburador Mikuni novo, genuíno, para minha recém adquirida Suzuki Intruder. Peça de reposição genuína, made in Japan, lacrada na caixa. Aparentemente, o Mikuni BS25 é um carburador problemático – e também custa pelo menos cinco vezes o preço de um carburador paralelo de boa qualidade para a CG Titan. E o dobro do preço de um Keihin OEM da Honda.

Comecei bem!

Quem acompanha o site e lembra do início do meu Project Cars deve estar coçando a cabeça agora. Que história é essa de Intruder? Mas é exatamente isso, meus amigos: o PC #998, que começou com uma CG 99 vermelha, mudou completamente: agora, vou montar uma Suzuki GN125, aka Intruder – a queridinha dos customizadores de baixa cilindrada aqui no Brasil. E, neste episódio, vou tentar explicar as razões por trás da mudança.

 

O que houve com a CG?

A vermelhinha é uma moto deliciosa de andar – a cada breve passeio nela me fica mais claro o porquê de ela ser o veículo mais vendido do Brasil. Leve, confortável e despretensiosa, a pequena Honda te deixa se ajeitar como quiser sobre ela e parece se moldar ao seu corpo. O guidão estreito deixa tudo na mão, o motor varetado responde com vigor mesmo com mais de 20 anos de serviços prestados, e você se sente completamente no controle. É uma moto extremamente fácil de pilotar, te passando muita confiança. Talvez até demais – o que ajuda a explicar o tal “espírito de cachorro louco” que, dizem, toma conta de qualquer um que monte em uma CG.

Sem falar na manutenção ridiculamente barata: tudo o que fiz nela até agora – incluindo a elétrica completa (com direito a troca de farol, painel, setas e bateria), as carenagens novas e até a vistoria de transferência – me custou menos que a revisão pós-compra e o carburador novo da Intruder.

 

Ocorreu que, refazendo o balanço do que me custaria a personalização da CG, me dei conta de algumas despesas que, embora importantes, não me empolgavam muito: uma desmontagem completa para restaurar o quadro, lidando com possíveis pontos de corrosão, e uma boa reforma em todas as partes metálicas, incluindo rodas e motor.

Quando incluí esses serviços na planilha, me dei conta de que o tempo e o dinheiro seriam melhor aproveitados com modificações mais substanciais para o andamento do projeto – modificações no quadro, especialmente na parte traseira, tanque de combustível novo, banco feito sob medida e peças de acabamento. E, depois, a provável dor de cabeça (e no bolso) para cuidar da documentação. Colocando tudo na ponta do lápis, mesmo de forma grosseira, acabei ficando meio desanimado.

Mas há também outra questão: a moto em si. A CG 99 (que é como costuma-se chamar a geração de 1995 a 1999) é uma moto muito procurada no momento. Não só pela robustez absurda de sua mecânica, mas pela própria idade – os exemplares mais antigos já passam dos 25 anos e logo podem ser considerados clássicos de fato.

Com estrutura íntegra, pintura original no tanque e 49.000 km recém completados, o que essa Titanzinha merece é uma restauração completa nos padrões originais. Mas não é o que eu quero fazer no momento.

O que eu quero, como já comentei, é um projeto de customização com a minha cara. Influências de scrambler e cafe racer, sem alterações radicais na estrutura (o que facilita a legalização mais tarde), resultando em uma moto personalizada e exclusiva, boa para o dia a dia e pequenas viagens sem pressa.

 

Wind of change

A mudança da Honda para a Suzuki não foi algo premeditado. Topei com a Intruder durante a busca diária no Marketplace do Facebook, anunciada em Sorocaba, a pouco mais de 100 km de Angatuba – aqui mesmo, no interior de SP. Fabricada em 2011, “em estado de nova”, dizia o anúncio, e completamente dentro do meu orçamento. Decidi separar um sábado para ir dar uma olhada, como quem não quer nada… e acabei fechando o negócio.

De cara, dava para ver que “em estado de nova” era uma frase um tanto… emocionada. A moto está conservada, sim, mas tem uns riscos no tanque (que é preto com um belo acabamento flocado azul), outros pequenos sinais de desgaste nos cromados e em peças como pedaleiras e manetes. Mas, de forma geral, está em melhor estado que a CG. O motor está impecavelmente limpo, e o quadro parece zero-quilômetro.

Partida elétrica e freio a disco na dianteira são comodidades que, de cara, tornam a Intruder mais atraente. Mas há também a questão do projeto.

Veja bem: caso eu tivesse comprado uma CG mais antiga – uma “Bolinha” das primeiras, com câmbio de quatro marchas, tanque redondinho e para-lamas cromados – talvez sequer cogitasse a troca por uma Intruder. É possível fazer mudanças relativamente simples – banco, guidão, para-lamas, painel de instrumentos – com um resultado muito mais visível.

Mas como as CG de 1976 a 1982 são bem mais caras e difíceis de encontrar, a Intruder acabou me parecendo uma alternativa bem interessante. Como a primeira CG, ela é considerada uma tela em branco para customização.

A Intruder também tem uma quantidade razoável de peças peças compatíveis, que exigem pouca ou nenhuma adaptação na estrutura da moto – banco, para-lamas, diferentes modelos de farol e lanterna, alforges de couro, semiguidão e outras coisas interessantes – e dão outra cara para o projeto sem muito drama.

O que notei logo de cara: a CG anda mais, sem dúvida, e sua ciclística é mais agradável – especialmente a altura do assento e a posição do guidão. Mas nada que alguns ajustezinhos não resolvam…

 

Inspiração de sobra

Quando digo que a Intruder é uma tela em branco, falo sério. Pelo estilo “mini custom”, o caminho óbvio é transformá-la em uma bobber – banco solo, guidão largo e traseira rebaixada, colocando de forma simples – ou incrementá-la com acessórios de couro, com direito a um banco grandão e macio. Só que, com os ajustes certos, a Intruder pode dar uma bela cafe racer ou scrambler. Se você for radical, pode até levantar a parte traseira do tanque e endireitar o quadro.

No Brasil, uma oficina que vem ganhando destaque na customização da Intruder é a Deka Customs, de Belo Horizonte (MG). Nesse meio há pelo menos seis anos, a Deka desenvolveu uma série de projetos criativos e bem executados usando a Suzukinha como base – com ou sem modificações no quadro. Com pneus largos, para-lamas menores, bancos e alforges feitos sob medida, sempre com estilo limpo e sem excessos, mas cheio de personalidade. Difícil ver uma Intruder customizada e não reconhecer o trabalho do Deka Pereira, que faz quase tudo sozinho.

Uma das motos feitas pela Deka, batizada “Mundanne”, é minha principal inspiração. Com para-lama dianteiro alto, guidão largo, banco magrinho e pneus cravudos, ela virou quase uma trail das antigas, com duplo amortecedor atrás. Mas existem outras, com modificações mais simples, e algumas que ficaram ainda mais irreconhecíveis.

Lá fora, onde é conhecida como GN125, a Intruder também costuma passar por transformações impressionantes – novamente, algumas com pegada scrambler, boas para estradas de terra; outras no estilo cafe racer, com quadro endireitado e tudo; e – minhas favoritas, claro – as que misturam um pouco de tudo.

 

O que eu já fiz e o que ainda vou fazer

No caso da minha Intruder, pneus mistos estão fora de questão, por enquanto – já comprei um par de pneus novos de asfalto, sendo que o traseiro é um gordo 130/70, bem mais robusto que o 100/70 que veio nela. O pneu traseiro, aliás, é um dos fatores que dificultam a customização da Intruder, pois é difícil encontrar opções de 16 polegadas. Uma solução possível é instalar uma roda de 18 polegadas na traseira – e, caso opte por isso, certamente trocarei as rodas de liga por um par de rodas raiadas, ambas idênticas.

Por ora, o que eu preciso mesmo fazer na Intruder é a troca do tal carburador, que deve chegar nos próximos dias. Uma revisão na elétrica também está nos planos – vou aproveitar o momento para trocar guidão, punhos, farol, setas e lanternas.

Não quero modificar o quadro, mas a própria Deka oferece bancos feitos sob medida com desenho mais esbelto, em couro legítimo, que não exigem qualquer alteração na estrutura da moto. Tanque preto, banco preto, e bolsas laterais pretas são a combinação mais provável. Ainda não decidi se vou aplicar preto fosco nos para-lamas, motor e bengalas – ultimamente tenho achado interessante o visual de algumas peças cromadas.

A mecânica deve ficar como está, com exceção de uma nova saída de escape para garantir um ronco mais encorpado, e talvez de um pinhão maior para dar um pouco mais de velocidade final sem comprometer (demais) as arrancadas.

A CG, a quem interessar, está à venda – mas não deve ficar disponível por muito tempo. É impressionante: não posso sair de casa com ela sem receber uma oferta. Antes disso, porém, vou dar uma volta porque sei que ela vai deixar saudades, apesar do pouco tempo de convivência.