Olá. Meu nome é Marcelo Druck, sou publicitário e tenho 25 anos. Nasci em Porto Alegre, mas moro há algum tempo em São Paulo. Meu projeto é a Claudia, uma Vespa 150 Super 1980 que é minha daily rider.
Desde criança sonhei em ter uma Vespa. No prédio que morava com meus pais havia uma PX 200 vermelha, imaculada. Sempre que passava pela garagem, fazia questão de namorá-la um pouco.
Por que uma Vespa? Poderia falar do design, do motor dois tempos e de sua combustão perfumada, da facilidade de fazer pequenos reparos, de ser um ícone do século XX. Mas a resposta é: não faço ideia. É como escolher um time de futebol ou se apaixonar por alguém. Não se explica.
A história da Vespa no Brasil é meio complexa e tem seus detalhes obscuros, mas pra resumir, ela existiu por aqui oficialmente em três ocasiões diferentes. Na virada dos anos 50 pros 60, os modelos M3 e M4 foram montados pela Panauto no Rio de Janeiro. Entre 1974 e 1983 quem fazia as 150 Super, Rally, Primavera e Special era a Barra Forte, em Manaus (sim, a mesma Barra Forte que fez a bicicleta do entregador de pão do seu bairro). De 1985 até 1990, era a Motovespa que montava a PX200, também em Manaus.
Quando decidi comprar uma Vespa, lá por 2007, fui atrás da 150 Super. Pra complicar, queria uma azul. Mas antes de continuar a história, melhor explicar do que exatamente estamos falando.
Ficha técnica da época do lançamento da Vespa 150 Super
Monocilíndrica e dois tempos, ela tem 150 cm³, como o próprio modelo indica. Não dá nem um cilindro dos outros projetos que temos rolando aí no Project Cars, mas eu gosto de motorzinho tanto quanto um dentista. O projeto é dos anos 60, ou seja, freios a tambor, ignição por platinado e tem um dínamo em vez de bateria (o que varia a intensidade da luz e da buzina conforme a rotação do motor, algo impagável). Mas tem umas soluções bem interessantes. O quadro é um monobloco, o câmbio é acionado por cabos (e as trocas são feitas pelo manete esquerdo) e a mecânica é simples o suficiente pra arrumar quase qualquer coisa na beira da estrada.
Só que encontrar a minha Super foi uma tarefa bem difícil. Ela é não é muito comum, então as que existem à venda são caras, estão detonadas ou têm problemas na documentação. Depois de um ano de busca, quase desistindo, encontrei uma Lambretta Cynthia azul-marinho 1973 em Araras. Não era o que inicialmente havia buscado, mas pareceu interessante.
Cheguei a fechar negócio com o vendedor. Mas na hora de transferir a documentação, ele descobriu que no Denatran ela estava registrada como 1983, enquanto no documento marcava 1973. Provavelmente, um erro de digitação. Eu e o vendedor consultamos despachantes que informaram que resolver isso seria caro, demorado e sem garantias de dar certo.
Para compensar o perrengue, o vendedor me enviou duas opções pelo mesmo preço combinado inicialmente. A primeira era uma Cynthia vermelha e segunda me derrubou da cadeira.
Eis a Claudia. Foto: Paulo Marcelo Bovo
Uma Vespa 150 Super com os documentos em dia e o monobloco inteiro! Parada desde 2002, só com dois donos em seu histórico e hodômetro travado em 35.000 km. Na hora liguei pro vendedor e fechei negócio, sem nem ver a moto pessoalmente.
Ela chegou num sábado de manhã. Eu ainda não tinha habilitação na categoria A, então por uns tempos só fiquei dando voltas na garagem e queimando a gasolina velha. O motor não estava grande coisa, mas funcionava.
Quando juntei uns trocados pra fazer a revisão mecânica, começaram os perrengues. Inexperiente, levei ela no primeiro mecânico que encontrei. Foram três meses pra fazer um serviço porco e caro. Um pouco mais experiente e seguindo recomendações de outros vespistas, levei ela no Free Willy (R. General Osório, 687, fone 11 3331 8899). Eles refizeram a mecânica e me ensinaram o caminho das pedras.
Com o tempo, fiz a funilaria e pintura completa. Deixei a mecânica original nos trinques, usando peças new old stock (NOS – nada de nitro!) sempre que possível. Pra melhorar a ciclística, instalei freio a disco, que fez toda a diferença e se pagou na primeira fechada que levei na chuva. Também coloquei amortecedores pressurizados Bitubo, que melhoraram a estabilidade dela absurdamente, além de aros tubeless para poder usar pneus mais modernos e evitar perda repentina de pressão.
7 cv de pura emoção. Foto: Pamela Goya
Eu já quis deixá-la como saiu da fábrica, merecedora de placa preta. Mas aí seria inviável usar ela no dia a dia e daria dó de correr os riscos cotidianos de se morar em São Paulo. Portanto, meu projeto é uma restomod. A parte cosmética já tá quase pronta. Só preciso fazer funilaria no paralamas e na tampa do motor, devido a uma mancha de óleo no asfalto que me derrubou. Também quero colocar o banco original e a lanterna traseira do modelo europeu.
Já na parte mecânica, bem, aí que tá a diversão. No próximo post eu conto meu projeto em detalhes. Até lá!
Por Marcelo Druck, Project Cars #83