Os alemães são famosos no mundo todo por sua engenharia precisa e detalhista, e é claro que isto envolve os carros. Em boa parte do mundo, comprar um carro alemão significa comprar um carro confiável, bem projetado e bem construído. E, no caso dos melhores carros alemães, também significa comprar um carro divertido.
Sendo assim, dá para dizer que entre os carros alemães mais icônicos que existem são, em sua maioria, os que unem todas estas características. E, se for para lembrar de um deles, nossa sugestão é o BMW Neue Klasse. E não apenas porque ele é um carro confiável, bem projetado, bem construído e divertido, mas porque ele conseguiu fazer duas coisas: definir os valores básicos de todo BMW esportivo e redefinir aquilo que um carro deveria ser para ter sucesso nos sombrios anos 1970.
Resumidamente, a Neue Klasse (“Nova Classe”, em tradução literal) foi uma linha de sedãs e cupês de três volumes produzida entre 1962 e 1977, com identidade visual própria, uma nova família de motores quatro-cilindros e diversos elementos técnicas comuns a toda a linha, como suspensão independente por braços semi-arrastados e freios a disco na dianteira.
A Neue Klasse surgiu da necessidade. Durante a década de 1950, a linha da BMW consistia em modelos de luxo, com motores maiores que dois litros; carros populares com motor de moto (leia-se: Isetta) e das próprias motos. Já estava mais do que na hora de aderir aos carros mais compactos, com motores menores e mais econômicos e, claro, mais baratos.
Só não seria possível aproveitar o que já havia na linha. A marca até tentou utilizar seu motor V8 com comando no bloco como base para um novo quatro-cilindros em linha de 1,6 litro, mas este se mostrou muito pesado e ineficiente. Seria preciso criar um novo carro com um novo motor, algo que não acontecia desde 1933, quando a BMW lançou o compacto 303, movido por um seis-em-linha de 1,2 litro e 30 cv.
“Faz tempo, hein”, alguém na BMW deve ter pensado no fim dos anos 1950
O primeiro protótipo foi apresentado em 1961. O sedã 1500, lançado no ano seguinte, seria o primeiro modelo da Neue Klasse, e o primeiro BMW equipado com o novo motor M10, quatro-cilindros com comando no cabeçote que era capaz de entregar 80 cv. No ano seguinte, o BMW 1800 chegava com uma versão de 1,8 litro e 90 cv. Este ganhou até uma versão com componentes desenvolvidos pela Alpina e um carburador Solex de corpo duplo que elevava a potência para 110 cv.
Em 1965, a linha passou a incorporar também os cupês 2000C e 2000CS, que usavam uma versão de dois litros do M10 que podia ter 101 cv (2000C) ou 121 cv (2000CS). Sedãs com motor de dois litros também foram lançados naquele ano.
Todo Neue Klasse trazia a modernidade mecânica, a boa dinâmica e o desenho agradável como características. Com isto, além de tornar-se um sucesso na Europa e garantir a segurança à BMW, que até então tinha um futuro incerto pela frente, a Neue Klasse conseguiu algo ainda mais impressionante: conseguiu vender esportividade até mesmo aos americanos, que no início da década de 1970 começaram a estrangular seus motores V8 em uma tentativa de economizar combustível. Os motores dos BMW eram menores, mas eram mais modernos. O que lhes faltava em potência, sobrava em disposição para encarar curvas, ergonomia e envolvimento ao volante. Segundo a BMW, são estas as características que norteiam seus modelos até hoje. Ou ao menos os esportivos. Não foi à toa que mais de 3,5 milhões de carros equipados com o motor M10 foram vendidos em três décadas.
No entanto, foi em 1968, com a chegada do BMW 2002, que a nova linha se firmou também como carro entusiasta.
O BMW 2002 era um sedã de três portas que, em essência, era um Neue Klasse encurtado. Ele tinha estilo ligeiramente modernizado, mas era mais barato e frugal, sendo o modelo de entrada da BMW. Sendo mais curto e mais leve, ele também tinha comportamento mais esportivo, atraindo os entusiastas. Incluindo os entusiastas de dentro da BMW.
O BMW 2002 foi o escolhido para servir de base às versões esportivas da Neue Klasse. O 2002 tii, de 1971, tinha uma versão de 130 cv do motor M10, alimentada por um sistema de injeção mecânica Kugelfischer. Em 1973, veio o BMW 2002 Turbo, que adicionava um turbocompressor KKK à receita para entregar 170 cv – e foi o primeiro turbinado de fábrica dos bávaros.
Àquela altura, não havia revista automotiva que não se derretesse em elogios para a Neue Klasse e, especialmente, para o 2002, que tornou-se a nova referência em diversão a baixo custo. E não apenas entre os carros alemães.
Não foi à toa que o conceito do BMW 2002, evoluído, foi parar no Série 3. A primeira geração, a E21, foi lançada em 1975 e, desde então, é sem dúvida o BMW mais bem sucedido de todos os tempos.
Se isto tudo não for motivo para considerar o BMW Neuw Klasse um dos carros alemães mais emblemáticos de todos os tempos.
Mas ele não é o único. Por isso, queremos saber: qual é o carro alemão mais icônico de todos, na sua opinião?