Foto: Hemmings Classics
Nossa Sessão da Manhã de hoje nos deixou intrigados. Entre tantos supercarros testados por Dario Benuzzi, o principal piloto de testes da Ferrari desde 1969, o menos querido é a F50, logo em 2015, quando ela completa 20 anos. Coincidentemente é ano em que o livro “Unsafe at Any Speed”, do advogado e ativista Ralph Nader, completa 50 anos. Ele não compartilha com a F50 nenhuma injustiça, mas talvez tenha cometido uma das grandes. Foi esse livro que condenou à morte um dos carros mais interessantes de seu tempo, o Chevrolet Corvair. Esse, sim, outro tremendo injustiçado.
Nascido em 1959, como modelo 1960, o Corvair surgiu para dar à GM um modelo no crescente mercado de compactos, impulsionado por veículos importados, como o VW Fusca e carros da Renault e da Fiat. Na época, as “Três Grandes” (GM, Ford e Chrysler) faziam apenas veículos condizentes com seus nomes. Quem tinha um modelo pequeno para competir, como a Nash e seu Rambler, nadou de braçada. O Rambler, aliás, é considerado o primeiro carro compacto moderno de sucesso no mercado americano. Ele também fez algo de que não há notícias na história: foi fabricado de 1950 a 1955 e, em 1958, renasceu como o Rambler American, ficando em linha até 1969. E vendeu bem nas duas “encarnações”.
Enquanto a Ford criava o Falcon e a Chrysler o Plymouth Valiant, a GM se saiu com o Corvair. Ao contrário de seus concorrentes, modelos grandes com carroceria reduzida e motores de quatro ou seis cilindros, o Corvair era inteiramente novo.
Criado por Ed Cole, ele também tinha motor de seis cilindros, de 140 polegadas (2.3), mas era boxer e refrigerado a ar (inspirado por Fusca e Porsche?). Montado na traseira, ele era chamado de Turbo Air 6, por vir de fábrica com turbocompressor, e rendia inicialmente 81 cv. Havia uma opção esportiva, a Super Turbo Air 6, que rendia 96 cv a 4.800 rpm e 17,3 mkgf a 2.800 rpm. Pelo menos era leve, feito quase todo de alumínio.
A tração, traseira, era transmitida às rodas por duas opções de câmbio: um manual de três marchas ou um Powerglide, automático, de apenas duas marchas. A suspensão era independente nas quatro rodas. E o modelo não tinha chassi, mas sim monobloco, o primeiro fabricado pela Fisher Body, para quem a Chevrolet terceirizava algumas de suas carrocerias.
Era o famoso Z Body, ou plataforma Z. Tinha 4,57 m de comprimento e 2,74 m de entre-eixos, o que mostra bem que ele era um compacto apenas para os padrões americanos. Não tinha firulas, como rabo de peixe, grades cromadas ou qualquer coisa do tipo. Foi eleito, não por acaso, carro do ano pela Motor Trend, em 1960. Para o modelo 1961 viria a transmissão manual de quatro marchas e a primeira ampliação do motor, para 145 polegadas (2.4), que renderia 99 cv. O motor de entrada continuou com 81 cv.
Foto: Hemmings Classics
Sua primeira geração durou até 1964. Teve diversas configurações de carroceria, como cupê, conversível, sedã, perua, van (com quatro e seis portas laterais) e picape. Em 1964, o motor Turbo Air foi ampliado para 164 polegadas (2.7). A potência do motor básico subiu para 96 cv e a do modelo mais forte, para 112 cv. Havia ainda uma opção topo de linha, o motor Spyder, que foi oferecida pela primeira vez em 1962 e, curiosamente, continuou com a mesma potência até o final da produção daquela geração.
Até versão esportiva feita por Don Yenko ele teve!
A segunda geração do carro chegou em 1964. Elogiadíssimo pela crítica, em especial pelo estilo, o carro tinha uma carreira promissora pela frente. Vendia uma média anual de 220 mil carrros e, ainda que não desse muito lucro à GM, por ser caro de fabricar, não era um modelo que podia ser desprezado. Não, pelo menos, até a publicação do livro de Nader, em novembro de 1965.
O primeiro capítulo do livro acusava o Corvair de ter problemas de dirigibilidade por causa da suspensão traseira, igual à do Fusca, com braços oscilantes. Ainda que isso tenha sido corrigido na nova geração, foi o suficiente para as vendas do carro despencarem para cerca de 110 mil em 1966 e para apenas 15 mil em 1968. Havia uma nova geração nos planos, mas o assunto morreu por ali.
Foto: Hemmings Classics
A má fama acabou grudando no Corvair e muita gente ainda o evita, mesmo como clássico. Em 1972, uma investigação da NHTSA, conduzida pela universidade Texas A&M, concluiu que o Corvair não era mais inseguro que seus competidores em situações extremas. Mas o estrago já estava feito. E, curiosamente, não afetou Fusca, Porsche e alguns modelos Mercedes-Benz que também usavam suspensões com braços oscilantes.
Injustiças podem acontecer pelos mais variados motivos e nos mais diversos segmentos, como a F50 e o Corvair mostram, um superesportivo e um compacto, mostram bem. Entre estes extremos, nós perguntamos a vocês: qual é o carro mais injustiçado de todos os tempos? Respostas em nossa caixa de comentários em 3, 2, 1… Valeeeendo!