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Car Culture Games Pergunta do dia Zero a 300

Qual é o melhor game de corrida para o PlayStation 2?

A chegada do ano de 2018 trouxe uma realidade chocante: pessoas que nasceram em 2000 já podem fazer coisas de adulto, como dirigir, consumir bebidas alcoólicas e ir para a cadeia (aliás, se você fizer a segunda coisa antes da primeira coisa, pode acabar fazendo a terceira coisa). E sabe o que mais completa 18 anos em 2018? O PlayStation 2. Na sua opinião, qual é o melhor game de corrida do console?

Lembro como se fosse ontem da época em que eu ia quase todos os dias à banca de jornais da minha cidade (sim, era uma só) para conferir as revistas de games. O dono da banca não gostava quando eu dava aquela folheada básica, mas eu sempre acabava levando alguma coisa para casa. Nas páginas, os consoles do momento eram os de 128 bits – XBox, GameCube e PlayStation 2. Como feliz proprietário de um PSOne, vocês já devem imaginar qual dos três eu queria mais, e qual dos três eu acabei comprando um tempo depois.

Meu caso de amor com a franquia Gran Turismo não é segredo para ninguém – especialmente com Gran Turismo 2, de 1999, o jogo que me transformou em um gearhead ainda na infância e é um dos mais idolatrados pelos fãs da série. Não é por acaso: além da melhora perceptível nos gráficos e na jogabilidade, GT2 tinha muito mais carros, muito mais pistas e uma trilha sonora ainda melhor.

Então, o game que mais queria jogar no PS2 era Gran Turismo 4, que foi tema de uma matéria completíssima que li em uma de minhas revistas. A matéria falava sobre os gráficos mais realistas já vistos em um game de corrida até então. Sobre uma seleção de carros impecável e muito mais variada que nos três títulos anteriores. Sobre as melhorias na jogabilidade, com comportamento dinâmico mais realista e distinto entre os carros. E ainda trazia “mais de 20 fotos”. E tudo isto me deixou ansioso demais.

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A revista era exatamente esta: PlayStation edição #54, de 2003 ou 2004. Cheguei a escrever uma frase para o concurso, mas nunca mandei a carta. E tive uma crise de nostalgia quando revi a capa. Foto: Editora Europa

E, felizmente, não saí decepcionado. Gran Turismo 4 cumpria tudo aquilo, e mais.

Minha experiência com Gran Turismo 3: A-Spec, lançado em 2001, se resumiu a uma ou duas horas em uma locadora de games que eu frequentava, então eu não tinha uma opinião muito bem formada. Mas consegui perceber que os detalhes dos circuitos estavam melhores, assim como as texturas dos carros.

A jogabilidade também estava mais afiada: em Gran Turismo 3 os carros pareciam muito mais engessados, com respostas muito lentas aos comandos no controle. E meio que flutuavam sobre a pista. Gran Turismo 4 resolveu isto com controles mais responsivos e ágeis, e aumentando a diversidade de carros que se comportavam de maneira totalmente diferente.

Outro problema com Gran Turismo 3 era a quantidade de carros diferentes: cerca de 180, contra mais de 650 modelos em Gran Turismo 2. Na época a Polyphony Digital justificou a redução drástica no número de carros dizendo que a maior parte do trabalho concentrou-se em aproveitar a capacidade gráfica do novo console, que ainda não tinha seu verdadeiro potencial conhecido pelos desenvolvedores.

Gran Turismo 4, por outro lado, tinha nada menos que 721 carros de 80 fabricantes diferentes. O número de circuitos também era bem maior do que em qualquer outro título lançado até então: Gran Turismo 2 tinha 28 circuitos. Gran Turismo 3 tinha 36 circuitos, contando com as versões invertidas.

Gran Turismo 4 tinha 51 circuitos e, mais do que isto, entre eles estavam circuitos da vida real inéditos na franquia, como Suzuka, no Japão; La Sarthe, o circuito das 24 Horas de Le Mans, na França; e, claro, Nürburgring Nordschleife, a “Meca do automobilismo” e um dos circuitos mais desafiadores do planeta.

Mission 34, o pesadelo de todo mundo que jogou GT4: usar um Mercedes-Benz SLR para tentar ultrapassar um 300 SL “Gullwing”, largando com um gap de dois minutos em Nürburgring. Atire a primeira pedra quem não sentiu vontade de atirar o controle na parede

Só que GT4 também era inesquecível pelo conjunto da obra. A abertura da versão americana (que era a que eu tinha), estrelando então novo Ford GT, começava comum uma interpretação do clássico tema Moon Over the Castle que dava lugar, momentos depois, ao clássico “Panama”, do Van Halen. Era tudo o que um moleque fã de carros e rock clássico poderia querer? Também tinha “Freewheel Burning”, do Judas Priest e “Kickstart my Heart” do Mötley Crue.

Então, havia os menus muito bem desenhados, o jazz rolando ao fundo enquanto se passeava pelas lojas de carros, o modo fotográfico que hoje é obrigatório em qualquer game de corrida… tudo muito bem organizado, caprichado e bem feito.

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Tanto que os títulos que vieram depois podem ser encarados como versões mais polidas de Gran Turismo 4, com mais melhorias incrementais do que revoluções. A maior novidade de GT5, por exemplo, foi o modo online, que permitia baixar novos carros e circuitos pela Internet. Era o início da era do DLC (downloadable content, ou “conteúdo baixável”), que hoje se faz presente em praticamente todos os games novos. A Polyphony chegou a lançar uma versão de teste de um modo online, mas para o grande público a única forma de utilizar a conexão do PS2 era montar um setup com várias TVs para jogar com os amigos. No entanto, na época Gran Turismo 5 já estava sendo desenvolvido com suporte à rede.

Aliás, talvez seja justamente por isto que, até hoje, muitos gamers consideram GT4 o ápice da franquia Gran Turismo, mesmo que os títulos seguintes sejam tecnicamente superiores. Claro, há muita nostalgia envolvida (afinal, lá se vão 14 anos desde que Gran Turismo 4 foi lançado), mas acho que podemos dizer que o quarto Gran Turismo envelheceu muito bem em termos de gráficos e jogabilidade – por exemplo, é moderno o bastante para agradar aos mais jovens, que já cresceram acostumados com jogos online e conteúdo pago. Para esta galera, GT2 já é antigo e primitivo demais. GT4, por outro lado, é old school na medida certa: tem bons gráficos, uma boa dose de realismo, mas ainda traz a experiência clássica de ligar a TV, colocar o DVD no console, apertar um botão e se aconchegar no sofá com o controle na mão. Sem rankings, sem achievements, sem uma avalanche de informações e atualizações de software. Só um bom e velho videogame.

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O game da foto é Gran Turismo 3, mas close enough

Em tempo: eu sei que, enquanto simulador, Gran Turismo no geral é bastante limitado, e até questiono o subtítulo The Real Driving Simulator. Na pior das hipóteses, GT4 é um game de corrida com modo arcade, modo carreira e diversos elementos de um simulador. O que para mim já está ótimo – simuladores estão um nível acima em termos de realismo, e games como Gran TurismoForza Motorsport podem ser curtidos igualmente por gamers casuais e pelos mais hardcore. Isto também é um mérito. E eu nunca disse que este post seria imparcial!

De todo modo, deu até vontade de comprar um PS2 usado para reviver os velhos tempos. Então, a pergunta deste post até vem a calhar: qual é o melhor game de corrida para o PlayStation 2?