O automobilismo é um esporte perigoso. É da sua natureza — sem o risco envolvido, a disputa na pista definitivamente não teria a mesma graça: os pilotos não estão apenas enfrentando uns aos outros sobre o asfalto: eles também estão encarando a morte nos olhos. E não é exagero.
Recentemente tivemos um bom exemplo do que estamos dizendo: em julho de 2015, o piloto Austin Dillon na última volta da etapa Coke Zero 400, no circuito de Daytona Speedway. Ele perdeu o controle do carro em uma curva e foi atirado contra o alambrado, ferindo cinco espectadores.
O carro ficou completamente destruído e irreconhecível, mas Dillon saiu andando de dentro de seus destroços. De acordo com ele, a pior parte do acidente não foi o impacto com a cerca, e sim o fato de não conseguir se comunicar com a equipe — ele podia ouvi-los, mas não falar com eles. Dillon sofreu apenas escoriações no quadril e em um antebraço, o que pode ser encarado como um atestado do nível de segurança a que os carros de corrida modernos chegaram. Claro, os riscos continuam, mas não seria exagero dizer que, há algumas décadas, o automobilismo era ainda mais perigoso.
No entanto, já aconteceram diversos acidentes tão impressionantes quanto este, ou até mais, que felizmente não deixaram vítimas fatais. Isto nos fez pensar: qual foi o acidente não-fatal mais impressionante que já aconteceu na história do automobilismo?
Um dos primeiros que nos veio à mente foi o acidente do piloto irlandês Martin Donnelly. Sua carreira de Fórmula 1 foi curta: em 1988, enquanto corria na Fórmula 3000 britânica, Donnelly tornou-se piloto de testes pela Lotus. No ano seguinte, foi contratado pela Arrows e, em 1990, voltou à Lotus — que, na época, usava a pintura amarela dos cigarros Camel. Ele jamais chegou a vencer uma corrida ou mesmo a um pódio, e nunca pontuou. E nem teve tempo de fazê-lo, pois um acidente no Circuito de Jerez, na Espanha, abreviou sua carreira na maior categoria do automobilismo.
A curva à direita atrás dos boxes no circuito de Jerez era feita flat out — de pé embaixo, sem usar os freios. O problema é que a curva era ladeada apenas por alguns metros de grama e um guard rail. Hoje em dia as áreas de escape são bem maiores e as barreiras não são mais tão perigosas, mas naquela época a preocupação com a segurança não era tão grande quanto hoje.
Sendo assim, o fato de Donnelly não ter morrido quando seu Lotus 102, que era movido por um V12 Lamborghini, saiu da pista e acertou o guard rail a 225 km/h, é realmente um milagre. O monoposto praticamente explodiu, com destroços voando por todos os lados, e até o cockpit partiu-se em pedaços. Donnelly contou ao site F1 Fanatic que as paredes do cockpit eram “finas como wafers” e que não havia o que fazer.
O impacto foi tão forte que rachou seu capacete, e um exame de raio-X mostrou que Donnelly tinha concussões nos pulmões e no cérebro, além de diversas fraturas nas pernas. Ele também perdeu muito sangue — quem o via caído no asfalto (depois de ser atirado no ar e voar por 40 metros) tinha todas as razões possíveis para acreditar que o piloto havia morrido.
Felizmente, isto não aconteceu: Donnelly foi transferido para um hospital em Sevilha, na Espanha e, mesmo depois de uma falha renal e de correr o risco de ter a perna direita amputada, sobreviveu quase sem sequelas. Ele manca um pouco por causa da perna, mas conseguiu voltar a pilotar em 2000.
Foi o Dr. Sid Watkins quem o trouxe de volta à vida. Em entrevista ao site The 42, Donnelly relatou como foi a manobra que salvou sua vida.
Levantaram meu visor e viram que eu estava asfixiado e minha pele havia adquirido uma suave coloração azul. Ele [o Dr. Sid] então colocou dois tubos no meu nariz, na minha garganta e nas minhas vias respiratórias. Foi assim que ele me ressuscitou. Então ele cortou as tiras do meu capacete e o removeu, mas todas estas coisas tinham que ser feitas bem devagar, com muito cuidado. Havia muito sangue porque um osso havia saído por cima do meu fêmur e estourado uma artéria. Ou seja, Sid não estava apenas tentando me estabilizar, mas também estancar o sangue.
Donnelly ficou em coma induzido, respirando por aparelhos, por semanas, e sofreu duas paradas cardíacas. É um milagre que ele tenha sobrevivido para voltar a correr — e conseguir pilotar o Lotus 102 novamente no Goodwood Festival of Speed de 2011. Foi um momento histórico.
Depois de nascer de novo, Donnelly segue pilotando: atualmente ele acelera um Infiniti Q50 no BTCC, o Campeonato Britânito de Carros de Turismo. Por sorte, dá para dizer que o automobilismo é bem mais seguro hoje do que há um quarto de século.
Enfim, o que queremos saber é o seguinte: qual foi o acidente não-fatal mais chocante que já aconteceu no automobilismo? O acidente de Donnelly foi nosso exemplo, mas existem vários outros. A caixa de comentários é toda sua!