Nos anos 70, duas coisas muito importantes aconteceram: nasceram os supercarros como conhecemos hoje e morreu Elvis Presley, encontrado morto em um banheiro de sua suíte. E a história de hoje é justamente sobre o Rei do Rock e seu supercarro, um De Tomaso Pantera — que foi baleado durante um acesso de fúria de seu dono.
Em 1970, a De Tomaso lançou o carro que é considerado sua obra prima: o Pantera. Apesar de fundada por um argentino — o ex-piloto Alejandro De Tomaso —, a empresa era sediada na Itália e usava motores americanos. No caso do Pantera, esse motor era um Ford V8 Cleveland de 5,75 litros e 266 cv acoplado a um transeixo ZF de 5 marchas.
Foi nos anos 70 que o termo “supercarro” começou a ser utilizado para definir “um carro muito caro, rápido ou potente com motor central-traseiro”. Naquela década aconteceu uma proliferação de esportivos que se encaixavam nestes padrões, adotando também o formato de cunha — vêm à mente logo de cara o Lamborghini Countach, Ferrari 308 GTB e conceitos como o Alfa Romeo Carabo.
Alfa Romeo Carabo, em uma foto publicitária típica da época
O Pantera, porém, era um caso à parte: um esforço conjunto entre a Ford e a De Tomaso, ele era oferecido nos EUA através da rede de concessionárias da marca americana — mais precisamente, pelas lojas que vendiam os Lincoln e Mercury. A Ford enxergava o Pantera como um híbrido de muscle car e esportivo europeu: o motor que equipava o Mustang (barato e confiável) movendo um carro que seguia a escola europeia de estilo, ainda que projetado por um americano de sobrenome escandinavo, Tom Tjaard. Sim, o Pantera era uma salada — das mais gostosas, diga-se.
O Pantera do Rei
O caso é que um milionário, porém decadente Elvis Presley queria fazer um agrado para sua namorada Linda Thompson e, em 1971, foi até uma concessionária Lincoln Mercury comprar um Pantera amarelo. Linda e Elvis se deram muito bem durante algum tempo — além de se amarem bastante, ela tentava compreender seus momentos difíceis, dividia com ele suas paixões artísticas e o apoiava em tudo. Os dois foram morar juntos em 1972 mas, cerca de três anos e meio depois, a situação havia passado de um mar de rosas para insustentável, e os dois se separaram.
Elvis pagou, na época, US$ 2.400 pelo carro. Era bastante dinheiro e, com o fim do relacionamento, o Rei quis o Pantera de volta. E ele conseguiu — depois de uma briga com Linda.
Elvis Presley andava armado e, depois de uma briga com Linda, sacou seu revólver — uma Walther PPK semiautomática folheada a ouro — e deu três tiros… no carro. O Pantera era um carro de componentes americanos projetado por um americano, porém era construído em Modena, na Itália — e resolveu se comportar como os carros italianos de sua época: não pegou de primeira. A culpa era de uma bateria arriada.
Frustrado por não poder ir embora da casa de Linda deixando para trás um rastro de borracha no chão e uma nuvem de fumaça branca de pneu — dizem que era este seu plano —, Elvis descontou sua ira no pobre De Tomaso. Um deles acertou a porta do motorista e os outros dois pegaram no volante de Ford Capri que os Pantera vendidos nos EUA usavam.
De cuca mais fresca, Elvis trocou a bateria (ou pediu que um dos membros da Memphis Mafia o fizesse) e o carro ligou.
E o que aconteceu depois?
Pouco se sabe sobre a trajetória do carro, que hoje se encontra no Petersen Automotive Museum sob propriedade do dono do museu, Robert Petersen. Dizem que seu dono anterior o comprou por US$ 1 milhão e consertou a porta, deixando apenas as marcas no volante como recordação — e é deste jeito que o carro está exposto no museu, sem nenhum tipo de reforma além do que foi feito para tirar a marca de bala da porta.
O vídeo abaixo, publicado pelo museu Petersen, mostra o Pantera de Elvis durante um evento em 2009 — em muito boa forma, diga-se. Na ocasião, ele estava sendo ligado pela primeira vez depois de oito anos parado. Agradeça ao V8 Ford por isso!
[ Fotos: Pantera International ]